A internet e as redes sociais estão tornando as amizades superficiais? Para responder a essa pergunta, a escritora americana Arlynn Presser, de 51 anos, optou por uma solução radical: conhecer pessoalmente, um a um, todos os seus 325 amigos virtuais. Ela tomou a decisão ao terminar um casamento de 23 anos, no mesmo momento em que vivia a síndrome de “ninho vazio” – seus dois filhos, Joseph, de 23 anos, e Eastman, de 19, haviam saído de casa para iniciar a vida de adulto. “Eu me senti desconectada de minha família e percebi que dependia de meus amigos do Facebook”, disse Arlynn a ÉPOCA. “Mas quem eram aquelas pessoas? Seriam amigos de verdade, mesmo que eu não os visse com frequência ou, em alguns casos, sem nunca tê-los conhecido pessoalmente?”. De janeiro a dezembro de 2011, Arlynn deixou a pequena Winnetka, município de 12 mil habitantes no Estado americano de Illinois, e viajou por 51 cidades em 11 países. Em seu périplo, fez 45 voos, encontrou 292 amigos e superou um terrível inimigo interior – Arlynn sofre de um distúrbio de ansiedade que, nos últimos anos, a impedira de sair de casa. Ela reencontrou colegas dos tempos de escola e conheceu cara a cara seus adversários nos jogos virtuais. Alguns “amigos” não acharam tempo para Arlynn. Um exigiu que ela fosse sozinha a sua casa. Arlynn recusou. No balanço, diz que a experiência foi enriquecedora: “Senti-me muito próxima de algumas pessoas, mas percebi que sempre fica uma distância imposta pela internet”.
Arlynn iluminou um pouco mais sua vida, mas não decifrou o enigma da amizade em tempos de redes sociais. “Virou lugar-comum pensar que a versão virtual das relações é inferior ao correspondente real”, escreveu o filósofo holandês Johnny Hartz Søraker. “Essa percepção, aliada à ideia de que os relacionamentos virtuais substituirão os presenciais, nos leva à conclusão de que devemos concentrar esforços nas amizades reais em vez de procurar substitutas virtuais.” Essa visão, diz Søraker, professor da Universidade de Twente, não é inteiramente verdadeira. “É preciso considerar a possibilidade de as amizades virtuais suscitarem confiança e espalharem felicidade.”
Os limites da amizade via internet ainda não estão definidos – e são objeto de intensa controvérsia, teórica e prática. Filósofos como Søraker especulam sobre o futuro da amizade e das relações humanas. Pessoas comuns como os 54 milhões de brasileiros inscritos no Facebook se perguntam se aquilo que elas fazem todos os dias, se as horas que dedicam ao trato e à troca com pessoas que nunca olharam nos olhos são apenas uma perversão digital do mais nobre dos afetos humanos. Os amigos do Facebook são desbravadores que responderão, na prática, à pergunta definitiva: é possível criar amizades verdadeiras pela internet e cultivá-las à distância? Ou, na verdade, as redes sociais estão nos isolando atrás da tela do computador?
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