terça-feira, 30 de outubro de 2012

Crônica do Dia - Drogas: o que fazer? - Frei Betto

 

 
 
 
 
O tráfico de drogas no mundo movimenta, por ano, US$ 400 bilhões. Os dados são do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. O consumo de drogas mata, a cada ano, 200 mil pessoas.
O Brasil é, hoje, o segundo maior consumidor de cocaína, atrás apenas dos EUA. Dados de 2010 indicam que 27 milhões de brasileiros já consumiram o pó derivado da folha de coca. Entre 2004 e 2010, foram aprendidas, no país, 27 toneladas de cocaína.
Um debate se impõe: como lidar com a questão? O número de usuários e dependentes aumenta, o tráfico dissemina a violência nas cidades, as medidas repressivas não surtem efeito.
No Brasil, já conta com mais de 120 mil assinaturas o anteprojeto à mudança da Lei 11.343/2006, proposta pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. O anteprojeto diferencia usuário e traficante. O usuário seria advertido, prestaria serviços à comunidade e, caso necessário, encaminhado a programas de reeducação. O traficante continuaria sendo punido.
O consumo cresce muito mais rápido que todas as medidas tomadas para coibi-lo. Encontrar a solução adequada não é fácil. A descriminalização do consumo me parece uma medida humanitária. Todo dependente químico é um doente e precisa ser tratado. Ainda que se mantenha a proibição das chamadas drogas pesadas, como estancar a disseminação do crack, mais barato e tão devastador?
A droga é um falso sucedâneo para quem carrega um buraco no peito. Esse buraco resulta do desamor e das frustrações frequentes numa sociedade tão competitiva. Uma cultura que se gaba de ter fechado o horizonte às utopias encurrala, sobretudo os jovens, em ambições muito mesquinhas: riqueza, fama e beleza.
Frei Betto é escritor, autor de ‘O vencedor’, romance sobre drogas

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