segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Crônica do Dia - Contra o Tempo - Leda Nagle





Rio -  O ano passou como um raio. Confesso que me dei conta disto numa loja de telefones, enquanto uma moça simpática de nome Agnes trocava meu plano de telefone e, por conta da lentidão do sistema, me contou que a mãe dela já está preparando a decoração da casa de Pilares para o Natal, fazendo enfeites, comprando bolas e laços. Hoje em dia é assim, todo mundo parece estar no amanhã, correndo em direção ao futuro. Tenho amigos que no sábado à tarde já leram os jornais de domingo.
E se comento com eles, no domingo, uma notícia que acabei de ler nos jornais, a resposta vem num tom de tédio, porque para eles, a notícia é de ontem e ontem já passou, já era. Quando foi que a gente começou a ficar assim, correndo esta maratona do dia a dia, tentando ser cada vez mais rápidos, mais eficientes, mais ausentes do hoje, mais perto do amanhã? E para que serve mesmo esta pressa toda, esta necessidade de ultrapassar o tempo? Não sei. Mas sei que um dos meus melhores amigos já comprou todos os presentes que vai dar no Natal, as vitrines das lojas já estão nas cores do verão, pobre da primavera, e muitos prestadores de serviço só aceitam marcar dia e hora para o ano que vem.
O ano acabou, avisam alguns, como se tudo isto fosse muito natural, como se oitenta dias não fossem nada, como se tentar antecipar o tempo e os acontecimentos melhorasse a vida. Mas será que melhora, ou piora? O estresse é o mal do século, alertam médicos e psicólogos, avisando que é preciso prestar atenção na respiração, desenvolver estratégias para lidar com as tensões do dia a dia, correr menos pra viver mais. Fico falando e escrevendo sobre isto, mas também me deixo levar pela correria que se passa à minha volta.
Todo dia reclamo da falta de tempo, da rapidez com que ele passa, do que queria fazer e não fiz, e do que deveria ter feito e não deu tempo. O tempo é um carrasco não só quando se trata do envelhecimento. É implacável também nas questões mais comuns do cotidiano. E tudo parece conspirar para reduzir o tal do tempo. É o sistema que cai, é o trânsito que nos detém, é a lentidão do outro que não entende o que a gente quer, é a fila que não anda, é a consulta que atrasa, é a comida que não chega, e o telefone que está fora de área, é o trem que quebra, é a barca que para, é a vida que emperra.
E é a gente tentando ganhar tempo, desesperados e estressados, lutando contra o hoje, buscando o amanhã. A ansiedade também é um mal deste século. Será que esta correria vale à pena? O que é que a gente vai ganhar com isto? Será que a gente vai ser mais feliz amanhã? No Natal? Ano que vem? 




Leda Nagle

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