quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Você já está sabendo ? - Um passeio pela intimidade de Tom Jobim


Tom na sala do famoso apartamento, em Ipanema
Foto: Divulgação/Instituto Antonio Carlos Jobim
 
A canção “Carta ao Tom 74”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, abre com a descrição da cena do maestro ensinando a Elizeth Cardoso as músicas do disco “Canção do amor demais”, no apartamento da Rua Nascimento Silva 107. Foi apenas um dos muitos momentos históricos presenciados naquela sala, que será em parte recriada na exposição “Tom Jobim — Música e natureza”, no Instituto Antonio Carlos Jobim, no Jardim Botânico — com abertura marcada para o próximo dia 30. Junto com o piano e a mesinha em que o artista trabalhava, a mostra terá fotos registrando outros encontros realizados ali (com Ary Barroso, Newton Mendonça, João Gilberto, Luiz Bonfá), no lugar onde foram compostos clássicos como “Garota de Ipanema”, “Desafinado”, “Samba de uma nota só” e “Orfeu”.
Cenografia evoca suas casas
O endereço de Ipanema será um dos pilares da exposição, que ocupará 190 metros quadrados. O outro cenário central da mostra faz referência à casa de Tom no Jardim Botânico — no qual se chegará à sua relação com a natureza, um dos eixos da mostra.
— Ele vai para fora, para os Estados Unidos, e depois se volta para dentro, para a natureza do Brasil, com “Matita Perê”, “Águas de março”. Era ecologista antes de esse conceito sequer existir — diz Elianne Jobim, que assina a curadoria da exposição ao lado do marido (e filho do maestro) Paulo Jobim.
De forma menos evidente, o sítio em Poço Fundo, onde o maestro compôs “Águas de março”, também será lembrado em peças como o manuscrito da canção — que tem marcas de queimaduras das brasas de seu charuto.
— Os manuscritos, as partituras, são uma forma de se chegar perto da criação. Ainda não sabemos o que vai entrar ou não, mas temos manuscritos com letra dele com Vinicius, com Newton Mendonça, algo disso vai estar na mostra — conta Elianne.
Paulo acrescenta:
— Há versões diferentes das letras, uma “Desafinado” em que Newton rima Rolleiflex com durex, por exemplo.
A exposição dá uma panorâmica sobre Tom, desde a infância até seus últimos anos (ele morreu em 1994, aos 67). Estarão lá objetos, imagens e documentos que, em muitos casos, nunca foram expostos antes — alguns já estão disponíveis no acervo digitalizado do instituto (www.jobim.org, que poderá ser acessado em monitores na mostra), presidido por Elizabeth Jobim, também filha do maestro. Além do piano e da mesinha, a mostra terá o chapéu do artista, sua caixa de pios de pássaros, partituras e prêmios como o Grammy dado postumamente ao compositor em fevereiro de 2012, pelo conjunto de sua obra.
Sua discografia completa (incluindo álbuns divididos com outros artistas, como Elis Regina) será mostrada em painéis, com faixas, ficha técnica e comentários sobre cada álbum, incluindo informações e curiosidades de bastidores.
— Em seu primeiro disco, o técnico de som da mesa era o (produtor americano) Phil Ramone, que ganhou um Grammy (seu primeiro) com o disco “Getz/ Gilberto” — conta Paulo.
A infância, os pais e sua vida antes do início da carreira artística serão lembrados em fotos espalhadas por vitrines na entrada da exposição. No espaço principal, além da recriação dos dois endereços de Tom, duas telas projetarão vídeos e fotos de diferentes momentos do trabalho e da intimidade do maestro — ele tocando na TV americana, com João Donato ao piano, ou imagens inéditas, como a de Tom segurando um peixe, iluminado por uma fogueira, após uma pescaria no Rio da década de 1960.
Atravessando toda a exposição, como som de fundo, a fala, o canto e o piano de Tom, pelo áudio do disco “Antonio Carlos Jobim em Minas ao vivo — piano e voz” (2004), no qual o artista passeia, sozinho, por diversos momentos de sua carreira, com comentários entremeando as canções. Uma forma de sublinhar sua presença ali, como uma espécie de narrador de sua história.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/tom-jobim-vira-tema-de-mostra-6469829#ixzz2AGGTlR4t

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