sábado, 12 de abril de 2014

Te Contei, não ? - Vai piorar


O novo relatório sobre mudanças climáticas da ONU mostra que o planeta está ficando cada vez mais quente. Saiba as consequências disso para o Brasil

Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br)

O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, mais conhecido por sua sigla em inglês – IPCC –, traz notícias pouco animadoras sobre o futuro do planeta. O documento, divulgado na segunda-feira 31 em Yokohama, no Japão, não só confirma que o aquecimento global está impactando cada vez mais a vida dos seres humanos na Terra como também faz previsões alarmantes sobre o futuro. Para os cientistas que redigiram a versão final do 5º Relatório de Avaliação do IPCC, o aumento da temperatura global irá produzir fome, ondas migratórias e conflitos por todo o mundo nas décadas seguintes, se nada for feito para reduzir as emissões de carbono, o principal causador do aquecimento. “Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas”, afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
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DESERTO
O Nordeste do País é uma das regiões afetadas pelo aquecimento global

Apesar de os impactos serem globais, eles não serão homogêneos, ao menos na opinião dos pesquisadores que produziram o documento. A tendência é de que as regiões mais pobres do planeta sejam as mais afetadas, em especial as áreas tropicais de baixa latitude. No Brasil isso significa que o Nordeste e a Amazônia, áreas que concentram uma parcela significativa das populações mais pobres do País, sejam os mais impactados. No mundo, a expectativa é de que países do centro da África e de parte do Sudeste Asiático sejam os mais afetados pelos reflexos do aquecimento, por conta de secas mais prolongadas ou em razão de estações de chuvas mais concentradas. “Na mudança climática, aqueles que criam o problema nem sempre são os que sentem os seus impactos”, diz José Marengo, cientista do Instituto Nacional de Estudos Espaciais (Inpe) e representante do Brasil na elaboração do relatório.
Marengo refere-se ao fato de as regiões mais afetadas pelo aquecimento não serem as que mais produzem CO2, como no Nordeste brasileiro, por exemplo. Mesmo com o processo de interiorização da economia brasileira, a região ainda é essencialmente rural e com um número elevado de pequenos agricultores e pecuaristas que produzem primordialmente para consumo próprio e vendem o excedente. A produção de CO2 no Nordeste é infinitamente inferior àquela registrada em regiões industriais da China ou em grandes cidades dos Estados Unidos, por exemplo, que não sofrerão os impactos na mesma intensidade.
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POLUIÇÃO
Redução na emissão de gases de efeito estufa é a única
maneira eficaz de mitigar os impactos do aquecimento global

No Nordeste brasileiro o temor é de que a crise hídrica, que afeta a região há séculos, seja ainda mais acentuada. Hoje o sertão nordestino vive uma das piores secas de sua história e a ampliação do quadro de falta de chuvas poderia tornar a área que abriga mais de 15 milhões de pessoas em condições muito difíceis de ser habitada. O temor é de que o semi-deserto do sertão se transforme em um grande deserto. “Esse é um problema com vários componentes, não só a chuva, vale destacar”, diz Marenco. “A má utilização do solo e a consequente redução na capacidade de produção de alimentos para pessoas e animais podem vir a gerar uma nova migração em massa.”
Distante alguns milhares de quilômetros, a Amazônia é outro ecossistema brasileiro extremamente sensível às variações climáticas. Mesmo com a cheia recorde do rio Madeira, que isola o Acre e transformou parte do centro antigo de Porto Velho no leito do rio, a tendência, dizem os cientistas, é de que o ciclo de chuvas na região seja afetado pelo desmatamento que devasta a floresta. Poucas regiões do planeta registram uma correlação tão clara e tão imediata entre o clima e a vegetação quanto a Amazônia. E se faltar chuva no Norte do País a tendência é de que haja também falta de chuva nas regiões Sul e Sudeste, que dependem diretamente da umidade produzida na Região Amazônica para regular os períodos de chuva.
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CHEIAS 
Chuvas cada vez mais fortes e concentradas são um dos efeitos apontados
pelos cientistas no novo relatório do IPCC divulgado no Japão

O relatório do IPCC ressalta a certeza cada vez maior nas mudanças climáticas e na participação do homem nesse processo, mas não tem como definir, ao menos agora, com precisão como e quando os efeitos mais severos serão sentidos. Ele faz previsões para diferentes cenários, porém indica que as consequências são mais graves quanto maiores os níveis de emissão de gases-estufa. Por isso o documento reforça a urgência das ações de adaptação e mitigação.

O problema das ações de adaptação é que elas têm uma receita bastante local e impactam de forma diferente cada comunidade: depende do quanto essa localidade é vulnerável e de suas condições geográficas, econômicas, sociais e políticas. “Gestão de risco é o termo-chave quando se fala em adaptação”, diz Carolina Dubeux, economista do Coppe/UFRJ, que também integra a equipe de elaboração do relatório.
O IPCC mostra diversos valores para o custo de adaptação das sociedades ao novo cenário climático, que podem atingir US$ 100 bilhões ao ano. “Ainda há incertezas muito grandes em relação a esses custos, vai depender do cenário, do clima e de uma série de avaliações, até porque a mudança climática é um fenômeno dinâmico”, explica Carolina.

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DESMATAMENTO
Na Amazônia, o clima está diretamente ligado ao meio
ambiente e menos árvores significam menos chuvas

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Fotos: Raul Spinassé/Ag. A Tarde/Folhapress, PAULO PINTO, Marcio James/Secom; Corbis

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