segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crônica do Dia - Viva São Jorge! Saravá Ogum!




Esta segunda é um dia sagrado para os católicos, candomblecistas e umbandistas. Muitos dos religiosos que vão assistir a missa em Igreja do Santo Guerreiro vão também a terreiros espíritas, no mesmo dia.
A oração de São Jorge, embora seja da igreja católica, tem forte conotação espírita como se pode ouvir, no Youtube, na gravação feita pelo Pedro Bial e na versão criada por Marquinhos PQD e Claudemir, com adaptação de uns versos escritos pelo Jorge Benjor, na voz do Zeca Pagodinho: “Eu sou descendente Zulu. Sou um soldado de Ogum, um devoto dessa imensa legião de Jorges. Eu, sincretizado na fé, sou carregado de axé e protegido por um cavaleiro nobre. Sim, vou na igreja festejar meu protetor e agradecer por eu ser mais um vencedor nas lutas, nas batalhas. Sim, vou no terreiro pra bater o meu tambor. Bato cabeça, firmo ponto, sim, senhor. Eu canto pra Ogum, um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais. Ele vem de Aruanda, ele vence demanda de gente que faz. Cavaleiro do céu, escudeiro fiel, mensageiro da paz. Ele nunca balança, ele pega na lança, ele mata o dragão. É quem dá confiança pra uma criança virar um leão. É um mar de esperança que traz a bonança pro meu coração. Deus adiante, paz e guia. Recomendo-me a Deus e a Virgem Maria, minha mãe. Com os 12 apóstolos meus irmãos andarei neste dia e nesta noite, com meu corpo cercado, vigiado e protegido pelas armas de Jorge. São Jorge sentou praça na cavalaria e estou feliz porque também sou da sua companhia. Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge para que meus inimigos tendo pés não me alcancem; tendo mãos não me peguem nem me toquem; tendo olhos não me enxerguem e nem pensamento eles possam ter para me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão. Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar. Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar, pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge da Capadócia e com a falange do Espírito Santo. São Jorge!”.
Quando se fala em sincretismo, as cabeças viajam de regresso ao tempo da escravidão no Brasil. Diz a história que os escravos impedidos de praticar suas crenças, nos dias santos cantavam como se estivessem festejando o santo do dia dos senhores. Assim, no dia de São Jerônimo, cantava-se para Xangô, no de São Lázaro para Obaluaê... Iemanjá é Nossa Senhora da Conceição e a mãe da mãe de Jesus, Sant’Ana, é venerada como Nanã Buruku, a mais antiga das divindades das águas. Há pequenas diferenças regionais no sincretismo. Como tudo começou não se sabe, mas eu creio que, com a venda de escravos para outras fazendas, a tática foi passada de boca a boca, como até hoje são passados os segredos das religiões africanas. Mas, como explicar o sincretismo quase igual numa cidade do Sul ou do Centro-Oeste com outras do Norte ou do Nordeste do nosso Brasil tão grande? E a enorme semelhança do nosso candomblé com o cubano? É um mistério.

Martinho da Vila
Jornal O Dia

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