sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Crônica do Dia - Pensei que era uma preta qualquer - Elisa Lucinda

O tema Racismo esta na ordem do dia. Essas fatos que acontecem e que ganham a grande mídia, como o que sucedeu com o goleiro Aranha do Santos, na última quinta, quando foi xingado por um grupo de torcedores do Grêmio, são importantes porque acendem a discussão e quem sabe amadurecem a conscientização desses gestos de intolerância racial, pra dizer o mínimo que desde pequeninho é incutido nas pessoas. Aqui vai uma crônica minha sobre o assunto:


“Pensei que era uma preta qualquer.”





Passou 13 de maio e eu fiquei pensando nessa mancha, nessa barbárie, nesse holocausto que aconteceu com o povo negro e que se mistura à história da construção desse país. De todos os problemas idiossincráticos da nação, de todos os traços emocionalmente comprometidos do cidadão brasileiro, de todas as amarras que costumam permear o pensamento mais atrasado da evolução humana, considero o preconceito racial o mais torpe e o mais cruel. Está na base da nossa educação, está na palavra do professor, na escolha de quem vai ser a princesinha na festa da escola, de quem vai ser o chefe, a miss, o padre. Está no critério do juiz, nas ações policiais, na rua, nos escritórios, nos hospitais. Em todo canto o povo negro é olhado de revés. Como se fosse uma gente de segunda categoria. Referenciada nos princípios hitlerianos, a estética exemplar oficial considera feio o nariz negro, ruim o seu cabelo, suja a sua cor. Lástima. Sei do que estou falando, conheço o tema, tenho vários grupos sociais e encontro no meu meio social, na minha classe artística, no meu bairro muito mais gente branca do que gente negra. É preciso cautela e reflexão e coragem para abordar esse tema porque de alguma maneira o preconceito racial e a discriminação continuam sendo ensinados e perpetuados sem que percebamos. A escravidão foi traumática, a tortura era o método principal usada abundantemente por 4 séculos. Nenhum país com uma história dessa pode seguir em frente sem um tratamento, sem sentar no divã. O negro era vendido a metro! Então, se uma peça de negro, como um tecido, fosse de 1,80m por exemplo, comprava-se um negro de 1,70 m e podia- se completar com uma criança de 20 centímetros. Talvez devêssemos trazer essa história para o cinema, o Brasil precisa assistir ao filme da sua vida assim como sabemos tanto sobre a guerra do Vietnã e sobre os campos de concentração onde foram mortos os judeus. Precisamos botar essa história na tela. Falta-nos Espelho, não é a toa que o nosso querido e inteligente Lázaro Ramos tem um programa no Canal Brasil com esse nome. Olhemos as nossas mídias, as bancas de jornal... em todas as searas, a maioria avassaladora dos que chegam “lá” é branca. Poderia ser um acaso num país multirracial? Poderia, mas não é. Funda-se isso. Criamos essa realidade à medida que nosso contingente de pobres no Brasil se mistura também com os números de negros. Existem muitos negros, milhares que vivem bem, é claro, mas o que digo é que a maioria dos pobres é negra e se eles não têm escola boa, saneamento básico, o ensino de uma arte para que se traduza e amplie o seu olhar sobre o seu tempo, ele vai continuar um escravo urbano, condenado ao subemprego, sem a ascensão do tamanho do seu sonho, sem respeito e sem contribuir em outras esferas para o avanço da sociedade. Isso está tão engendrado em nosso comportamento que eu vejo crianças que se sentem patroas dos filhos das empregadas. Errado. Criança não é patrão e nem empregado de ninguém. O fato do meu pai ser patrão da doméstica não faz do filho dela meu empregado também. Repara bem como isso acontece a toda hora e nem se comenta. Um amigo meu adotou três filhos, um gay, um negro e um com Síndrome de Down. Preocupou-se em especial com o Down que é uma formação que costuma provocar rejeição dos outros. A estranheza foi perceber nos parques, nos teatros, nos aniversários, nos lugares onde leva as crianças, que o campeão do bullying era o negro. Aliás, toda criança negra e brasileira sabe o que é bullying, mas nunca se chamou de bullying o eterno caçoar aos negros. Estou incomodando? Se estou, não é culpa minha, é o que acontece quando levantamos o tapete e não há como fugir do acúmulo do que ali está entulhado sistematicamente. Continuamos bradando que vivemos numa democracia racial mesmo sabendo que da totalidade dos jovens que morrem no Brasil, 80 % são negros e de periferia. Pertencem a categoria da vida dos que não valem. Um dia perguntaram ao rapper Mano Brown: “mas como saber, num país tão misturado, quem é negro e quem não é? E ele respondeu: “a polícia sempre sabe.” Estou feliz com as bananas nos gramados. Trata-se de uma manifestação explícita de racismo, esse sórdido pensamento brasileiro que precisa sair do armário, isso, exponha-se. O racismo no futebol vem revelar a verdade que querem esconder, escamotear: não é econômico, como querem muitos, porque quem tem recebido banana ganha milhões. O que está acontecendo? Sinto-me protegida porque sou artista e o “status” de uma pessoa que muitos conhecem pela arte dá uma protegida na gente e diminui o impacto. Mas sou flagrantemente negra. E quando, de vez em quando, acontece um “escorregão” da parte do discriminador, ele se corrige e diz: “ai, eu não sabia que era você.” Ou seja, coitada da minha prima, dos meus amigos negros e vizinhos, coitado do país que é anônimo. Se a pessoa acabasse de falar, ela diria: “pensei que era uma preta qualquer”, mas ela não diz. Sorri, ajuda a orfanatos, ganha status por sua caridade, vai a igreja aos domingos, tem nojo da empregada dela. Acha que sua família é mais importante do que aquele quilombo, que mora na favela e cuja rainha desce o morro todo o dia para fazer a sua comida, arrumar a casa, varrer. 13 de maio, levante o tapete.
Elisa Lucinda

10 comentários:

  1. O preconceito racial não pode ser dissociado da condição econômica e aparência, apesar de existirem exceções.
    A aparência logo causa um efeito negativo, as pessoas nem se dão ao trabalho de interagir com o outro para observar os valores existentes no próximo. A cor da pele é vista como um termômetro que torna o outro pejorativo no que diz respeito aos fatores socioeconômicos e intelectuais. Se for negro, não é tão capaz ou inteligente ou por ventura não tem condições econômicas suficientes. Tudo e julgado pela cor.
    Com tanto preconceito, o negro se vê obrigado a ser perfeccionista, isso se faz necessário para provar que e capaz tanto quanto o outro a sua volta. O correto seria suas qualidades não se medirem pela sua cor, mas pelo o que pode realizar.
    Tantos exemplos já foram vistos através do esporte, economia, política, comunicação, e ainda assim nossa sociedade continua a praticar este tipo de preconceito. Somos culturalmente mistos e por isso devemos ter uma mente vasta no que diz respeito ao próximo. O meu valor é bem visto quando valorizo aquele que esta ao meu lado, pois fazemos parte de uma sociedade, um depende do outro, e cada um tem seu valor individualmente.

    AMANDA MONTEIRO - 801

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  2. RACISMO
    Muito discutido atualmente é a questão da mistura de raças, ou melhor, da mistura de cores, pois raça se referimos a animais, e independentemente da cor que você for, nunca será um animal, pois a nação brasileira é formada por um povo distinto e rico em culturas diferentes, de povos negros e brancos. A maioria não pensa a mesma coisa, acham que é uma vergonha sermos de origem, por exemplo, africana ou indígena, pois a cor da pele é preta, uma vergonha para a sociedade, como muitos se referem aos negros.

    Cor negra ou cor branca não há diferença alguma, todos somos da mesma linhagem, da época da escravidão, do descobrimento do Brasil, e todos vivemos em mesmas terras. Hoje em dia é estranho quando falamos do novo ano de 2014, pois parece que novo não está para nada, dos tempos passados para o atual a forma de pensar e de agir da população é a mesma, em relação ao negro. Temos o exemplo do goleiro do Grêmio, um famoso, foi zoado em pleno jogo pela questão de sua cor, também tem a presença no dia a dia, que muitos não chegam perto ao menos conversam com negros, a participação na qualquer profissão também é muito pouca e a relação do salário é mais baixo que a de um branco, pela questão ao racismo. Temos um tempo evoluído, onde deveríamos ter uma mente evoluída em que esses pensamentos e atitudes já deveriam ter acabado.

    O que não consigo entender disso tudo são as perguntas que faço pra eu mesma. Por que as pessoas pensam desse jeito? Por que ainda há essas atitudes? Qual é a diferença de um negro para um branco?... Todos nós temos a mesma história correndo em nossas veias, e ninguém pode mudar isso. Muitos mitos, lendas, costumes e comidas que são presentes hoje no nosso dia a dia foram de origem negra, como a feijoada que nenhum carioca resiste... Se tudo isso é importante para nós, por que então há esse racismo tão grande? Quem é da cor negra tem que ter orgulho, pois muitos lutaram para viverem os dias atuais, com direitos e liberdade, mas muitos continuam lutando para serem felizes no respeito, na igualdade de ser cidadão negro. Lutando pelo justo e pela felicidade, negra sou e negra sempre serei.

    Laura Lyssa 701.

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  3. A crônica escrita por Elisa Lucinda fala, claramente, sobre um tema muito abordado nos dias de hoje, o racismo. O racismo brasileiro que se tornou algo comum hoje em dia, uma mancha deixada pelo trauma da escravidão, que durou 4 séculos. A autora diz que um país com uma história dessas só irá conseguir seguir em frente com um tratamento. Ela também fala que precisamos de um Espelho, precisamos colocar esse marco no cinema para que todos o conheçam. Para que entendam que ao discriminar uma pessoa pela cor de sua pele, estão seguindo uma idéia torpe e cruel, deixada pelos povos da colônia há anos e anos atrás. Muitas pessoas seguem essa idéia sem ao menos saber o motivo, pois em alguns lugares está " na moda " ser racista. É claro que nem sempre este é o motivo. Algumas vezes, a pessoa está acostumada com a idéia do negro ser pobre, e tem medo de que ele à assalte ou faça algo de ruim. Isso porque, como Lucinda diz, a maioria da população brasileira pobre é negra. Algo também deixado pelo trauma da escravidão, pois ao acabar, o ex escravo não tinha onde morar. Ele então se instalava no que hoje são as favelas, porque, mesmo com o fim da escravidão, o negro ainda era discriminado e sofria dificuldades para encontrar empregos.
    Por fim, a autora do texto diz que se sente protegida desses casos, pois está na classe dos artistas e que o status dessa clase diminui um pouco o impacto. Mas que vez ou outra alguém comete um "escorregão", e ao perceber à quem se dirigiu, pede desculpas, como se dissesse "Pensei que fosse só uma preta qualquer"


    Aluno : Nickolas
    Turma : 801

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  4. Hoje li esta cronica e fui tomar um banho, geralmente me disperso totalmente da realidade debaixo do chuveiro, mas desta vez nao foi assim. Nao sei por que, mas esse texto me fez refletir de verdade sobre os conceitos preconcebidos e a razao dos mesmos. Eu tenho amigos negros e nao entendo como alguem pode simplesmente dizer que nao gostar de NENHUM negro, isso e inconcebivel!
    Racismo, essa palavra ja me incomoda talvez eu seja ''fresco'' demais com este topico, mas a partir de que esta palavra e falada impoe-se uma superioridade. A palavra racismo faz alusao a raças e nossa raça e uma, que seria a humana. Negros, brancos, mulatos, amarelos, vermelhos, todos humanos e por isso a tal palavra (racismo) seria errada ao meu ponto de vista.
    Como brasileiros somos um pouco de tudo e por isso o preconceito e algo inaceitavel para nos enquanto pessoas, somos africanos, portugueses, britanicos, chineses, japoneses, somos brasileiros.Esta cronica fala apenas a verdade, tudo que muitos sofrem apenas por uma quantidade diferencial de melanina na pele...

    Enrico - 901

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  5. Todos tem visto ou lido sobre os horrores que podem acontecer quando aumentam os desentendimentos entre povos de diferentes origens.
    É muito difícil, para alguém criado achando que a sua cor, crença ou cultura é melhor do que a dos outros, aceitar e respeitar essas pessoas. Seria ainda mais difícil aceitar alguém de quem você tem ressentimento por saber que o povo de tal pessoa causou anos ou até séculos de sofrimento, humilhação, abuso, exploração e perseguição ao seu povo.
    Nenhuma lei consegue, de uma hora para a outra, mudar a atitude de alguém que sofreu, perdeu sua casa ou terra, sua família, ou foi vítima de violência ou crueldade. Mesmo que a pessoa quisesse amar e aceitar os outros, seria difícil perder velhos hábitos, e por mais força de vontade que tenha, não vai conseguir superar instantaneamente uma mágoa ou ódio profundo.
    Contudo, podemos definir uma pessoa negra a partir de critérios que indicam que o negro, na atualidade, não é somente aquele de pele escura, mas aqueles que trazem os “signos” da pobreza. Também podemos destacar que entendemos por negro a pessoa de pele escura, o não branco. Assim, revelamos que ao definir alguém ou se definir como negro, ainda é um desafio real que muitos ainda não superaram.

    Ana Carolina Gomes dos Santos
    Turma : 802

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  6. O fato ocorrido com os torcedores do Grêmio e o goleiro Aranha dos Santos é mais um gesto de intolerância racial muito comum no nosso país.
    Não tenho dúvida que o preconceito racial é o pior comportamento manifestado não só pelo cidadão brasileiro ou em qualquer parte do mundo, infelizmente visto em vários lugares de nossa sociedade, tais como escolas, hospitais, esportes, na justiça e na política.
    O sofrimento traumático no período da escravidão com o passar dos séculos não mudou muito. Existem negros que tem uma boa qualidade de vida, porém a maioria vive em condições lamentáveis e sem esperança. Sofrem com bullyng e com a violência social pois a maioria dos jovens que morrem nesse país é negra.
    Neste país os negros que tem boas condições de vida são tratados aparentemente bem, afinal de contas eles não são uns negros quaisquer. A vida continua, a falsidade também.

    Davi Amaral Pereira-702

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  7. Na maioria das vezes, tratamos o negros como um ser inferior, sem importância, sem direitos. mas já chegou a hora disso mudar para melhor.
    Desde que me conheço por gente sei que os negros vem sofrendo muito racismo ao longo dos anos e sempre achei isso muito errado, até porque nunca vi uma diferença deles para nós a não ser sua cor de pele.
    Já passou da hora do racismo e preconceito parrarem! As pessoas não veem que isso é errado? É por isso que o Brasil não evolui!

    Luisa Heinle Kuhner 702

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  8. Todos nós sabemos que não só como hoje em dia mas também antigamente o preconceito, racismo e o bullying está presente em diversos lugares, como nas escolas, esportes, em locais de trabalho e principalmente nas ruas. Na minha opinião isso só vem piorando cada vez mais, as pessoas não se conscientizam do que estão fazendo, elas não param pra pensar que já estamos no século XXI e pouca coisa mudou, devem entender que nós somos da mesma forma e que chamar jogadores de macacos não vai adiantar em nada, chamar a pessoa de negro não vai levar a lugar nenhum, dizer que a pessoa é gorda não vai mudar nada em sua vida e sim só vai mudar a vida dela, só vai deixar a vida dela horrível. Tem gente que é outro caso, não liga de ser chamado de negro, não se importa quando falam que seu cabelo é crespo e feio e sim tem orgulho de sua cor, acho isso muito bonito. Tem muita gente que só de olhar para a pessoa e vê que ela não tem a mesma cor da sua fala que ela é feia, horrorosa e que deve ser chata e nojenta, para mim cor não muda o jeito de ser da pessoa, tudo depende do caráter, da educação, do carisma e se é negra, branca, magrinha, cheinha, alta, baixa não importa. Somos todos feitos de carne e osso, devemos amar e respeitar cada um do jeito que é.

    Jullya Beckman / 701

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  9. Sempre que um branco se encontra com um negro, na maioria das vezes é tipo um choque. Surge do branco o olhar de lado, a cara torta. Por exemplo, em um mercado, quando o negro entra as pessoas já ficam com medo de que ele roube algo, sem pensar que o branco também pode fazer isso. As pessoas racistas acham que todo negro é terrível, mal caráter, que ele não pode ter um coração bom. A minha mãe tem uma amiga negra, a quem eu gosto muito, inclusive. Ela é super gente boa, educada, entra na minha casa na hora que ela quiser. Através dela (primeira pessoa negra com quem eu tive contato) pude perceber que não sou racista e que não tem porquê alguém ser antes de conhecer tal pessoa. Ser racista agora é moda! A pessoa olhou pro negro, não gostou de sua aparência, viu o outro branco sendo racista, virou racista também! 
    Jade Tavares- 701

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  10. O grupo dos negros sofreu muito desde a colonização dos portugueses na Africa, eles foram simplesmente rebaixados em um mundo que, pela evolução dos seres humanos, deveria não ser mais existente. Mas as pessoas andam olhando muito para o passado, assim fazendo com que o preconceito nunca acabe. Coitados aqueles que sempre foram injustiçados somente por serem de cor diferente das dos brancos, injustiçados pelo fato de terem cabelo crespo, sendo que eu mesmo acho lindo, sendo injustiçados pelo fato de serem o que são. Mas essas pessoas tem que ser mais duras com o preconceito, não dando confiança para aqueles que a chamam de piores pelo fato de serem diferentes.
    Se todo mundo fizesse a sua parte, o mundo já teria evoluído muito até agora, não precisaríamos ficar lutando pelos direitos iguais, e sim festejando por estes. Se querem um mundo melhor, comece com os direitos iguais, e verá a diferença.
    Anna Carolina Maia 701

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