COISA DE DEMENTE
Toda vez que eu espirro
Um esbirro vem cobrar
E se choro ou imploro
Tenho logo que pagar
Pago água, luz, transporte
Pago até por esta terra.
É azar ? Falta de sorte ?
Pra viver é uma guerra
Só falta Ter quem me corte
O ar e o sol desta serra.
Lava o rosto ? Pague imposto
Passa borracha ? Pague a taxa
Muita alegria ? Pague a guia
Um passeio ? Pedágio no meio
Metida à culta ? Pague a multa
Ficou bruto ? E vem tributo
Acha pouco ? Não tem troco
Não sei o que você acha
Mas isso de tanta taxa
Tanta fila lá no caixa
Tanto imposto que sufoca
Tanta guia que provoca
Cobrando o que Deus nos deu
Isso é coisa de demente
Tinha que ser diferente
Resolvido pela gente
Ou gente que a gente escolheu.
Ana Maria Machado, HOJE TEM ESPETÁCULO, pág.
84, 4ª edição, EDITORA NOVA FRONTEIRA, Rio de Janeiro, 1984.
Nenhum comentário:
Postar um comentário