O eterno Velho Guerreiro
No imaginário brasileiro, Chacrinha continua balançando a pança e comandando a massa
Frederico Oliveira Coelho
1/6/2008
1/6/2008
Lá se vão vinte anos desde a morte de Chacrinha, em 1988. Mas quem não conhece suas frases antológicas, como “Quem não se comunica se trumbica” ou “Eu vim para confundir, não para explicar”? E quem é que não se lembra da cartola, do disco de telefone gigante pendurado no pescoço, da buzinada na cara dos calouros, dos confetes, do bacalhau arremessado para a platéia, das “chacretes” e de toda a bagunça que acontecia em seus programas?
É claro que a nova geração não tem nem idade para tais memórias. Mas as marcas registradas do Chacrinha sobreviveram e são reproduzidas até hoje. Em programas de auditório ou em blocos de carnaval, os ecos da buzina de José Abelardo Barbosa estão por toda parte. Poucos comunicadores marcaram tanto uma época e se tornaram tão conhecidos.
De origem humilde, Chacrinha nasceu em Surubim, no interior de Pernambuco, em 1916. Sua estréia profissional aconteceu em meados da década de 1930, na Rádio Clube de Pernambuco, em Recife. Tinha então 18 anos e trabalhava como locutor. As dificuldades financeiras não o impediram de conquistar um lugar na faculdade de Medicina, em 1936. Nesse período, integrava também o prestigiado Bando Acadêmico, tocando percussão. E foi a música que lhe rendeu um convite irrecusável: juntar-se à orquestra do navio Bajé como baterista, partindo em turnê pela Europa. O diploma de Medicina acabou ficando para trás.
Na volta dessa viagem, iniciou-se uma nova fase da vida de Abelardo Barbosa. Em uma escala do navio, desceu no porto do Rio de Janeiro. Não embarcaria mais para Recife. A capital federal era a sede dos grandes jornais e do principal palco cultural do país: a Rádio Nacional. Tentar a sorte na cidade maravilhosa era a aposta de muitos artistas nordestinos, como Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Nestor de Holanda, Fernando Lobo, Antonio Maria e José Lins do Rego. Apesar de conseguir oportunidades nas emissoras Vera Cruz e Tupi, Abelardo custou a emplacar nas rádios. A direção da Rádio Tupi alegou, na época, que seu forte sotaque nordestino e seu amadorismo atrapalhavam seu desempenho, e o demitiu.
Isso ocorreu durante o tempo de marchinhas carnavalescas como “Alá-lá-ô”, de Haroldo Lobo e Nássara, e “Aurora”, de Mário Lago e Roberto Roberti. Talvez inspirado por este ambiente, muitos anos depois o próprio Abelardo se tornaria autor de marchinhas memoráveis, como “Maria Sapatão” e “Bota a camisinha”.
A primeira grande virada em sua carreira aconteceu quando obteve a vaga de locutor na pequena Rádio Clube Niterói, transmitida de uma chácara no bairro de Icaraí. Sua vaga foi obtida literalmente “no grito”, quando um dos sócios da rádio o viu na rua fazendo biscate de locutor de vendas para a loja “O Toalheiro” e o convidou. Foi na rádio de Niterói que surgiu o personagem Chacrinha. Primeiro, Abelardo conseguiu produzir um programa especial com músicas carnavalescas, batizado em homenagem ao local de transmissão: “O Rei Momo na Chacrinha”. A “chacrinha” era o diminutivo da chácara em que se situava a rádio. Seu tema de abertura, simulando um baile de carnaval, foi composto por Guerra Peixe. Mesmo transmitido tarde da noite, o programa foi um sucesso e permitiu a Abelardo Barbosa botar em prática, pela primeira vez, algumas idéias e sugestões inusitadas. Chacrinha recebia seus convidados de cuecas e lenço na cabeça, transformando o programa de rádio em um evento cômico. Seu programa de estréia contou com Moreira da Silva e Zezé Macedo. O sucesso popular do ainda locutor da chacrinha estava só começando.
Depois daquele carnaval, o programa ganha um novo nome e uma nova roupagem. Surge então o “Cassino da Chacrinha”, aliando, bem ao estilo da época, números musicais e jornalismo, em uma série de situações, sonoridades e efeitos que imitavam a atmosfera de um cassino. Na década de 1940, durante o governo do presidente Getulio Vargas, os cassinos não só eram legais, como em seus palcos se apresentavam os grandes cantores e orquestras da época.
Anos depois, seu programa passa a ser chamado de “Cassino do Chacrinha”, dando a Abelardo Barbosa seu codinome definitivo. Seu sucesso o levou a atuar em rádios de maior prestígio, como a Tamoio, a Guanabara e a Rádio Nacional, para onde levou o “cassino” com todas as suas extravagâncias e marcas registradas, lançando grandes sucessos populares, como “Estúpido cupido”, de Celly Campelo, e “Coração de Luto”, de Teixeirinha.
A inauguração da televisão, em 1951, provocou nova reviravolta na carreira de Chacrinha. Era o meio ideal para um comunicador que aliava frases de efeito, atrações musicais e, agora mais do que nunca, um visual pra lá de chamativo. Chacrinha criou um estilo de se vestir que misturava a moda dos foliões do carnaval com a dos palhaços de circo. Contratado pela Rede Tupi em 1956, estreou na emissora o programa “Rancho Alegre”, transferindo para a televisão seus bordões radiofônicos, como “Terezinhaaaaaa!” Em pouco tempo o programa se tornou um dos mais populares da televisão. Depois viria a “Discoteca do Chacrinha”, que passou por emissoras como a TV Tupi, a TV Rio, a TV Excelsior e a TV Bandeirantes.
Na década seguinte, após idas e vindas em várias emissoras, o sucesso dos programas de Chacrinha já estava consolidado. Localizada na faixa mais “popular” da televisão, ao lado de outros apresentadores, como Moacir Franco, Flávio Cavalcanti e Silvio Santos, sua “Discoteca” serviu para alavancar o sucesso de uma série de cantores populares, como Elis Regina, Jorge Ben, Wanderléa, Erasmo Carlos, Wilson Simonal e muitos outros.
No auge da fama, ele partiu para a Rede Globo de Televisão, em 1968, com dois programas: “A hora da buzina”, aos domingos, e a “Discoteca do Chacrinha”, às quartas. A famosa buzina do apresentador, usada para espinafrar os candidatos a cantor, era a grande estrela do primeiro programa, enquanto na “Discoteca” Chacrinha lançava suas famosas chacretes — dançarinas que acompanhavam as atrações musicais com coreografias ousadas e figurinos provocantes.
As chacretes tinham nomes artísticos inusitados — como Fernanda Terremoto, Suely Pingo de Ouro e Sandra Veneno —, e foram símbolos sexuais e musas de toda uma geração. Rita Cadilac foi, sem dúvida, a mais notória delas, seguindo carreira solo.
Ainda em 1969, Gilberto Gil compôs o hino carioca “Aquele Abraço”, em que consagra a figura pública de Abelardo Barbosa: “Chacrinha continua balançando a pança, e buzinando a moça e comandando a massa/e continua dando as ordens no terreiro”. Os versos de Gil sintetizam o personagem de Chacrinha, chamando-o de “velho palhaço” e “velho guerreiro” e proclamando um dos seus bordões, “Terezinha, u-hu”, no refrão da canção.
O compositor baiano prestava sua homenagem a alguém que sempre acolheu generosamente os novos movimentos musicais da época. Foi nos seus anárquicos programas televisivos que artistas da Jovem Guarda, do Tropicalismo e, mais tarde, do rock dos anos 1980 se consagraram como ídolos populares. Caetano Veloso se apresentou com freqüência na “Discoteca” desde o fim dos anos 1960. Por sua capacidade de comunicar-se com a população, os cenários tropicais de seus programas — que misturavam referências de todo o Brasil — e seu estilo performático, Chacrinha foi eleito pelos tropicalistas como um dos principais símbolos do movimento.
Nos anos 1970, agora na TV Bandeirantes, Chacrinha mantém a fórmula de sucesso. É a época de ídolos populares como Odair José, Paulo Sérgio e Raul Seixas, que nunca perdia a oportunidade de cantar no programa. Cada vez mais irreverente, o Velho Guerreiro continuava “comandando a massa” em plena ditadura militar, e ocupava uma posição no mínimo inusitada no cenário político da época. Se por um lado era acusado de “alienação política” e simpatia pelo regime militar por setores da esquerda, por outro era vigiado de perto pelos censores do mesmo regime, que o perseguia com advertências por suas piadas “imorais e de duplo sentido”, segundo os censores. Para os militares, Chacrinha era suspeito por supostamente promover pornografia e atentar contra a moral. Para os ativistas de esquerda, ele promovia um entretenimento de massa que em nada contribuía para mudar a situação política do país.
As críticas não alteraram seu estilo de sempre: continuou atirando bacalhau para a platéia, tocando a buzina para os calouros e provocando os jurados. Estes também viraram figuras folclóricas por sua atuação ao lado do apresentador. Foi o caso da modelo Elke Maravilha, do produtor Carlos Imperial e da cantora Aracy de Almeida.
Em 1982, Chacrinha retorna para a TV Globo, apresentando até o fim de sua vida o “Cassino” nas tardes dos fins de semana. Mais uma vez, sucesso de público. Com quase trinta anos de estrada, seu personagem ainda reinava absoluto entre o povo. Apesar de alguns problemas de saúde, ele teve tempo para promover a ascensão do rock brasileiro, apresentando os playbacks divertidos de bandas como Titãs, Kid Abelha e Ultraje a Rigor.
Figura marcante de nossa cultura popular, articulador brilhante do casamento entre música e televisão, Chacrinha conquistou um lugar definitivo na memória e na saudade de todos aqueles que passaram tardes e noites acompanhando suas peripécias. Foi um dos comunicadores mais criativos do país, justificando o bordão: “Abelardo Barbosa está com tudo e não está prosa!”
FREDERICO OLIVEIRA COELHO é pesquisador do Núcleo de Estudos Musicais da Universidade Candido Mendes (NUM/Cesap/Ucam).
Saiba Mais - Livros:
BARBOSA, Abelardo (Chacrinha). Chacrinha é o desafio. Rio de Janeiro: Editora do autor, 1969.
RITO, Lúcia e BARBOSA, Florinda. Quem não se comunica se trumbica. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1996.
HOLANDA, Nestor de, Memórias do Café Nice – subterrâneos da música popular e da vida boêmia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1969.
ALZER, Luiz André e CLAUDINO, Mariana. Almanaque dos anos 80. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
Saiba mais - Conteúdo extra:
Fórum: Chacrinha vai para o trono ou não vai? Opine!
Alô, alô, Terezinha! - No You Tube, vídeos históricos do programa do Chacrinha
É claro que a nova geração não tem nem idade para tais memórias. Mas as marcas registradas do Chacrinha sobreviveram e são reproduzidas até hoje. Em programas de auditório ou em blocos de carnaval, os ecos da buzina de José Abelardo Barbosa estão por toda parte. Poucos comunicadores marcaram tanto uma época e se tornaram tão conhecidos.
De origem humilde, Chacrinha nasceu em Surubim, no interior de Pernambuco, em 1916. Sua estréia profissional aconteceu em meados da década de 1930, na Rádio Clube de Pernambuco, em Recife. Tinha então 18 anos e trabalhava como locutor. As dificuldades financeiras não o impediram de conquistar um lugar na faculdade de Medicina, em 1936. Nesse período, integrava também o prestigiado Bando Acadêmico, tocando percussão. E foi a música que lhe rendeu um convite irrecusável: juntar-se à orquestra do navio Bajé como baterista, partindo em turnê pela Europa. O diploma de Medicina acabou ficando para trás.
Na volta dessa viagem, iniciou-se uma nova fase da vida de Abelardo Barbosa. Em uma escala do navio, desceu no porto do Rio de Janeiro. Não embarcaria mais para Recife. A capital federal era a sede dos grandes jornais e do principal palco cultural do país: a Rádio Nacional. Tentar a sorte na cidade maravilhosa era a aposta de muitos artistas nordestinos, como Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Nestor de Holanda, Fernando Lobo, Antonio Maria e José Lins do Rego. Apesar de conseguir oportunidades nas emissoras Vera Cruz e Tupi, Abelardo custou a emplacar nas rádios. A direção da Rádio Tupi alegou, na época, que seu forte sotaque nordestino e seu amadorismo atrapalhavam seu desempenho, e o demitiu.
Isso ocorreu durante o tempo de marchinhas carnavalescas como “Alá-lá-ô”, de Haroldo Lobo e Nássara, e “Aurora”, de Mário Lago e Roberto Roberti. Talvez inspirado por este ambiente, muitos anos depois o próprio Abelardo se tornaria autor de marchinhas memoráveis, como “Maria Sapatão” e “Bota a camisinha”.
A primeira grande virada em sua carreira aconteceu quando obteve a vaga de locutor na pequena Rádio Clube Niterói, transmitida de uma chácara no bairro de Icaraí. Sua vaga foi obtida literalmente “no grito”, quando um dos sócios da rádio o viu na rua fazendo biscate de locutor de vendas para a loja “O Toalheiro” e o convidou. Foi na rádio de Niterói que surgiu o personagem Chacrinha. Primeiro, Abelardo conseguiu produzir um programa especial com músicas carnavalescas, batizado em homenagem ao local de transmissão: “O Rei Momo na Chacrinha”. A “chacrinha” era o diminutivo da chácara em que se situava a rádio. Seu tema de abertura, simulando um baile de carnaval, foi composto por Guerra Peixe. Mesmo transmitido tarde da noite, o programa foi um sucesso e permitiu a Abelardo Barbosa botar em prática, pela primeira vez, algumas idéias e sugestões inusitadas. Chacrinha recebia seus convidados de cuecas e lenço na cabeça, transformando o programa de rádio em um evento cômico. Seu programa de estréia contou com Moreira da Silva e Zezé Macedo. O sucesso popular do ainda locutor da chacrinha estava só começando.
Depois daquele carnaval, o programa ganha um novo nome e uma nova roupagem. Surge então o “Cassino da Chacrinha”, aliando, bem ao estilo da época, números musicais e jornalismo, em uma série de situações, sonoridades e efeitos que imitavam a atmosfera de um cassino. Na década de 1940, durante o governo do presidente Getulio Vargas, os cassinos não só eram legais, como em seus palcos se apresentavam os grandes cantores e orquestras da época.
Anos depois, seu programa passa a ser chamado de “Cassino do Chacrinha”, dando a Abelardo Barbosa seu codinome definitivo. Seu sucesso o levou a atuar em rádios de maior prestígio, como a Tamoio, a Guanabara e a Rádio Nacional, para onde levou o “cassino” com todas as suas extravagâncias e marcas registradas, lançando grandes sucessos populares, como “Estúpido cupido”, de Celly Campelo, e “Coração de Luto”, de Teixeirinha.
A inauguração da televisão, em 1951, provocou nova reviravolta na carreira de Chacrinha. Era o meio ideal para um comunicador que aliava frases de efeito, atrações musicais e, agora mais do que nunca, um visual pra lá de chamativo. Chacrinha criou um estilo de se vestir que misturava a moda dos foliões do carnaval com a dos palhaços de circo. Contratado pela Rede Tupi em 1956, estreou na emissora o programa “Rancho Alegre”, transferindo para a televisão seus bordões radiofônicos, como “Terezinhaaaaaa!” Em pouco tempo o programa se tornou um dos mais populares da televisão. Depois viria a “Discoteca do Chacrinha”, que passou por emissoras como a TV Tupi, a TV Rio, a TV Excelsior e a TV Bandeirantes.
Na década seguinte, após idas e vindas em várias emissoras, o sucesso dos programas de Chacrinha já estava consolidado. Localizada na faixa mais “popular” da televisão, ao lado de outros apresentadores, como Moacir Franco, Flávio Cavalcanti e Silvio Santos, sua “Discoteca” serviu para alavancar o sucesso de uma série de cantores populares, como Elis Regina, Jorge Ben, Wanderléa, Erasmo Carlos, Wilson Simonal e muitos outros.
No auge da fama, ele partiu para a Rede Globo de Televisão, em 1968, com dois programas: “A hora da buzina”, aos domingos, e a “Discoteca do Chacrinha”, às quartas. A famosa buzina do apresentador, usada para espinafrar os candidatos a cantor, era a grande estrela do primeiro programa, enquanto na “Discoteca” Chacrinha lançava suas famosas chacretes — dançarinas que acompanhavam as atrações musicais com coreografias ousadas e figurinos provocantes.
As chacretes tinham nomes artísticos inusitados — como Fernanda Terremoto, Suely Pingo de Ouro e Sandra Veneno —, e foram símbolos sexuais e musas de toda uma geração. Rita Cadilac foi, sem dúvida, a mais notória delas, seguindo carreira solo.
Ainda em 1969, Gilberto Gil compôs o hino carioca “Aquele Abraço”, em que consagra a figura pública de Abelardo Barbosa: “Chacrinha continua balançando a pança, e buzinando a moça e comandando a massa/e continua dando as ordens no terreiro”. Os versos de Gil sintetizam o personagem de Chacrinha, chamando-o de “velho palhaço” e “velho guerreiro” e proclamando um dos seus bordões, “Terezinha, u-hu”, no refrão da canção.
O compositor baiano prestava sua homenagem a alguém que sempre acolheu generosamente os novos movimentos musicais da época. Foi nos seus anárquicos programas televisivos que artistas da Jovem Guarda, do Tropicalismo e, mais tarde, do rock dos anos 1980 se consagraram como ídolos populares. Caetano Veloso se apresentou com freqüência na “Discoteca” desde o fim dos anos 1960. Por sua capacidade de comunicar-se com a população, os cenários tropicais de seus programas — que misturavam referências de todo o Brasil — e seu estilo performático, Chacrinha foi eleito pelos tropicalistas como um dos principais símbolos do movimento.
Nos anos 1970, agora na TV Bandeirantes, Chacrinha mantém a fórmula de sucesso. É a época de ídolos populares como Odair José, Paulo Sérgio e Raul Seixas, que nunca perdia a oportunidade de cantar no programa. Cada vez mais irreverente, o Velho Guerreiro continuava “comandando a massa” em plena ditadura militar, e ocupava uma posição no mínimo inusitada no cenário político da época. Se por um lado era acusado de “alienação política” e simpatia pelo regime militar por setores da esquerda, por outro era vigiado de perto pelos censores do mesmo regime, que o perseguia com advertências por suas piadas “imorais e de duplo sentido”, segundo os censores. Para os militares, Chacrinha era suspeito por supostamente promover pornografia e atentar contra a moral. Para os ativistas de esquerda, ele promovia um entretenimento de massa que em nada contribuía para mudar a situação política do país.
As críticas não alteraram seu estilo de sempre: continuou atirando bacalhau para a platéia, tocando a buzina para os calouros e provocando os jurados. Estes também viraram figuras folclóricas por sua atuação ao lado do apresentador. Foi o caso da modelo Elke Maravilha, do produtor Carlos Imperial e da cantora Aracy de Almeida.
Em 1982, Chacrinha retorna para a TV Globo, apresentando até o fim de sua vida o “Cassino” nas tardes dos fins de semana. Mais uma vez, sucesso de público. Com quase trinta anos de estrada, seu personagem ainda reinava absoluto entre o povo. Apesar de alguns problemas de saúde, ele teve tempo para promover a ascensão do rock brasileiro, apresentando os playbacks divertidos de bandas como Titãs, Kid Abelha e Ultraje a Rigor.
Figura marcante de nossa cultura popular, articulador brilhante do casamento entre música e televisão, Chacrinha conquistou um lugar definitivo na memória e na saudade de todos aqueles que passaram tardes e noites acompanhando suas peripécias. Foi um dos comunicadores mais criativos do país, justificando o bordão: “Abelardo Barbosa está com tudo e não está prosa!”
FREDERICO OLIVEIRA COELHO é pesquisador do Núcleo de Estudos Musicais da Universidade Candido Mendes (NUM/Cesap/Ucam).
Saiba Mais - Livros:
BARBOSA, Abelardo (Chacrinha). Chacrinha é o desafio. Rio de Janeiro: Editora do autor, 1969.
RITO, Lúcia e BARBOSA, Florinda. Quem não se comunica se trumbica. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1996.
HOLANDA, Nestor de, Memórias do Café Nice – subterrâneos da música popular e da vida boêmia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1969.
ALZER, Luiz André e CLAUDINO, Mariana. Almanaque dos anos 80. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
Saiba mais - Conteúdo extra:
Fórum: Chacrinha vai para o trono ou não vai? Opine!
Alô, alô, Terezinha! - No You Tube, vídeos históricos do programa do Chacrinha
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