quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Lucíola - Outros olhares

Amor físico versus amor espiritual



A obra de José de Alencar pode ser dividida em quatro grupos. O primeiro deles, os romances indianistas, produziu grande parte das maiores obras, não só de sua carreira, como da literatura brasileira. Dentre elas, podemos citar Iracema, O Guarani e Ubirajara.


Já no segundo grupo, o dos romances históricos, encontram-se obras como Minas de Prata e Guerra dos Mascates. O terceiro grupo nasce da vivência nas grandes cidades e da luta entre o espírito conterrâneo e a invasão estrangeira: são os chamados romances urbanos de Alencar. Dentre eles, podemos citar Lucíola, Diva e A pata da Gazela. 

Por fim, temos o quarto grupo de romances do escritor: os romances regionalistas. Dentre as obras deste período, podemos citar O Gaúcho, O Tronco do Ipê e Til. Esta nova fase na obra de José de Alencar nasce da busca de uma nova identidade nacional. Após a independência política do Brasil, os escritores românticos param de buscar na figura idealizada do índio o modelo de brasilidade. Agora, o “ser brasileiro” não se encontra mais na floresta, entre rios e animais selvagens, mas sim nas cantigas do povo, nas fazendas e até mesmo na corte.

Nos romances urbanos, José de Alencar procurou registrar os padrões de comportamento e valores da sociedade que estava em transformação no período do Segundo Império. Alencar percebeu que a sociedade era movida principalmente pelo dinheiro e estava preocupada com o status social que o poder aquisitivo dava. Nas obras dessa fase, há um conflito entre o indivíduo e esta sociedade.

No caso de Lucíola, porém, este conflito é realçado, uma vez que estes valores e preconceitos estão enraizados nos próprios protagonistas. Assim, o conflito não se dá somente entre o indivíduo e a sociedade, mas também dentro do próprio indivíduo. Porém, para que haja uma redenção da personagem conflituosa (no caso, Lúcia), tem que haver castigo e autopunição, pois ela mesma afirma os preconceitos contra o grupo social ao qual pertence (o das cortesãs). 

Esse moralismo também está presente na figura de Paulo (amor de Lúcia), e isto fica explicitado logo no início do romance: por haver uma jovem presente na sala, ele não conta sua história de amor com Lúcia para G.M. pessoalmente e resolve faze-lo por carta. Além disso, Paulo aparece como uma figura bipartida dentro do romance: um seria o Paulo-personagem, e outro seria o Paulo-narrador. Ao contar sua história, o Paulo-narrador não o faz de modo a repensar os fatos ocorridos de uma posição superior, ou seja, com os olhos do presente. Ao contrário, ele narra com os olhos do Paulo-personagem, isto é, conta sua história como se ela estivesse acontecendo naquele momento, com as emoções e sentimentos vividos durante os fatos narrados. Por conta disso, não há um distanciamento e nem uma postura autocrítica por parte do narrador. Assim, a responsabilidade sobre o que é narrado (visão sobre os fatos, as pessoas, etc.) recai inteiramente em Paulo, que é uma personagem completamente incapaz perante Lúcia.

Essa incapacidade de Paulo perante Lúcia decorre da dissociação entre o amor físico e o amor espiritual, que é a dicotomia sobre a qual o romance é estruturado. Esse par de opostos é fundamentado em uma concepção romântica de amor e gera uma série de preconceitos dentro de uma sociedade patriarcal, uma vez que o amor espiritual é aceito perante a sociedade, ao contrário do amor físico, que é condenado. Assim, a incompreensão entre Paulo e Lúcia ocorre porque em um primeiro momento a relação deles é fundamentada em um amor físico, carnal, e isso se torna um obstáculo para uma união plena entre os dois.

Assim, ao longo do romance haverá uma transformação em Paulo e Lúcia para que os dois possam consumar de fato seu amor. Por um lado, Paulo irá perder um pouco de sua inocência e irá cometer erros levado pelo orgulho – sendo que irá reconhecer suas falhas e pedir perdão. Por sua vez, Lúcia será “purificada”, deixando de ser a cortesã para redescobrir a adolescente virgem e pura que fora um dia. A medida em que estas transformações vão ocorrendo, Lúcia irá negar outros homens e passará a se dedicar apenas a Paulo; porém, quando ela se purifica totalmente e volta a ser a Maria da Glória, Lúcia irá se abster totalmente de contato físico e irá negar até a Paulo um simples beijo.

Porém, Lúcia ainda não pode ser completamente perdoada, pois a sociedade não esquece, e ela sofre uma autopunição: Lúcia morre por causa do filho que ela teve com Paulo, fruto de um amor físico proibido – uma vez que eles ainda não haviam atingido o “amor espiritual” quando o conceberam. Assim, só através da aniquilação do corpo pecaminoso é que Paulo e Lúcia puderam se unir eternamente e a redenção de Lúcia pode ser alcançada.

Foco narrativo
"Lucíola" é narrado em primeira pessoa, possuindo portanto um foco narrativo mais limitado. Assim, a história é vista a partir da perspectiva particular do indivíduo (no caso, Paulo), que participa dos acontecimentos ali narrados e que está sujeito a ver esses mesmos acontecimentos de acordo com a ótica que a sociedade impõe.

Comentário do professor
O prof. João Amalio Ribas (Joãozinho), do Colégio Acesso de Curitiba (PR), frisa que, embora "Lucíola" seja um dos mais importantes romances da estética romântica, essa obra convive de forma problemática com a estética da qual faz parte. Em primeiro lugar, isso é porque a heroína de Lucíola é uma cortesã, o que foge da idealização romântica de heroína. Em segundo lugar, há nessa obra um retrato ácido/crítico da sociedade carioca do Segundo Império, não entrando em consonância com a literatura de “diversão” dessa época, explica o prof. Joãozinho.

Porém, "Lucíola" ainda deve ser considerada uma obra romântica porque a heroína Lúcia ainda é uma personagem idealizada. Ao longo da narrativa, ela vai se transformando de mulher fatal e demoníaca em uma mulher angelical, doce, insegura e apaixonada, o que corresponde ao ideal romântico da heroína. Essas duas facetas da mulher, a mulher anjo versus a mulher demônio, é explicitada também na duplicidade nominal da personagem: há Lúcia, que exala sensualidade e é a mulher fatal; e Maria da Glória, que representa a mulher sensível, meiga, frágil e corresponde ao estereótipo romântico.

Além disso, o prof. Joãozinho lembra que o enredo de Lucíola é muito parecido com o de A dama das camélias, do escritor francês Alexandre Dumas. José de Alencar deixa essa referência muito clara na obra fazendo com que a personagem Lúcia leia A dama das camélias dentro do romance Lucíola. Conforme explica o prof. Joãozinho, a intensão do autor é estabelecer uma estética genuinamente brasileira, mas que esteja equiparada à estética literária europeia.

Outro ponto interessante ao qual deve-se estar atento é que há um “fingimento de realidade”: a história narrada em Lucíola teria de fato acontecido e teria sido transmitida ao escritor da obra (no caso a Sra. G. M.) através de cartas. Por fim, o prof. Joãozinho frisa que o título do livro também é um ponto importante e que merece atenção. Quem deu esse título à obra seria a Sra. G.M. e ela explica o porquê de “Lucíola” no prólogo do livro: “Lucíola” seria um inseto que vive na escuridão à beira dos charcos, e que brilha com uma luz muito intensa. Assim, esse inseto seria como Lúcia, que vive dentro da escuridão, mas que conserva dentro de si uma alma pura.

5 comentários:

  1. Este comentário foi um dos mais construtivos e bem implementados dos outros que eu já li no blog do LiterAtivo, em relação a esta obra de Alencar uma das mais de sua ordem de escrituras mais famosa, os romances, Lucíola e um livro de muitos detalhes e desfeches impressionantes.
    Este texto mostra também o lado por parte das cortinas ou seja o lado de montagem do livro o que Alencar pensou em despertar em seus leitores ao ler a obra, possuindo essas informações o texto transfere a nos um conhecimento dos pequenos detalhes do livro tal como o motivo do livro se chamar Lucíola.
    Dentro dessa obra se deve prestar atenção aos pequenos detalhes, pois se você se atentar os desfeches da história ficarão até mais evidentes e a ideia geral do livro será adquirida com mais facilidade
    Os tempos passaram e o tempo de lançamento dessa escritura também passou mas mesmo com as mudanças da literatura brasileira esse livro se mantem vivo tanto na literatura do Brasil quanto no modo de viver e de pensar do povo brasileiro, não digo que a visão do povo diante de Lucíola não mudou, claro que sim mas de uma forma digamos boa pois além de causar muita polemica na época as pessoas e críticos questionaram a heroína ser uma prostituta e outros detalhes, mas hoje mesmo que não seja por completa a visão o Brasil mudou diante este quadro, acredito eu tanto ainda mais beleza a obra.
    Acho que a intenção de Alencar era ter mesmo uma polemicas tanto positivas quantos negativas em cima de seu trabalho pois nenhum escritor de grande fama teve um livro de enorme repercussão apresentando uma história em que tinha uma princesa pura e linda onde se casou com um belo príncipe e foi feliz para sempre em seu perfeito castelo, Lucíola veio para mexer com essa estrutura idealista chamando atenção dos críticos e leitores tanto positiva quanto negativa.
    Aluno: Wenderson Fernandes Rangel
    Turma: 901

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  2. Este comentário foi um dos mais construtivos e bem implementados dos outros que eu já li no blog do LiterAtivo, em relação a esta obra de Alencar uma das mais de sua ordem de escrituras mais famosa, os romances, Lucíola e um livro de muitos detalhes e desfeches impressionantes.
    Este texto mostra também o lado por parte das cortinas ou seja o lado de montagem do livro o que Alencar pensou em despertar em seus leitores ao ler a obra, possuindo essas informações o texto transfere a nos um conhecimento dos pequenos detalhes do livro tal como o motivo do livro se chamar Lucíola.
    Dentro dessa obra se deve prestar atenção aos pequenos detalhes, pois se você se atentar os desfeches da história ficarão até mais evidentes e a ideia geral do livro será adquirida com mais facilidade
    Os tempos passaram e o tempo de lançamento dessa escritura também passou mas mesmo com as mudanças da literatura brasileira esse livro se mantem vivo tanto na literatura do Brasil quanto no modo de viver e de pensar do povo brasileiro, não digo que a visão do povo diante de Lucíola não mudou, claro que sim mas de uma forma digamos boa pois além de causar muita polemica na época as pessoas e críticos questionaram a heroína ser uma prostituta e outros detalhes, mas hoje mesmo que não seja por completa a visão o Brasil mudou diante este quadro, acredito eu tanto ainda mais beleza a obra.
    Acho que a intenção de Alencar era ter mesmo uma polemicas tanto positivas quantos negativas em cima de seu trabalho pois nenhum escritor de grande fama teve um livro de enorme repercussão apresentando uma história em que tinha uma princesa pura e linda onde se casou com um belo príncipe e foi feliz para sempre em seu perfeito castelo, Lucíola veio para mexer com essa estrutura idealista chamando atenção dos críticos e leitores tanto positiva quanto negativa.
    Aluno: Wenderson F. R.
    Turma: 901

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  3. De acordo texto,podemos ver os muitos que as pessoas tem sobre um dos melhores livros de José de Alencar,um dos maiores escritores da literatura brasileira e autor de vários livros que são muito criticados até hoje,que um deles é Lucíola.Esse texto tem mostrado muita polêmica até os dias de hoje, por mostrar a história de uma pessoa que era uma coisa que não era tão aceita na sociedade da época e que não é tão aceita hoje em dia também,as prostitutas ou as cortesãs.Ainda por cima esse texto mostra o “por trás das câmeras” desse livro,ou seja,como esse foi produzido e os pequenos detalhes do mesmo,até mesmo porque o livro se chama “Lucíola”. Esse foi muito criticado e essas criticas nos mostram como a obra foi vista naquela época e como é visto hoje em dia.
    Podemos dizer que José de Alencar foi um dos mais geniais autores da literatura brasileira,pois mesmo numa sociedade racista e preconceituosa,ele começa a criar obras sobre assuntos que não são usuais naquela época,como prostituição,no caso de Lucíola.A inteligência dele não parava por ai.Ainda por cima,fazia que as mensagens passadas nas suas obras fossem disfarçadas para que só as pessoas que se concentrassem pudesse perceber a mensagem que realmente estava sendo passada,por meio de comparações e relações entre o contexto e o momento em que se encontra o pais.Alencar criticava desde as classes sociais até o próprio imperador brasileiro, Dom Pedro II, falando mal de muitas coisas de seu governo e de sua própria pessoa. A obra Lucíola tem como base a vida de uma prostituta,que não era uma coisa normal na época,mas sim uma aberração e isso nos traz a ideia que Alencar fez esse e muitos outros livros com intenção de serem criticados,tanto positiva quanto negativamente,ou seja,queria que as pessoas vissem aquela parte da sociedade e mudar seus pensamentos com histórias criativas.
    Enfim, podemos dizer que Luciola e muitas outras obras de José de Alencar foram uma transição para a literatura moderna,fazendo que as pessoas pensassem diferente naquela época.
    Aluno: Guilherme Oliveira 901

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  4. É incrível como essa obra foi produzida a tanto tempo, mas ainda é discutida e argumentada sobre sua história e o impacto que ela fez sobre a sociedade da época, e também sobre a sociedade atual. Na verdade, basicamente todas as obras de José de Alencar são relembradas e discutidas até hoje. Mas as vezes eu me pergunto se isso é por causa que foram obras realmente geniais ou é por que não existem mais grandes gênios literarios!
    Isso tudo nos faz voltar a aquela velha conversa de que "o cultivo da leitura, o cultivo dos livros, não é nada forte hoje em dia". Lamentavelmente essa frase é uma verdade, faz muito tempo que ouvimos ela, e nunca fazemos nada para mudar isso. Isso é tão verdade que nossos próprios parentes, que deveriam ser as pessoas que incentivariam isso, em alguns casos até pioram a situação. Se você tiver por volta de 15 anos para baixo e estiver em uma reunião familiar, tente pegar um livro e começar a ler enquanto todos estão conversando. As pessoas vão começar a pensar: "nossa, isso não é normal... Ele/ela deve estar com depressão" ou "você deveria aproveitar o bom da vida e não ficar perdendo tempo com besteira" ou até mesmo "coitado/a, não vai ser feliz". Acredite, isso já aconteceu comigo. Isso é para ver como nossa sociedade é tão "culta".
    Mas com essas discussões sobre obras antigas você adquiri mas conhecimento e as interpreta melhor, é bem mais fácil perceber as ironias críticas que o escritor utilizou para criticar os valores de uma sociedade machista, racista, ultra-preconceituosa, enfim, conservadora.
    As vezes eu acho errado considerar o patriarca da literatura brasileira como um conservador, já que ele criticava pelas suas obras os ideais exatamente conservadores. Acontece que ele foi deputado e ministro da justiça na época do império, também seu pai era pastor. Mas, mesmo assim, isso não desqualifica o quanto sua obra é genial e importante para o Brasil.
    Aluno: Bruno de Lorenzo
    901

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  5. O livro lucíola, foi uma das maiores obras de José de Alencar, e foi uma das mais criticada de todas. Apenas por que fala da vida de uma prostituta, uma coisa que não era um assunto muito comum naquela época, e ainda não é comum hoje em dia. Como diz no texto essa peça é realmente muito parecida com a obra Dama das Camélias, que é de um autor estrangeiro. Mas, se as duas peças eram praticamente iguais, por que luicíola foi cancelada e Dama das Camélias não? Na minha opinião as pessoas não dão o menor valor pra coisas do Brasil, apenas para o que vem de fora, e isso acontece até hoje. Só porque Dama das Camélias era de um autor estrangeiro podia ser representada, mas agora, a peça de um autor brasileiro, que é praticamente igual a outra não pode ser só por que é de um foi escrita no Brasil, e fala de uma cortesã brasileira.
    Isso acontece até hoje, as pessoas quase não dão valor para o que vem do Brasil, apenas para o que vem de fora.

    Mariana Vita~802

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