sexta-feira, 9 de março de 2012

Tá na Hora do Poeta - Vou-me embora pra Pasárgada - Manuel Bandeira

Vou-me Embora pra Pasárgada 


Manuel Bandeira 


Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 

Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive 

E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d'água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada 

Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar 

E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
— Lá sou amigo do rei — 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada.




 Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", 
Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Um comentário:

  1. Amei o vídeo!! Não o conhecia. Uma proposta interessante de trazer o poeta para mais perto de nós. beijos!

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