Nessa obra, Victor Hugo nos apresenta algumas das mais
contundentes questões e milenares para humanidade: a dificuldade em conviver - e
aceitar - as diferenças e as desenfreadas ambições humanas para se conseguir
aquilo que se quer.
Embora o personagem Quasímodo (o corcunda) seja a maior
representação da dificuldade para aceitar alguém ou algo muito diferente, Victor
Hugo nos mostra muitas outras no decorrer dessa leitura.
Na cidade de Paris,
meados do século XV, na torre da catedral gótica mais famosa de toda Europa,
vive Quasímodo, que significa domingo de pascoela, isto é, o domingo após a
páscoa, o sineiro da catedral. Um homem de feições deformadas, membros
detorcidos, porém sensível às manifestações da beleza em todas as suas nuances.
Alguém que sofre muito por sua imposta solidão.
Quasímodo é um ser
taciturno, que almeja sair para o mundo, ainda que este mundo seja o entorno da
catedral de Notre Dame, onde se realizam diversas festividades.
Ele foi
adotado, ainda criança, por Frollo, arcediago da catedral de Notre Dame. Um
homem que por detrás de seu pseudo-moralismo e seriedade, possui uma
personalidade vil, déspota e possessiva, um típico representante da santa
inquisição.
Um homem com plenos poderes sobre a cidade e a sociedade em que
vive? Alguém que, cobrando eternamente a bondade de ter adotado Quasímodo,
segundo ele, quando até sua própria mãe o rejeitou? E tendo-o criado na
escuridão da torre de notre dame, faz do corcunda seu escravo, além de tentar
destruir sua personalidade, igualando-o sempre a um monstro.
Durante uma das
festividades nos arredores de notre dame, as quais Quasímodo sempre assiste do
alto da torre, ocorre um pequeno distúrbio.
Observando as ocorrências,
Quasímodo vê uma linda mulher envolvida na confusão?uma beleza,
diferente,radiante. Alguém que com sua simples presença, lhe deu coragem?
A mulher estava sendo presa, acusada de criminosa, sendo machucada.
E Quasímodo, pela primeira vez, em toda a sua vida, sai da catedral para salvar aquela que, ele descobre depois, chama-se Esmeralda. O povo vê a criatura que nunca tinha visto antes? E reage de forma animalesca. Quasímodo consegue, a princípio, salvar Esmeralda? Completamente encantado por ela. Esmeralda, por sua vez, se encanta e se ressente pela situação imposta a Quasímodo. Afinal, eles são muito similares: sozinhos e considerados marginais pela sociedade,ele pela aparência, e ela por ser cigana, povo altamente repudiado pelo clero da época.
Apesar da atitude heróica de Quasímodo, Esmeralda é presa novamente. Na
prisão, é torturada por um homem que se sente atraído sexualmente por ela: o
arcediago Frollo. Ele a tortura e a machuca, pois em sua mente doentia, ela é a
representação de satã ao despertar tais sentimentos e desejos num homem santo
como ele? Nesse ínterim, um nobre cavalheiro francês, tido como herói de guerra,
chega à cidade. Conhece Quasímodo, se apaixona por Esmeralda e compra uma
verdadeira guerra com Frollo, o todo poderoso local.
Daí por diante, com uma maestria única, Victor Hugo nos apresenta a uma infinidade de personagens, situações, emoções e sentimentos que nos fazem rir, chorar e nos emocionar. A queda do herói, quando Quasímodo conhece a verdadeira face? De Frollo, a manipulação pela religião de toda uma sociedade, o preconceito, a luxúria, o ódio e a paixão, permeiam essa grande história, dita fantasiosa, mas que em outros aspectos, ocorre até os dias de hoje. Trágica - sim, de certa forma - mas, acima de tudo, uma bela lição sobre coragem, luta e amor.
Um livro, literalmente, fantástico!
Mariana Dolfim - pos graduada em Literatura Francesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário