segunda-feira, 21 de abril de 2014

Te Contei, não ? - Um pouco da fantástica história do Choro

O samba está definitivamente consagrado como ritmo de origem africana, apesar das várias contestações quanto a essa afirmação. É consagrado na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo - muitas vezes com batidas características e com nomes alternativos, de acordo com as festanças do braço escravo que foi utilizado em cada região. Mas os afrodescendentes - negros e pardos - também foram responsáveis pela disseminação e projeção de outro ritmo. Este foi absorvido pela sociedade elitista e se tornou outra atração musical de nível internacional. Estamos falando sobre o Choro, ou chorinho!
Até os dias de hoje, ainda há controvérsias na história do termo "choro". Para o musicólogo Renato Almeida, ele estaria ligado à palavra xolo, de língua cafre, que designava um tipo de baile rural que as populações negras realizavam nas fazendas em dias de festas. O termo teria, então, evoluído para xoro e, levado para as cidades, passou a ser escrito como choro. Outros, como Ary Vasconcelos, entendem que o termo teria sua origem em choromeleiros nome dado aos grupos que tocavam música de barbeiros do período colonial. Entretanto, para o maestro Baptista Siqueira, a origem do termo seria, provavelmente, uma confusão com o termo chorus, do latim, que significa conjunto. Importante destacar que, no catálogo da pioneira Casa Edson-RJ, os grupos de chorões eram denominados choros e os demais conjuntos instrumentais eram designados como chorus.
O maestro Marcus Vinicius de Andrade e os irmãos Izaias e Israel Bueno de Almeida, em recente trabalho, lembram que, séculos antes, línguas latinas já utilizavam os termos piangente - do italiano piangere, que significa chorar, lamentar e também, fazer soar. Na língua portuguesa no século XVIII, o poeta Nicolau Tolentino utilizou o termo "doce lundum chorado". Consta também na história que, num concerto realizado no salão social Fluminense, ao ouvir os expressivos vibratos do violoncelista Casimiro de Souza Pitanga, um espectador teria gritado: "Chora, Pitanga!", o que mais tarde inspiraria uma polca homônima. Enfim, pode-se notar que, tanto na linguagem culta quanto na popular, eram frequentes as associações entre a interpretação musical e o verbo chorar. Se "chorar" passou a significar uma maneira de execução, "chorões" são os que tocam. No Brasil, nas três últimas décadas do século XIX, "choro" significava mais um modo de tocar do que gênero musical - o mesmo aconteceu com o jazz.

"ELE [O CHORO] SE TORNOU UM GÊNERO MUSICAL BRASILEIRO E, ATRAVÉS DE SEUS FANTÁSTICOS PERSONAGENS, É CONSIDERADO 'BEM IMATERIAL"

Embora o ano de 1870 seja dado como referencial para as origens do Choro, não há dúvidas de que esse "complexo musical" resultou de um processo iniciado muitas décadas antes, com a chegada da corte portuguesa, com o Rio se transformando num polo de efervescência política, comercial e cultural, recebendo influências de, além de portugueses, espanhóis, italianos, alemães e outros europeus, com suas músicas e danças de salão como quadrilha, a valsa, a mazurca, o scottish, a polca e outros gêneros trazidos do velho mundo e que foram "abrasileirados" pelos mestiços e negros, sempre a parcela musical mais significativa da população do Rio de Janeiro, desde as primeiras décadas do século XIX.
A composição básica de um conjunto era: um ou dois violões, cavaquinho e flauta; esta exercendo a função melódica, enquanto as cordas, - chegadas ao Brasil com os portugueses - principalmente o cavaquinho, marcavam as pulsações rítmicas e harmônicas. Esta formação foi chamada de "orquestra de pau e corda", sendo o grande flautista Joaquim Antonio da Silva Callado seu principal consolidador.
Mas o que aconteceu de maravilhoso nessa fantástica história do Choro é que ele se tornou um gênero musical brasileiro e, através de seus fantásticos personagens, é considerado "bem imaterial". Encanta audiências em todo o mundo, desde simples espectadores aos mais renomados músicos populares e eruditos. E isto já acontecia bem antes do Brasil se fazer presente no Carnegie Hall...

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