Os segredos da soja atraem pesquisadores de diversas partes do mundo. Ora respeitada, ora renegada pela ciência, sua produção mundial aumentou 150% em 20 anos, atingindo 263,7 milhões de toneladas na safra 2010/2011, segundo dados do do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Sabe-se que o grão tem importantes características nutritivas, pode desempenhar papel contra doenças cardiovasculares e, inclusive, ser uma boa alternativa à terapia hormonal tradicional. Por outro lado, estudos apontam que a soja traz riscos de câncer de mama e até infertilidade masculina. Perigos que, por enquanto, são contestados.
Devido a suas funções sobre os hormônios, o departamento de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) vem, desde 2002, estudando as propriedades da soja. Apesar de todas as especulações, o professor José Maria Soares Júnior garante que o grão tem efeito comprovado no controle das ondas de calor das mulheres na menopausa. O motivo é a isoflavona, substância com características parecidas com o hormônio feminino estrogênio, geralmente usado em tratamentos de reposição hormonal.
Soja alivia sintomas da menopausa
— A indicação da soja é para ondas de calor de fraca a moderada intensidade. Quando é muito forte, aí só o estrogênio para controlar. O interessante é que ela não tem alguns dos impactos negativos do hormônio feminino, como o risco de trombose — defende Soares, que lembra que a soja brasileira tem baixas concentrações de isoflavona, o que torna necessário o consumo de medicamentos manipulados ou comprimidos prontos da substância.
A constatação não é apenas da Unifesp. Em abril deste ano, um artigo publicado no periódico “Menopause” examinou 19 estudos anteriores, dos quais participaram, ao todo, 1.200 mulheres. Na maioria deles, os pesquisadores apontaram para uma redução de até 26% (comparado com placebo) das ondas de calor quando a paciente consome soja diariamente.
— Quando juntamos todas as descobertas, vemos que seu efeito, de maneira geral, é positivo — afirma Melissa Melby, coautora da publicação e professora de antropologia médica da Universidade de Delaware.
A ingestão sugerida é de pelo menos 54 miligramas de isoflavona diariamente e por um período de seis semanas. Com o consumo prolongado, de 12 semanas ou mais, a redução da onda de calor foi três vezes mais bem-sucedida.
Por outro lado, a mesma substância, a isoflavona, pode ter influência no desenvolvimento de câncer de mama, de acordo com algumas pesquisas recentes. Apresentado no encontro anual da Associação Americana de Pesquisa sobre Câncer, em abril deste ano, um estudo da Universidade Georgetown sugeriu que o consumo de soja pode levar ao aumento da resistência a um remédio usado no tratamento dos tumores. O professor José Maria Soares Júnior aconselha que mulheres que já tiveram câncer de mama evitem o uso de soja como alternativa de tratamento. Mas a mesma recomendação é dada para a reposição tradicional, com estrogênio.
— Não há estudos suficientes que mostrem a relação da isoflavona com o câncer de mama ou de endométrio. Mesmo assim, pacientes com câncer não podem usá-la — afirma.
Já uma pesquisa do Centro Médico da Universidade Nashville, nos Estados Unidos, diz o contrário. Apresentado em 2011 no encontro anual da mesma associação, o estudo com 18.312 mulheres mostrou que o consumo de soja não aumenta os riscos de desenvolver câncer de mama.
— Mulheres que querem ter uma vida saudável podem, com segurança, incluir a soja em suas dietas — afirmou o professor Xiao Oh Shu, da Universidade de Nashville. — Além da isoflavona, que pode agir como o estrogênio no corpo, a soja tem propriedades contra o desenvolvimento de câncer.
Perigo ronda homens e mulheres
Não são apenas as mulheres que podem sofrer os efeitos negativos da soja. Uma polêmica pesquisa da Universidade de Harvard, divulgada no periódico “Human Reproduction”, apresentada em 2008, até hoje gera discussão sobre o efeito do grão na fertilidade masculina. Homens que se alimentavam de grandes quantidades de soja poderiam ter a concentração de esperma reduzida. O estudo avaliou 99 homens entre 2000 e 2006.
Soares Júnior pondera que as “grandes quantidades” de soja descritas no estudo dificilmente seriam consumidas por um homem:
— Este risco é para o consumo intenso de soja, de mais de um quilo por dia. Mesmo que uma pessoa coma carne de soja, tofu, leite de soja, dificilmente atingirá este nível.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/alternativa-polemica-6107254#ixzz28lVRs66b
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