Certa noite, um amigo abriu a geladeira, morto de fome. Vazia. Resolveu comer
uma pizza. Andou dez quadras, até encontrar uma pizzaria aberta no centro de São
Paulo. Percebeu uma garota sentada sozinha, na mesa de trás, mas nem a olhou
direito. Quando o refrigerante chegou, viu que não era o diet pedido. O garçom
acabara de servir a mesa de trás. Virou-se. Perguntou à garota se não haviam
trocado seus refrigerantes. Ela concordou. Trocaram as garrafas. Conversaram
alguns minutos, ela contou que não morava em São Paulo, estava na cidade por
alguns dias. Ele sentiu vontade de pedir seu telefone, mas não ousou. Foi embora
com a garota na cabeça. Na tarde seguinte, subiu a pé a Rua da Consolação, para
visitar um amigo. Ela descia. Pararam. Conversaram. Ele a convidou para sair.
Faz 15 anos. Estão até hoje juntos. Outro dia, ele me perguntava:
–
Existe destino? Se eu não tivesse ido comer aquela pizza, se o garçom não
tivesse trocado as garrafas, estaríamos juntos?
Não tenho resposta. Às
vezes a vida parece programada para que as coisas aconteçam de um jeito
inesperado, em que tudo se encaixa. Nem sempre de forma maravilhosa. Há o caso
da mulher cujo filho sonhava em esquiar. Negociava um pacote para Bariloche,
quando o agente de viagens propôs outro para o Canadá. O filho partiu. Durante a
viagem, foi atravessar uma ponte que ruiu. Morreu na queda.
– Se meu
filho tivesse ido para Bariloche, estaria vivo? – ela se pergunta.
Há
casos, inúmeros, em que a Roda da Fortuna parece agir. Há vários casos de
atrizes e modelos famosas que nem pretendiam entrar para o ramo. Foram apenas
acompanhar uma amiga no dia do teste. Na hora, resolveram fazer também e estão
aí até hoje. Pelo que sei, foi o que aconteceu com Gisele Bündchen, que foi ao
teste acompanhar a irmã. Há histórias de passageiros que perdem o voo, e o avião
explode. E outros que antecipam a viagem para perder a vida nas nuvens. Uma
aparente coincidência pode mudar o rumo de uma vida. Como no caso do sujeito que
procura emprego e conhece por acaso o dono de uma grande empresa.
Eu
mesmo já vivi situações em que parece haver uma lógica acima da minha vontade.
Até que, para o jornalista, isso é parte do cotidiano. É preciso esforço para
conseguir notícias em primeira mão. Às vezes elas simplesmente caem no colo. Fui
jornalista boa parte da minha vida e sei como é. Certa vez, quando era
iniciante, fui fazer uma matéria sobre implante de cabelos. Faz bem uns 30 anos.
Escolhi um médico ao acaso, queria somente os dados técnicos. Durante a
entrevista, percebi que ele estava absolutamente desconfortável. E me encarava
com desconfiança, enquanto eu perguntava sobre técnica após técnica. A certo
momento, ele explodiu:
– Abra o jogo de uma vez. Como sabe que fiz o
implante do Roberto Carlos?
Não tinha a menor ideia de que Roberto Carlos
fizera implante. Era segredo. Assumi um ar misterioso, disse que não revelaria
minhas fontes. Saí com um furo maravilhoso, que contribuiu para minha ascensão
na revista. Sorte? Era meu destino me afirmar como jornalista?
Os gregos
antigos acreditavam que o Destino era regido por três entidades, as Moiras. Elas
fiavam a vida dos seres humanos. Em seu tear, a Roda da Fortuna. O alto
correspondia ao melhor momento da vida da pessoa. O baixo, ao pior. Mas o
Destino, em si, não era bom nem mau. Era apenas parte da teia da vida da
humanidade. Embora, segundo os gregos, tentar fugir ao Destino ocasionasse a
tragédia. Quando Édipo nasce, prevê-se que ele mataria o pai e se casaria com a
mãe. O pai manda que seja morto, mas o bebê é dado a outra família. Ao crescer,
Édipo cumpre exatamente a previsão: mata o pai e se casa com a mãe. Teria
acontecido se fosse criado pelos verdadeiros pais?
Quem não acredita em
Destino afirma que nossas escolhas nos levam inexoravelmente ao futuro. Não
acredito que a vida esteja completamente em nossas mãos. Recentemente, um homem
teve um ataque cardíaco em casa. A família conseguiu rapidamente uma ambulância.
No trajeto para o hospital, ele já recebia os primeiros socorros. Em plena
Avenida dos Bandeirantes, em São Paulo, a ambulância sofreu um acidente.
Morreram o médico e o paciente. Seria destino do homem morrer naquele dia? Ou do
médico? Ou dos dois? Em casos como esses, a gente sente que a mão do Destino
muitas vezes nos agarra de surpresa.
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