Era um dia normal de trabalho para a consultora de marketing Lucia Barros. Ela estava em sua mesa mexendo em seu computador, quando recebeu um e-mail que mudaria sua vida. Era um convite de uma colega de faculdade para conhecer um projeto voluntário para ensinar inglês em favelas de São Paulo. Lucia, que acabara de chegar de uma temporada de seis meses em Londres, resolveu experimentar. No domingo seguinte, numa sala emprestada de uma igreja do Capão Redondo, um bairro pobre da cidade, deu sua primeira aula. “Estava nervosa. Nunca tinha feito aquilo antes”, diz. “Mas descobri que minha vocação era dar aulas.” Ela virou professora voluntária da ONG Cidadão Pró-Mundo. Em 2010, assumiu a presidência da ONG. Aos 30 anos, concilia o trabalho voluntário com a carreira de marketing numa empresa de pesquisas e, agora também, de professora universitária.
Atualmente, a ONG atende 700 alunos em oito comunidades nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de Diadema, na Grande São Paulo, Bragança Paulista, no interior paulista, e Volta Redonda, no interior fluminense. Em cada comunidade, as aulas ocorrem em salas emprestadas de igrejas, escolas estaduais ou outras ONGs. A equipe tem 270 professores e administradores, todos voluntários. Eles recebem treinamento na Universidade de São Paulo e material didático do Yázigi.
A criação da Cidadão Pró-Mundo foi uma iniciativa do consultor de empresas Marcos Fernandes. Em 1997, ao levar um amigo estrangeiro para conhecer a comunidade do Capão Redondo, Marcos percebeu a curiosidade e o interesse dos jovens em se comunicar com o amigo e teve a ideia de ensinar inglês. O idioma permitiria não só falar com um visitante estrangeiro, mas abriria portas profissionais.
Foi o que aconteceu com a estudante Lorrayne dos Santos, de 18 anos. Moradora da favela do Real Parque, em São Paulo, ela conheceu a Cidadão Pró-Mundo aos 13. Começou como aluna, terminou o curso e se tornou professora voluntária. Deixou a ONG para se dedicar aos estudos do ensino médio e ao novo emprego. Há quatro meses, trabalha no cargo de assistente bilíngue numa loja de artigos esportivos. “Fui contratada agora porque falo inglês. Já ajudei vários clientes estrangeiros”, diz. Lorrayne também aprendeu francês e espanhol, com bolsas de estudos para baixa renda.
A precariedade do inglês no Brasil é dramática, considerando as oportunidades de trabalho trazidas pela internacionalização das empresas brasileiras, pela chegada de multinacionais e pelos eventos como a Copa do Mundo e a Olimpía¬da. Entre 2007 e 2009, a escola de intercâmbio Education First (EF) avaliou 2 milhões de estudantes de inglês de 44 países. Os brasileiros ficaram em 31o lugar, atrás de países como Guatemala, El Salvador, Malásia e Arábia Saudita. O segundo idioma tem se tornado fator determinante para a contratação nas empresas. “Em qualquer processo seletivo, quem fala inglês se destaca”, afirma Eduardo Oliveira, superintendente de operações do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Apenas 20% dos candidatos a estágio cadastrados no CIEE sabem inglês. “É muito pouco”, diz Oliveira.
Para os próximos anos, a intenção é expandir a Cidadão Pró-Mundo para mais comunidades brasileiras. “Queremos ter um modelo que qualquer um consiga reproduzir, desde que haja pessoas querendo aprender e outras querendo ajudar.” A expansão depende também de ajuda financeira, já que a principal fonte de doações da ONG são pessoas físicas. “Buscamos parcerias com empresas grandes, mas ainda não aconteceu”, diz Lucia.
Para os próximos anos, a intenção é expandir a Cidadão Pró-Mundo para mais comunidades brasileiras. “Queremos ter um modelo que qualquer um consiga reproduzir, desde que haja pessoas querendo aprender e outras querendo ajudar.” A expansão depende também de ajuda financeira, já que a principal fonte de doações da ONG são pessoas físicas. “Buscamos parcerias com empresas grandes, mas ainda não aconteceu”, diz Lucia.
Revista Época
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