quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Artigo de Opinião - Outubro, mês das Marias - Martinho da Vila

Rio -  Sexta-feira passada foi Dia das Crianças, mas o dia dedicado à petizada pobre é 27 de setembro, quando muita gente dá doces aos petizes como se estivesse dando aos santos: Erês, Cosme e Damião. O mês de Maria é maio (Viva N.S de Fátima!), mas deveria ser outubro, porque é o das senhoras: do Rosário, de Nazaré e da Penha. Na umbanda e no candomblé, 12 de outubro é dia de Oxum e, no catolicismo, é de N. S. Aparecida. A melhor lembrança que tenho da infância é a de uma romaria a Aparecida, de trem, com muita animação religiosa. Rezávamos o Pai-Nosso, a Ave-Maria, a Salve Rainha e o Credo, de maneira ritmada.
Também cantávamos alegremente os cânticos sacros. Foi a minha primeira saída do Rio. Tenho bem nítida na mente a chegada ao santuário onde milhares de pessoas cantavam para N. S. Aparecida o Hino da Virgem de Fátima: “A treze de maio/ Na cova da Iria/ No céu aparece/ A Virgem Maria”. Só muito depois eu entendi que a imagem preta da brasileira é a mesma da alva portuguesa. A de lá apareceu para os meninos pastores (Joaquim, Jacinta e Lúcia) e a nossa surgiu para um pescador desconhecido. Um sonho meu é voltar àquela basílica num dia 12 de outubro e cantar: “Viva Mãe de Deus e Nossa/ Sem pecado concebida/ Viva a Virgem maculada/ A Senhora Aparecida”.
Tenho os meus guias espirituais assentados, mas sou católico, embora não muito praticante. Pratico mais na Semana Santa. Sempre que possível, passo em Duas Barras o Domingo de Ramos, dia que se relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, montado no seu jumento, e fico lá até o Domingo da Ressurreição. Para a missa de ramos, costuma-se levar uma folha de coqueiro ou de bambu para ser benta na igreja de N. S. da Conceição, padroeira da minha cidade e também da Bahia, onde é Iemanjá. Acredita-se que a casa que tiver um ramo bento estará livre de assombrações e não será atingida por raios.
Nas quintas-feiras santas, tem via sacra e os santos são cobertos de roxo e assim permanecem até o Sábado de Aleluia, período de jejuns, mas eu só faço abstinência de carnes vermelhas. O Sábado de Aleluia era um dia muito alegre, com bonecos de pano pendurados em postes para a malhação do Judas pelas crianças. Não sei qual prefeito mandou acabar com a brincadeira, argumentando que a malhação era um estimulante para os espíritos vingativos, porque simulava um linchamento. É... pode ser, mas...


E-mail: palavradesambista@martinhodavila.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário