quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Você já está sabendo ? - Os impressionistas estão chegando


A exposição “Impressionismo: Paris e a modernidade” chega ao Rio para uma temporada de quase três meses e promete transformar essa passagem num marco histórico para a cidade
Foto: Jorge William / Agência O Globo
 
RIO - Lá dentro, a temperatura não pode ultrapassar os 22°C. Lá dentro, mais de dez desumidificadores trabalham dia e noite para reduzir a umidade do ar. Lá dentro, fala-se francês, vê-se Renoir, Monet, Gauguin e Cézanne. Lá dentro é (ou deveria ser) Paris.
Há uma semana, dez franceses tentam “domar” o clima carioca e converter pelo menos sete salas do Centro Cultural Banco do Brasil numa espécie de sucursal do Museu d’Orsay. O esforço terá de durar de segunda, às 19h, quando o CCBB inaugura para convidados a mostra “Impressionismo: Paris e a modernidade”, até 13 de janeiro — quando, do lado de fora, os termômetros não devem deixar por menos de 40°C.
Com 85 telas da coleção do D’Orsay, a mostra que se propõe a recriar Paris no CCBB do Rio chega à cidade com objetivos numéricos também ambiciosos: é a aposta (de R$ 11 milhões, diga-se) do centro cultural para superar seu recorde de público, registrado em 2011, na exposição do holandês M.C. Escher que, com 9.677 visitantes por dia, foi apontada pela “ArtNewspaper”, publicação especializada no mercado de arte, como a mais visitada do mundo em 2011. E o prognóstico atual soa favorável: em São Paulo, onde esteve de agosto ao início deste mês, “Impressionismo” arrebanhou 320 mil visitantes ao todo, ou 5.552 pessoas por dia.
É a primeira vez que o D’Orsay envia ao Brasil parte de sua principal coleção, a de impressionistas e pós-impressionistas. Embora o orçamento seja divulgado (os R$ 11 milhões erguidos por um pool entre a seguradora Mapfre, Cielo, Banco do Brasil e seus fundos, via Lei Rounet), nada se diz sobre as cifras do seguro para proteger as joias. Sabe-se, porém, que as 85 telas não viajam no mesmo avião. São distribuídas em seis aeronaves, como herdeiros de uma família milionária. O CCBB anuncia a mostra como o maior projeto de sua história.
Cada sala é monitorada por pelo menos duas câmeras de segurança. Para cada funcionário que toca numa tela, um conservador do museu é acionado para verificar, com lupa e lanterna, se houve danos. A iluminação é calculada de acordo com as dimensões de cada pintura — a luz tem intensidade definida pelos restauradores do D’Orsay para minimizar efeitos sobre as pinceladas. O ambiente, assim, é quase escuro, intimista. As salas, de paredes pintadas com as cores do museu parisiense (azul, vermelho e verde), devem receber apenas 50 visitantes por vez — e nada de foto. Para suprir o desejo de registro, o CCBB instalou grandes painéis na entrada com reproduções das salas do D’Orsay.
— O público vai se sentir em Paris! Isso não é incrível? — diz em entrevista ao GLOBO o diretor do museu, Guy Cogeval. — Estou encantado com esse edifício (do CCBB carioca), que é maior que o de São Paulo e está cercado de tantas construções históricas, de algo barroco, como a ópera (ele se refere ao Teatro Municipal, na Cinelândia). É mesmo como estar em Paris.
Do lado de fora da Paris carioca, o pipoqueiro em frente ao CCBB segue com as versões doce e salgada a partir de R$ 2, um grupo de moradores de rua observa o trânsito e dois ônibus interrompem a faixa de pedestres. Mas lá dentro, na Paris de até 22°C, é preciso usar casaco e pode-se comer um pain au chocolat por R$ 5 com um capuccino médio de R$ 6,40. Lá dentro, a curadora do D’Orsay, Caroline Mathieu, repete que “vocês (os brasileiros) poderão admirar sete Renoir de uma só vez!”.


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