Personagem longevo na história das artes, o crítico sempre esteve num lugar próximo ao purgatório, entre o céu e o inferno
Oscar Wilde dizia, com seu habitual veneno, que “nos melhores dias da arte não existiam críticos de arte”.
Personagem longevo na história das artes, o crítico sempre esteve num lugar próximo ao purgatório, entre o céu e o inferno. Se alguns cumpriram papel importante na história ao fazerem prognósticos certeiros e relatos ponderados sobre a arte (e os artistas) de seu tempo, outros foram crucificados por conta dos equívocos e maledicência ou gratuidade de seus julgamentos.
Certo é que sempre haverá críticos, seja em revistas, seja em jornais, bares, padarias, blogs e – atualmente onde estão os mais implacáveis – nas redes sociais, afinal criticar é da natureza humana. Como compositor popular que sou, alvo tanto de balas maldosas como de salamaleques superficiais de tais personagens, e depois de acurada pesquisa no submundo do show biz, dou meu contributo a este capítulo da arte com uma catalogação moderna deste espécime tão controverso e específico, o crítico de música popular.
Segue lista com alguns tipos emblemáticos que hoje atuam com suas resenhas ora risonhas, ora odiosas:
Tipo “erudito de balada” – conhece todos os DJs hype, viu o último show do Kraftwerk no Brasil, mas não tem ideia de como esse negócio de música eletrônica começou. Nem quando.
Tipo “fanzineiro da USP” – acha Sidney Magal um artista muito interessante por conta do impacto sociológico. Já leu alguns textos do Tatit, mas diz preferir seus filmes.
Tipo “forever young” – mais velho e experiente, é no mínimo quarentão. Divide-se em dois subtipos:
“Autoexilado em Los Angeles” – quer ser único. Para se destacar dos demais, vive à caça de bandas e artistas bizarros ou pouco conhecidos. Seus critérios não se baseiam em “qualidade” ou “atualidade” do trabalho, mas na estranheza, pura e simplesmente. Suas matérias divagam sobre a bandinha australiana que toca num pub de Canberra um novo som, o “punk aborígene”, ou a nova música do leste europeu, o “cabaret-rock esloveno”, que tem influências de Kurt Weill e Kurt Cobain.
“Coroa antenado do Leblon” – repercute qualquer coisa sobre o artista-revelação do momento, mesmo que nunca tenha ouvido seus discos.
Tipo “bastião da pureza do samba” – nunca esteve numa roda de samba, mas acha que o samba é a grande expressão da alma popular brasileira. Considera “música gringa” qualquer música que não contenha pandeiro e cavaquinho, mesmo se feita no Brasil. Defende a criação de uma estátua gigante de Dona Ivone Lara em lugar do Cristo Redentor.
Tipo “defensor apaixonado do senso comum” – acha que Michel Teló e Luan Santana são interessantes como fenômenos de massa, embora não goste de sua música. Mas, afinal, se o grande público adora, certamente tem alguma mágica escondida nisso daí. Defende que música popular tem também relevância antropológica. Considera Roberto Carlos tão importante para a humanidade quanto Freud.
Tipo “fundador obsessivo-compulsivo de movimentos imaginários” – este tipo é atualmente muito comum na cena. Nomeia tudo o que vê pela frente, no afã de entrar para a história como o descobridor/propagador de algum “ismo” e, para isso, não economiza desonestidade. Nem cinismo.
Tipo “sábio de facebook” – este não é necessariamente profissional, embora seja sempre implacável. Geralmente encarna o tipo “não ouvi e não gostei”. Acha toda a produção contemporânea um lixo, embora a do passado também não tenha sido grande coisa. Costuma ser do contra, e seu lema é algo como “se dizem que é bom, só pode ser ruim”.
Há ainda outros tipos, óbvio. Mas ficam para um próximo texto.
Personagem longevo na história das artes, o crítico sempre esteve num lugar próximo ao purgatório, entre o céu e o inferno. Se alguns cumpriram papel importante na história ao fazerem prognósticos certeiros e relatos ponderados sobre a arte (e os artistas) de seu tempo, outros foram crucificados por conta dos equívocos e maledicência ou gratuidade de seus julgamentos.
Certo é que sempre haverá críticos, seja em revistas, seja em jornais, bares, padarias, blogs e – atualmente onde estão os mais implacáveis – nas redes sociais, afinal criticar é da natureza humana. Como compositor popular que sou, alvo tanto de balas maldosas como de salamaleques superficiais de tais personagens, e depois de acurada pesquisa no submundo do show biz, dou meu contributo a este capítulo da arte com uma catalogação moderna deste espécime tão controverso e específico, o crítico de música popular.
Segue lista com alguns tipos emblemáticos que hoje atuam com suas resenhas ora risonhas, ora odiosas:
Tipo “erudito de balada” – conhece todos os DJs hype, viu o último show do Kraftwerk no Brasil, mas não tem ideia de como esse negócio de música eletrônica começou. Nem quando.
Tipo “fanzineiro da USP” – acha Sidney Magal um artista muito interessante por conta do impacto sociológico. Já leu alguns textos do Tatit, mas diz preferir seus filmes.
Tipo “forever young” – mais velho e experiente, é no mínimo quarentão. Divide-se em dois subtipos:
“Autoexilado em Los Angeles” – quer ser único. Para se destacar dos demais, vive à caça de bandas e artistas bizarros ou pouco conhecidos. Seus critérios não se baseiam em “qualidade” ou “atualidade” do trabalho, mas na estranheza, pura e simplesmente. Suas matérias divagam sobre a bandinha australiana que toca num pub de Canberra um novo som, o “punk aborígene”, ou a nova música do leste europeu, o “cabaret-rock esloveno”, que tem influências de Kurt Weill e Kurt Cobain.
“Coroa antenado do Leblon” – repercute qualquer coisa sobre o artista-revelação do momento, mesmo que nunca tenha ouvido seus discos.
Tipo “bastião da pureza do samba” – nunca esteve numa roda de samba, mas acha que o samba é a grande expressão da alma popular brasileira. Considera “música gringa” qualquer música que não contenha pandeiro e cavaquinho, mesmo se feita no Brasil. Defende a criação de uma estátua gigante de Dona Ivone Lara em lugar do Cristo Redentor.
Tipo “defensor apaixonado do senso comum” – acha que Michel Teló e Luan Santana são interessantes como fenômenos de massa, embora não goste de sua música. Mas, afinal, se o grande público adora, certamente tem alguma mágica escondida nisso daí. Defende que música popular tem também relevância antropológica. Considera Roberto Carlos tão importante para a humanidade quanto Freud.
Tipo “fundador obsessivo-compulsivo de movimentos imaginários” – este tipo é atualmente muito comum na cena. Nomeia tudo o que vê pela frente, no afã de entrar para a história como o descobridor/propagador de algum “ismo” e, para isso, não economiza desonestidade. Nem cinismo.
Tipo “sábio de facebook” – este não é necessariamente profissional, embora seja sempre implacável. Geralmente encarna o tipo “não ouvi e não gostei”. Acha toda a produção contemporânea um lixo, embora a do passado também não tenha sido grande coisa. Costuma ser do contra, e seu lema é algo como “se dizem que é bom, só pode ser ruim”.
Há ainda outros tipos, óbvio. Mas ficam para um próximo texto.
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