domingo, 4 de março de 2012

Te Contei, não ? - Em busca de um novo feitiço

Depois de Harry Potter, Daniel Radcliffe tenta se firmar como ator adulto 



Daniel Radcliffe poderia viver décadas sem se preocupar. Ao protagonizar a série Harry Potter, que rendeu oito filmes num período de dez anos e faturou US$ 8 bilhões nas bilheterias, o ator inglês virou uma das mais ricas celebridades abaixo dos 30 anos. Tem 22. No ano passado, segundo a revista Forbes, a fortuna dele estava avaliada em mais de R$ 110 milhões. Mas ele se preocupa – e muito – com o futuro. “Poderia sumir por um tempo”, disse a ÉPOCA. “Mas, se fizer isso, vou ver estampado nos jornais ingleses: ‘Como esperado, Radcliffe, ator de um papel só, saiu de cena por falta de oportunidades’. Estou num momento em que preciso provar que vim para ficar.” 

Com medo de virar Macaulay Culkin, o ator mirim que não teve o mesmo sucesso na carreira adulta depois do sucesso de Esqueceram de mim, Radcliffe agiu rápido. Em julho de 2010, duas horas depois de ter filmado sua última cena em Harry Potter e as relíquias da morte – Parte II, ele começou a ler o roteiro do filme de terror A mulher de preto, escrito pelo cineasta inglês James Watkins. Gostou do texto. Ele teria de filmar muitas cenas sem diálogo e exibir desespero no rosto. Parece os dois últimos Harry Potter? Um pouco. Para entender seu novo personagem, Radcliffe mergulhou em pesquisas sobre a depressão crônica. Ouvir músicas de Radiohead em seu iPod antes de entrar em cena o ajudou, mas foi a leitura de O problema do sofrimento, livro sobre depressão de C.S. Lewis, que mais causou impacto no ator – além, claro, de suas próprias experiências. 
Em julho, Radcliffe tornou pública sua luta contra o alcoolismo. “Foi um período difícil de quase um ano”, diz. “Perdi o entusiasmo, não me conectava mais com minhas emoções. O trabalho no sexto filme de Harry Potter ficou artificial. Tive de olhar para dentro de mim para sair do buraco. Ele afirma que parou de beber um mês antes das filmagens de A mulher de preto. Livre do vício e com uma carreira sem pressão de agentes, iniciou a temporada de um ano no musical How to succeed in business without really trying (Como fazer sucesso nos negócios sem tentar de verdade), com oito récitas por semana. Em sua estada em Nova York, morou num apartamento no bairro de West Village, dividido com a namorada, Rosie Coker. Os dois se encontraram no set de Harry Potter, em que Rosie trabalhou como produtora. “Às vezes, sou bom namorado; às vezes, inútil: deixo a casa desarrumada, falo sem parar ou fico obcecado com coisas”, diz. 
O romance passou despercebido da imprensa. O ator diz que, certo dia, viu um bando de paparazzi correndo em sua direção na rua. “Achei que tinha sido reconhecido, mas eles passaram por mim e se posicionaram na frente de um prédio próximo ao meu: Jennifer Aniston estava na casa do namorado e podia sair a qualquer minuto”, afirma. Radcliffe não está sempre brincando. Sabe ter opiniões fortes. Ele criticou a ausência de Harry Potter da lista de indicações ao Oscar de Melhor Filme. “Outro dia, estava vendo A invenção de Hugo Cabret e pensei: ‘Por que foi indicado?! Será que o Oscar gosta de filmes infantis só quando são dirigidos por Martin Scorsese?’.” 
Nenhuma causa comove Radcliffe tanto quanto a militância gay, abraçada em sua temporada em Nova York. O ator faz discursos contra a homofobia e filmou uma campanha pública para uma organização dedicada à prevenção do suicídio de jovens gays e transexuais. Posou para várias publicações gays, às vezes com camisetas coladas, jaqueta de couro ou maquiagem carregada, esbanjando androginia. Em dezembro, Radcliffe terminou sua temporada teatral e voltou para Londres com a namorada. Sua vaga no musical da Broadway foi ocupada pelo ídolo teen Nick Jonas. Mesmo assim, as filas sumiram da porta da bilheteria. Essa não é uma preocupação para Radcliffe. Ele está mais apreensivo em como interpretará o poeta americano Allen Ginsberg numa produção independente, a ser filmada neste ano. Com tantas opções de trabalho a sua disposição, o pesadelo da aposentadoria precoce parece estar superado.

Revista Época

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