Para relatar que a noitada tinha se prolongado por tempo demais, ao fazer seu personagem voltar para casa, o autor utilizou a imagem “quando os leiteiros já tinham recolhido a carrocinha”. Leiteiros? Carrocinhas? As crônicas selecionadas de Sergio Porto, lançadas há não muito tempo pela José Olympio em “O melhor de Stanislaw Ponte Preta”, são uma boa oportunidade de se reencontrar tipos, costumes
e expressões de um Rio de Janeiro de 50 anos atrás.
O menino brincando na beira da praia com balde de areia, o fuzileiro naval como fantasia sexual de mulheres mal amadas, o vendedor de livros, a fumaça do bar, a fita durex... Eu sei, eu sei que ainda existe fita durex, mas a gente já não usa tanto como antigamente.
Para quem acha que é novidade a irritação com a desculpa de que “caiu o sistema” para qualquer serviço que se tente obter pelo telefone, as crônicas de Stanislaw recuperam um tempo em que “os circuitos estão ocupados, queira chamar mais tarde” era o que mais se ouvia quando se tentava fazer uma ligação telefônica interurbana entre Rio e São Paulo.
Reler as narrativas, com tramas de contista e observação de cronista, que revivem a Tia Zulmira, o primo Altamirando, o distraído Rosamundo (meu preferido) e os muitos personagens de Sergio Porto/Stanislaw, não é só se deliciar com o estilo de um dos mais versáteis escritores brasileiros, mas também reconhecer ou apenas conhecer figuras típicas de uma cidade que desapareceram com o progresso.
O Rio de Stanislaw é o do tempo em que se tirava uma pestana, em que se compravam presentes de derreter vedete, em que se pagavam preços de encabular senador... Peralá, já houve um tempo em que
algum preço era capaz de deixar um senador encabulado? Não se faz senador como antigamente.
Este Rio, agora surpreendente, descrito na antologia de Stanislaw, é o da década de 60 do século passado. Mas há coisas que não mudam. Nem com o progresso. Na crônica “O apanhador de mulheres”, o autor descreve uma viagem de avião, do Rio a Recife, com duas escalas, em que se senta ao lado de um passageiro que não para de narrar suas aventuras sexuais. Aqui, ele conta sua chegada ao aeroporto:
“Eu sou danado para chegar atrasado no Galeão. Eu e o conforto. Eu ainda chego. Atrasado mas chego. O conforto é que está demorando um bocado. Em matéria de aeroporto internacional, deviam mudar o nome daquele cercado para Galinhão — parece um galinheiro, ficava mais condizente.”
Como diria um personagem de Stanislaw, é fogo na jacutinga!
e expressões de um Rio de Janeiro de 50 anos atrás.
O menino brincando na beira da praia com balde de areia, o fuzileiro naval como fantasia sexual de mulheres mal amadas, o vendedor de livros, a fumaça do bar, a fita durex... Eu sei, eu sei que ainda existe fita durex, mas a gente já não usa tanto como antigamente.
Para quem acha que é novidade a irritação com a desculpa de que “caiu o sistema” para qualquer serviço que se tente obter pelo telefone, as crônicas de Stanislaw recuperam um tempo em que “os circuitos estão ocupados, queira chamar mais tarde” era o que mais se ouvia quando se tentava fazer uma ligação telefônica interurbana entre Rio e São Paulo.
Reler as narrativas, com tramas de contista e observação de cronista, que revivem a Tia Zulmira, o primo Altamirando, o distraído Rosamundo (meu preferido) e os muitos personagens de Sergio Porto/Stanislaw, não é só se deliciar com o estilo de um dos mais versáteis escritores brasileiros, mas também reconhecer ou apenas conhecer figuras típicas de uma cidade que desapareceram com o progresso.
O Rio de Stanislaw é o do tempo em que se tirava uma pestana, em que se compravam presentes de derreter vedete, em que se pagavam preços de encabular senador... Peralá, já houve um tempo em que
algum preço era capaz de deixar um senador encabulado? Não se faz senador como antigamente.
Este Rio, agora surpreendente, descrito na antologia de Stanislaw, é o da década de 60 do século passado. Mas há coisas que não mudam. Nem com o progresso. Na crônica “O apanhador de mulheres”, o autor descreve uma viagem de avião, do Rio a Recife, com duas escalas, em que se senta ao lado de um passageiro que não para de narrar suas aventuras sexuais. Aqui, ele conta sua chegada ao aeroporto:
“Eu sou danado para chegar atrasado no Galeão. Eu e o conforto. Eu ainda chego. Atrasado mas chego. O conforto é que está demorando um bocado. Em matéria de aeroporto internacional, deviam mudar o nome daquele cercado para Galinhão — parece um galinheiro, ficava mais condizente.”
Como diria um personagem de Stanislaw, é fogo na jacutinga!
Jornal O Globo
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