sábado, 24 de março de 2012

Te Contei, não ? - Como escrever um Conto ?



Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge.
No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. Há, por exemplo, contos de Machado de Assis ou Tchekov nos quais, simplesmente, não tem nada que acontece. O essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo.

Grandes escritores de contos do século XIX

O século XIX foi o que teve o maior número de mestres na arte de escrever contos. Foi nesse período que surgiram os contos clássicos mais lidos até hoje, como O Gato Preto, de Allan Poe; O Alienista, de Machado de Assis; Bola de Sebo, de Guy de Maupassant; entre outros.
Clique no nome do autor para comprar um de seus livros de contos.

Grandes escritores de contos do século XX

O século XX destacou, principalmente, Kafka, James Joyce e o grande Jorge Luís Borges, o maior escritor de contos de todos os tempos.
Dicas para escrever um conto
O enredo do conto deve apresentar em linhas gerais, as seguintes fases:
  1. Apresentação
  2. Complicação ou evolução
  3. Clímax
  4. Solução ou desfecho
Evite o uso de repetições fazendo uso de sinônimos. O conto não deve cansar o leitor e superestimar (nem subestimar) sua inteligência. Podemos enganar usando um raciocínio lógico falso que o induza a pensar de uma forma, mas nunca dizer o óbvio.
O título não deve sugerir o conteúdo do conto. Os títulos curtos são sempre melhores e instigantes.
Elimine explicações e descrições que não tenham importância para a história, cortar parágrafos é dar movimento mais dinâmico ao conto.
Deixe de lado os verbos de ligação e os pronomes reflexivos, com eles, a leitura se torna cansativa. Também evite o uso demasiado de conjunções aditivas

"CONSELHOS" PARA SE ESCREVER UM ÓTIMO CONTO

  1. Prender o interesse do leitor; evitar ser chato
    Pense em Aristóteles, para quem a catarse, enquanto experiência vivida pelo espectador ou ouvinte, é condição fundamental para definir a qualidade de uma obra.
  2. Usar, se possível, frases curtas
    A clareza vem do cuidado com a estruturação da frase: as intercalações excessivas prejudicam a compreensão da idéia. Pense em Barthes: “A narrativa é uma grande frase, como toda a frase constitutiva é, de certa forma, o esboço de uma pequena narrativa", (Introdução à análise da narrativa).
  3. Capítulos e parágrafos curtos, para o leitor poder respirar
    Evitar muitas personagens, descrições longas, rebuscamentos, adjetivações, clichês, repetir palavras.
  4. Trama/enredo/tema ou estilo, original
    Pense em Ricardo Piglia: “Pode-se programar a trama, os personagens, as situações, conhecer o desenlace e o começo, mas o tom em que se vai contar a história é obra de inspiração. Nisso consiste o talento de um narrador”, (O laboratório do escritor).
  5. Se possível usar ironia, humor, graça e ser verossímil
    Ser verossímil é importante, mas não devemos confundir verossimilhança comverdade; a história não tem de ser obrigatoriamente verdadeira, mas parecer que o é. Mesmo assim sua importância é discutível. Segundo Álvaro Lins, Graciliano Ramos tem como “defeito” justamente a inverossimilhança que, de acordo com o crítico, é mais “visível” em Vidas secas e São Bernardo, dois clássicos insuspeitos. No Vidas secas esse “defeito” estaria no discurso das personagens (discurso indireto livre), pois tal recurso teria provocado um excesso de introspecção das personagens, tão rústicas e primárias (até Baleia, a cadela do romance, tem seu “monólogo interior”). No São Bernardo o “problema” estaria no fato de um homem rústico, como Paulo Honório, construir uma narrativa tão perfeita em termos literários.
    Conta-se que uma vez Matisse mostrou a uma senhora um quadro em que havia pintado uma mulher nua; sua visitante retrucou: “Mas uma mulher nua não é assim”. E Matisse: “Não é uma mulher, minha senhora, é uma pintura”. Será que na sua análise em busca do perfeito, Álvaro Lins (que tinha Graciliano em alta conta) não teria percebido que Paulo Honório não é um homem, mas uma pintura?
  6. Ler, de preferência, os clássicos
    Não se é escritor sem ser leitor. Pense em Sartre: “Mas a operação de escrever implica a de ler... e esses dois atos conexos necessitam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito”. (op. cit.) Pense também em Faulkner: ler, ler, ler, ler, ler...
    Em Escritores em ação, Georges de Simenon (1903-1989) dá a “fórmula” para se escrever uma boa prosa: “Corte tudo que for literário demais; adjetivos e advérbios e todas as palavras que estão lá só para causar efeito. Escrever é cortar. Escrever não é uma profissão, mas uma vocação para a infelicidade e essa professora é uma puta vadia!"


Nenhum comentário:

Postar um comentário