Há que admitir que os educandários para menores infratores são prisões, não escolas de ressocialização
Rio - Foi apreendido ontem, acusado de assaltar turistas estrangeiros, o
rapaz preso a um poste no Flamengo, então alvo de um estúpido ‘justiçamento’.
Esse jovem conta muito do Estado em que vivemos. Já havia escancarado um ódio
insustentável e evidenciado série de falhas do poder público. Tais deficiências
foram revisadas e ampliadas com esta nova internação. Mais importante que
entender o comportamento dos que o despiram e o acorrentaram no meio da rua, é
exigir dos governantes ações estruturantes que brequem a degradação, hoje
infelizmente quase irreversível, dos menores de rua.
Há que admitir que os educandários para menores infratores são prisões, não
escolas de ressocialização. Observa-se em alguns centros a estrutura cruel da
maioria dos presídios: nivelam-se todos por baixo, misturando criminosos e
infratores, numa convivência não raro explosiva, que fatalmente descamba para
conflitos ou agressões. O acolhimento espontâneo também é lamentável e segura
jovens e adultos por poucas horas. A Justiça pouco pode fazer com os menores —
ao contrário do que pregam ‘justiceiros’ e sua cartilha de barbárie.
Aprofundando-se neste cenário, chega-se à conclusão de que a Educação pública
é insuficiente. Parece haver mais empenho em explorá-la politicamente do que
torná-la universal e inclusiva, dentro dos padrões mínimos de qualidade. Basta a
família estar ligeiramente desestruturada — como parece ser o caso do
acorrentado — para que tudo desabe, porque o Estado dificilmente preencherá as
lacunas.
E tudo fica muito mais difícil com a passividade da sociedade, mais
preocupada em defender-se, pouco disposta a acolher ou a prestar trabalhos
voluntários. Esquecem a solidariedade como valor humano e dão margem ou até voz
a extremismos. Acham que extermínio é a saída mais fácil. Não é. Apenas abrevia
o caminho para pulverizar valores democráticos.
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