domingo, 13 de maio de 2012

ENTREVISTA - "Não me vestiria de mulher"




Dono de um sítio de 145 hectares na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, Ney Matogrosso não tem tido tempo para cuidar de suas plantas, como conta em nossa ÉPOCA desta semana. Aos 70 anos, o multifacetado cantor está ocupadíssimo: no último fim de semana, reestreou o show Beijo Bandido – há dois anos na estrada; vai ocupar os telões de cinema do país em Luz das Trevas, interpretando o antológico Bandido da Luz Vermelha, a partir do dia 4; encarnou um cantor em crise na comédia O Primeiro Dia de um Ano Qualquer, de Domingos de Oliveira, ainda sem data de lançamento; e, finalmente, gravou o curta Gosto de Fel, do paulista Beto Besant, em que vive um homem extremamente violento. “Foi estranho fazer esse personagem mau, que bate em mulher. Nunca levantei a mão contra ninguém. Tive que tomar banho dois dias seguidos de descarrego para tirar o peso. Aquilo era um encosto”, afirma ele. Como se não bastasse, Ney assina também a iluminação do show Não Tente Compreender, de Mart’Nália, que estreia no dia 12. “A cada ano que passa, eu trabalho mais. Acho que vou a um astrólogo para ver o que é isso”.
Está gostando do momento ‘ator’?Já tinha trabalhado como ator em três espetáculos de teatro, mas, quando retomei, fiquei inseguro. Recebi uma proposta do Zé Celso (Martinez Corrêa) no início do ano para fazer a rainha na montagem de As Bacantes, na Europa. Mas eu não me vestiria de mulher, e ele respondeu que não me queria por isso, mas sim pela minha voz. Mas não tive como largar tudo.
O que você indica no cenário musical atual?Indiscutivelmente o Criolo. Ano passado foi a Maria Gadú. Acho tudo válido e não vou ficar julgando. A única coisa ruim no Brasil foi aquela p*** da história da garrafa (‘Na boquinha da garrafa’, do grupo É o Tchan).
O documentário Olho Nu, de Joel Pizzini, sobre os 40 anos de carreira do ex- Secos & Molhados está quase finalizado. Foram 600 horas de material transformadas em 1h50min de filme. Como foi reviver o início da sua trajetória?Sempre guardei tudo que fiz na TV. E também produzimos outras centenas de horas. Todo o material que restar vai entrar em 10 DVDs. Mas já estou pensando no próximo CD, que terá uma pegada pop-rock. Sou totalmente aberto para o mundo. Não sou voltado para o passado e nem para o futuro. Estamos todos no mesmo barco e canoa está furada, mas estamos aí.
O que faz quando não está trabalhando?Vou para o sítio ou fico trancado dentro de casa. Tenho minhas plantas que eu adoro. Meu sonho quando criança era ser jardineiro, sabia? As pessoas achavam que eu era louco, mas converso com as plantinhas, cuido delas, faço carinho. Administro nove homens que trabalham no sítio, que foi transformado em Reserva Particular de Patrimônio Natural. Toda minha produção artística é neutra em carbono; os CDs, DVDs e shows têm a quantidade de emissão de gases de efeito estufa compensada com o plantio de árvores. Recebo muitas árvores e agora estou fazendo doações para o Complexo do Alemão. Em breve vou estar lá com os moradores para plantarmos juntos, só tem que esperar uma estação de chuvas.
Acha que algo vai mudar com a conferência Rio+20, que acontece em junho?A Eco-92 não adiantou de nada. Todos estão muito preocupados, mas ninguém move um dedo. Acho que nego só vai atinar no tranco, quando a coisa estiver barbarizando e a natureza quiser tomar o que é dela.
Está casado?Não gosto de casar, acho chatíssimo. Sabe aquela coisa quando você está em casa lendo um livro e a pessoa te chama e você olha, chama pela segunda vez e na terceira você já para de ler? É a coisa da privacidade que se perde. Sempre vivi sozinho e estou acostumado com isso.


Revista Época

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