sábado, 4 de junho de 2011

Diretamente do Além ..................



REINAÇÕES DE POLITICAMENTE CORRETINHO
Não sei se vocês leram que o Conselho Nacional de Educação (CNE) pediu que meu livro, Caçadas de Pedrinho, fosse retirado das escolas. Motivo? No entender do órgão, algumas frases da história são racistas, especialmente as relacionadas à personagem Tia Nastácia. Como medida conciliatória, alguns sugeriram a inclusão de uma nota explicativa sobre o contexto histórico em que o livro foi escrito, de tal forma a evitar que esse clássico da literatura infanto-juvenil deixe de circular entre os estudantes brasileiros.
Minha intenção aqui não é me defender nem tampouco alimentar o fogo dessa polêmica. Meu ponto é outro. Gostei da ideia de introduzir uma nota explicativa. Mas em vez de contextualizar o passado, talvez fosse melhor dedicá-la a contextualizar o presente. Pelo simples fato de que as crianças de hoje perderam bastante da ingenuidade e estão afastadas do convívio com a natureza.
Aquela expressão “tirem as crianças da sala” não faz mais sentido. Elas assistem a tudo na internet. Um adolescente de hoje já viu mais sexo na web do que toda a juventude sueca da década de 70 viu nas famosas revistinhas que circulavam por lá. Qualquer letra de rap ou funk é mais do que suficiente para eliminar as reservas de inocência e pureza naturais da tenra idade. Em compensação, as novas gerações só identificam uma galinha em dois formatos: jpg e bandejinha de supermercado.
Ao reler minha obra sob esse prisma, fiquei preocupado. As histórias seguem boas, mas a narrativa, os nomes dos personagens e dos lugares podem servir de munição pesada para interpretações maliciosas e piadas de duplo sentido. Entendam, quando escrevi minha coleção de livros infanto-juvenis as crianças da idade do Justin Bieber não cantavam sobre amores impossíveis e não assistiam a filmes como Tropa de Elite desacompanhadas dos pais.
Por tudo isso, decidi acatar a sugestão de alguns. Redigi a tal nota de esclarecimento que deve ser incluída nos meus livros infanto-juvenis (se é que isso ainda existe).
Nota de esclarecimento (Nota de esclarecimento sobre o termo esclarecimento. O mesmo foi aqui empregado não no sentido de tornar mais branco, mas sim no de se fazer mais explicado, com mais luz).
A personagem Dona Benta sempre esteve na história original. Ela não foi incluída posteriormente como merchandising de uma conhecida farinha de trigo.
O carinhoso apelido de Narizinho não sugere que tal personagem tem por hábito o consumo de drogas ilícitas pela via nasal. Quem o tem é a Emília, que ganhou vida ao aspirar o tal pó de pirlimpimpim.
Não há nenhuma evidência de que o Visconde de Sabugosa, apesar de falar com grande sabedoria, seja transgênico.
Marquês de Rabicó. Eu sei, é um nome complicado. Pode zoar à vontade.
Não é o que está queimando no cachimbo que faz o Saci pular sem parar. É a falta de uma perna mesmo.
Por fim, Sítio do Picapau Amarelo não é uma menção à propriedade rural de um órgão genital masculino de um oriental. Eu jamais cometeria um pleonasmo como Pica-Pau.

POSTADO POR: Monteiro Lobato

http://www.blogsdoalem.com.br/lobato/

Um comentário:

  1. Na minha opinião tudo não passou de um “mau” entendido, e que o CNE teve uma conclusão do assunto de uma maneira bem “precipitada” , pois deve-se levar em conta aspectos como: onde e quando foram feitos ; além que essas obras podem e devem ser classificadas como clássicos da literatura brasileira e devido a isso não devem ser retiradas das escolas.
    Para mim mesmo naquela época Monteiro Lobato não escreveria sobre isso em seus livros, principalmente pois estes são para literatura infantil; Lobato foi um grande escritor e saberia o que escrever pra cada tipo de leitor, e sendo estes crianças ele não daria nenhum tipo de “má influência”, e concordo em dizer que as crianças de hoje em dia não são mais ingênuas devido aos meios que tem para conhecer “o mundo dos adultos”, para mim ele não quis escrever com nenhum tipo de malícia e não usou disso para promover nada (nem uma marca de farinha e nem uma opinião própria).
    Concluo então dizendo que para mim isto não tem nenhum cabimento, pois as histórias de Monteiro Lobato, além de serem maravilhosas não fazem menção nenhuma de racismo ou merchandising, acredito que ele escreveu deste jeito por ser uma característica da personagem Emília em seu modo falar, os livros não devem ser retirados pois não trazem nenhum tipo de má influência e sim são uma ótima maneira de trazer cultura as crianças, e ainda são maravilhosos.

    Por: Taíssa Lopes - ativo 801

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