sábado, 12 de abril de 2014

Entrevista - Andrés Sanches

Andrés Sanches

"Se não acabarmos o estádio, vai do jeito que está"

Responsável pela administração da obra da Arena Corinthians, o ex-presidente do clube conta que a Fifa abriu mão de várias exigências para a Copa


por Rodrigo Cardoso
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PAPAS NA LÍNGUA
"Pago um preço por ser sincero neste país", diz ele



No sábado 29, o paulista Andrés Navarro Sanches recebeu outro duro golpe na sua empreitada para deixar em condições de jogo a Arena Corinthians, escolhida para receber a abertura da Copa do Mundo, em 12 de junho. A terceira morte registrada no local – Fábio Hamilton da Cruz, 23 anos, caiu de uma altura de sete metros enquanto instalava estruturas nas arquibancadas – levantou novamente dúvidas quanto às condições do estádio para o Mundial. As obras voltaram a ser paralisadas, o Corpo de Bombeiros informou que ainda aguarda os laudos de segurança, o Ministério Público paulista aponta a existência de irregularidades no local e ameaça pedir a interdição do estádio até durante a Copa. Além disso, pairam incertezas sobre quem arcará com a conta de R$ 60 milhões das estruturas provisórias. Sanches diz que o Corinthians quitará a fatura, mas até o final da semana passada havia apostas de que a conta poderá ficar com o governo ou até com a própria Fifa. Ex-presidente do Corinthians que almejou ocupar o posto máximo da CBF, ele, agora, quer uma vaga no Congresso Nacional e é pré-candidato a deputado federal pelo PT. Aos 50 anos, divorciado, pai de um casal de jovens, esse descendente de espanhol garante entregar o estádio, no máximo, até 30 de abril, apesar de todos os contratempos.
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"O estádio do Corinthians não tem nada de padrão Fifa. É padrão
Corinthians. A Fifa, há um ano e meio, ficou mais aberta"


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"Quem me viu como presidente do Corinthians tem ideia do
que eu faria na CBF. Vamos ter um futebol muito negro
quando o Marco Polo Del Nero assumir"


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Istoé -
Por que a presidenta Dilma Rousseff não demonstra tanta empolgação com a Copa como o ex-presidente Lula demonstrava?
 
Andrés Sanches -
É um erro da Dilma. A Copa do Mundo era para ter sido trabalhada nesses três anos. Não para que venham pessoas ver o jogo de futebol, mas para trazer milhares de turistas para mostrar o Brasil, a nossa cara. É inadmissível o Uruguai receber mais turista do que o Rio de Janeiro! O governo federal falhou em como vender o País para fora. Foi um erro de avaliação da Dilma.
 
Istoé -
 Se o sr. garante ter dito à Fifa que as estruturas provisórias do estádio, de R$ 60 milhões, serão pagas por vocês, por que o secretário-geral Jérôme Valcke diz que nada está definido?  
 
Andrés Sanches -
Porque eu ainda não assinei o contrato da empresa que eles querem que eu contrate (para montar as estruturas). Mas isso vai ser feito. Ele sabe disso. Já falei que quem vai pagar é o Corinthians. A Fifa teve tanta decepção no País que talvez fique com um pé atrás. Mas o estádio do Corinthians não tem nada de padrão Fifa. É padrão Corinthians, padrão zona leste, padrão Brasil. A Fifa, no começo, exigiu isso e aquilo. Mas, de um ano e meio para cá, ficou mais acessível, aberta. Nós nunca tivemos estádio no Brasil. Os melhores estádios eram a Arena Barueri e a Arena da Baixada. O Pacaembu não é estádio. O Morumbi tem 60 anos e tem suas dificuldades. O Maracanã também. Então, não havia estádio novo no Brasil. E agora terão vários. Só que não é verdade, como se fala, que tudo é padrão Fifa. No vestiário que fiz lá no Corinthians, a Fifa não pediu para ser desse ou daquele tamanho. 
 
Istoé -
O Jérôme Valcke já se indispôs com o governo brasileiro algumas vezes.
Andrés Sanches -
Comigo também. Ele disse, certa vez, que poderia tirar a abertura da Copa de São Paulo. E eu retruquei: “Não perca tempo. Tire já!”. Ele está numa pressão muito grande e nós, brasileiros, temos mania de deixar tudo para os 49 minutos do segundo tempo. Agora, o BNDES atrasar um ano e meio para liberar o empréstimo para nós é um absurdo. É uma burocracia interminável, por isso as coisas no País não vão para a frente. O estádio ainda não está pronto, mas a Fifa não está fazendo pressão sobre o Corinthians e, se acelerar, o Corinthians não aceita. Se acabarmos o estádio acabou, se não acabarmos, vai do jeito que está!
 
Istoé -
Sentiu-se desrespeitado pela cartilha da Fifa, alertando os turistas sobre o comportamento do brasileiro?
 
Andrés Sanches -
Foi ridículo, uma discriminação. Eu vou para Nova York e me dizem, no hotel, para eu não ir em tal rua. Na Copa da África, a mesma coisa. Só que nós não conseguimos transmitir o que é o Brasil. Logicamente, pode haver acidentes, mortes, vai haver assalto aqui. Mas não se trata de um país do Terceiro Mundo, dos macacos e dos índios, como estão falando. Então, para não ser mal educado, a Fifa foi muito infeliz.  
Istoé -
Como construiu a sua car-reira como gestor?
 
Andrés Sanches -
Minha família, além da ala sindical, é formada por comerciantes. Meu avô, na Espanha, vendia burros, mulas, cavalos. Tenho sangue de comerciante. Não tenho nenhum curso de gestão, mas tenho um dom e aprendi, na vida e na dor, a negociar, delegar e cobrar. Com 12 anos, eu trabalhava de madrugada no mercado com o meu pai, que tinha boxe de frutas no Ceasa. Ali, tem pessoas sinceras, milionário, classe média, pobre, mendigo, ladrão e todo mundo convive. É um Brasil em menor proporção. Depois, meu pai comprou uma banca de feira-livre. Vivi do trabalho braçal dos 13 aos 23 anos. Tenho dois filhos com saúde, uma família maravilhosa, sou um cara que vive bem e tenho mais do que mereço e preciso. Do que posso reclamar? 
 
Istoé -

Por que ocupar um cargo público seria importante para a sua trajetória? 
 

Andrés Sanches -
Na vida, às vezes, você é levado para alguns caminhos. Eu não queria entrar na vida política, mas venho sendo convidado por associações, por partido, amigos... Penso se tudo o que falam (sobre a política em Brasília) é verdade, se indo lá não posso ver o que pode melhorar ou mudar. Vou tentar ver isso. Sou pré-candidato a deputado federal pelo PT e vamos ver como é que vai ser. 
 
Istoé -
Enxerga diferenças nas administrações de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e do atual, José Maria Marin?
 
Andrés Sanches -
Trabalhei com o Ricardo por dois meses, e 11 meses com o Marin e Marco Polo Del Nero (presidente da Federação Paulista de Futebol e candidato de Marin para sucedê-lo). O Ricardo pode ter se perdido ou errado nos últimos anos, mas pegou a CBF quebrada, sem dinheiro para fazer o Campeonato Brasileiro no final dos anos 80, e recuperou financeiramente a estrutura do futebol. O Marin está fazendo uma transição compatível com ele. A CBF tem de pôr os custos no site dela. É empresa privada, mas, ao mesmo tempo, é a paixão do brasileiro, né? O futebol brasileiro precisa de transparência. 
 
Istoé -
O sr. faria diferente?
 
Andrés Sanches -
Quem me viu como presidente do Corinthians tem ideia do que eu faria na CBF, mas as federações não quiseram. Vamos ter um futebol muito negro quando o Marco Polo assumir. Eu estava na chapa da oposição dele. Mas acha que alguma federação me queria? Oitenta por cento dos presidentes das federações sabem o que vão passar quando o Marco Polo assumir a CBF, mas, como a maioria está nas federações há mais de 15 anos, pensa: “Está ruim, mas deixa do jeito que está. Novidade a gente não sabe o que pode acontecer”. 
 
Istoé -
O que faz para relaxar?
 
Andrés Sanches -
No sábado eu vou ao meu pagode. Mas é difícil relaxar. Sou um cara muito ansioso, preocupado, ligado nas coisas. O que me diverte um pouco é o meu samba ou quando vou às noitadas, que ultimamente têm sido raras porque as preocupações com o estádio têm tomado muito tempo. Fazer um aparelho daquele tamanho funcionar e se pagar… Muita gente fala que ganhamos de graça (o estádio), então não sei nem porque temos de pagar!
 
Istoé -
Seus filhos não o aconselham a ser menos ligado, diminuir um pouco o ritmo?
 
Andrés Sanches -
Conselhos não. Eram corneteiros, porque são corintianos, quando eu era presidente do clube. Reclamavam disso, daquilo, que o time estava mal, que tal jogador tinha de jogar.... Meus filhos sofreram nos dois primeiros anos da minha gestão. Infelizmente, neste país, tornar-se uma pessoa pública é crime. E, se você se der bem, é mais crime ainda. Mas depois se acostumaram. Eles reclamam muito é da minha ausência. Passo até 15 dias sem vê-los. Isso é triste, muito triste. A minha filha tem o gênio mais forte, fala o que pensa, como eu, não tem uma inclinação de fazer média. Meu filho é um pouco mais moderado.
 
Istoé -
Já tentou moderar esse seu lado para não se prejudicar tanto? 
 
Andrés Sanches -
Procuro sempre respeitar as pessoas, mas não lembro de nada de besteira que falei, não. Pago um preço por ser sincero neste país. Muita gente não quer ouvir a verdade. Existe muito preconceito, discriminação. Por não ter um curso universitário, por não usar terno e gravata, por não falar o português em excelência. Mas eu falo como 90% da população brasileira. Então, quando dou entrevista, ou falo com alguém, realmente eu sou mais seco, meio emburrado. É que sou precavido pelo muito que apanhei no começo. Mas sou um cara tranquilo, bom papo, boa companhia. E tenho momentos mais estressados e outros menos.
 

Istoé -
Qual foi o maior erro que cometeu no futebol?
 
Andrés Sanches -
Talvez ter sido presidente do Corinthians. Larguei a minha família, vi pouco os meus filhos, me tornei uma figura pública e hoje sou julgado por pessoas que não sabem quem eu sou. Só porque estou com um copo de uísque na mão, acham que eu tomo 50 litros por dia. Ninguém pôs o revólver na minha cabeça para eu assumir o Corinthians, mas eu não sabia que o preço seria tão caro. Não me arrependo do que eu fiz, apesar do preço a pagar. Por outro lado, a minha maior vitória no futebol foi mostrar que um cidadão sem faculdade, que não fez curso algum naquela universidade americana...como chama? Heverton, Hapton, Hepton? Aquela que faz doutorado? Ah, aquela lá... (referia-se à Harvard). Bom, mostrei que apenas com dedicação, coragem e um pouco de ousadia um cara assim consegue recuperar um clube quebrado.

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