segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ainda é tempo de você saber - "No humor, todos somos insubstituíveis" Chico Anysio


Chico Anysio era mais que um humorista: era vários. Ao morrer na sexta-feira, dia 23, em consequência de problemas cardiorrespiratórios no hospital Samaritano do Rio de Janeiro, Chico levou junto 208 personagens, criados e interpretados em 64 anos de carreira no rádio e na televisão.

MESTRE   Chico em 2007. Ele criou personagens inesquecíveis  (Foto: Edu Monteiro/Ed. Globo)

Nascido em 12 de abril de 1931 em Maranguape, no Ceará, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho imitava personalidades desde os 10 anos. Aos 14, preparou um número com 32 vozes que o fez ganhar inúmeros concursos de calouros. Enquanto se apresentava em clubes no Rio, Chico estudava para entrar na faculdade de Direito. Passou, em 1948, mas não cursou. Dias antes ele se destacara em dois testes para a Rádio Guanabara. Acabou contratado como locutor, ator de radionovela, autor de três programas e comentarista esportivo. “Eu, um pretenso advogado, em dez dias tinha quatro empregos”, disse. Em 1949, iniciou a carreira de redator na rádio Mayrink Veiga. Ali, escreveu o programa Escolinha do Professor Raimundo.

Com a fama conquistada no rádio, Chico Anysio foi parar na TV Rio em 1957, levado por Walter Clark. Interpretou pela primeira vez o Professor Raimundo na televisão e se tornou o diretor dos shows da emissora. Aproveitando o surgimento do videoteipe, em 1960, o diretor Carlos Manga, para quem Chico Anysio escrevera 18 chanchadas, propôs a gravação de um programa com vários personagens do humorista. Surgia o Chico Anysio show, a semente de todos os programas que o consagraram na televisão. Depois de passagens pelos canais Excelsior, Tupi e Record, Chico foi contratado pela TV Globo em 1969. Seu programa humorístico, então mensal, passou a ser semanal em 1973. Ao longo dos anos, a galeria de personagens incluiu o ator canastrão Alberto Roberto, o político Justo Veríssimo, a gaúcha Salomé e o jogador de futebol Coalhada. Chico dizia que o humor era irmão da poesia e arma para protestar e denunciar. “O humor é tudo, até engraçado.”

Nos anos 1990, ele se concentrou na Escolinha do Professor Raimundo. O programa foi suspenso em 1997, depois que Chico fraturou o maxilar num acidente. Com paralisia parcial do rosto e problema nas cordas vocais, passou uma temporada nos Estados Unidos para fazer um tratamento. Não parou de produzir. Pintava, escrevia roteiros e criava personagens. Voltou ao país em 1998. A Escolinha do Professor Raimundo ficou no ar até 2001, como um quadro do programa Zorra total. Aos que diziam que o humor feito de bordões e personagens típicos estava datado, Chico Anysio respondia: “Só existem dois tipos de humor: o engraçado e o sem graça”.

Fiel ao humor engraçado, em outros assuntos não se importava em mudar de posição. Nos anos 1980, mudou o sobrenome de Anísio para Anysio. Dizia-se torcedor do Vasco, tanto quanto já fora do Flamengo e do América. Casou-se sete vezes e teve oito filhos. “No casamento, como na vida, não se aprende com as vitórias, e sim com as derrotas”, dizia. Chico vivia havia dois anos com a empresária Malga di Paula, de 49 anos. Quando foi internado com infecção no aparelho digestivo, em 2010, ela prometeu levá-lo de volta para casa. Após mais de 70 dias em coma, recuperou-se, e ela pôde cumprir a promessa. Chico retornou ao Zorra total, mas se afastou por problemas de saúde em outubro. Na última quarta-feira, dia 21, foi internado com sangramento no aparelho digestivo e se submeteu a uma hemodiálise. Em dezembro de 2011, ele afirmou: “A frase ninguém é insubstituível aplica-se a tudo, menos ao humor. No humor, todos somos insubstituíveis
”.

REVISTA ÉPOCA   

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