Aprendi que devemos ser diretos quando desejamos comunicar e minimizar interpretações equivocadas. Também aprendi que, se desejarmos reter a atenção do leitor, em meio a tantas coisas interessantes e estímulos, nós temos que encantar já no primeiro parágrafo. Como eu não sou jornalista e nem escritor, resta-me pedir que você tenha um pouco de paciência e não desista de ler este artigo até o final, sinceramente preciso de sua atenção.
A reportagem “Como é feita a fraude em licitações de Saúde pública”, veiculada pela TV Globo no programa “Fantástico” do dia 18 de março, teve muitos desdobramentos. Para quem não viu vale um resumo. O repórter Eduardo Faustini, autorizado por mim, e sem o conhecimento da Reitoria, por dois meses utilizou uma sala do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro para produzir a matéria. Passando-se por gestor de compras, convidou – utilizando critérios que desconheço – várias empresas para participar de licitações emergenciais. Foi um Deus nos acuda, choveram ofertas de propinas, e fomos apresentados a uma nova definição de “ética” de deixar qualquer pessoa, de princípio, estarrecida. Ficou claro que as leis vigentes impedem que tenhamos agilidade na gestão pública, porém não evitam, de forma alguma, que gestores desonestos se locupletem sem deixar rastros. “Eu protejo o meu cliente e o meu cliente me protege, é assim que eu faço e ensino aos meus filhos”, um deles falou com a maior tranquilidade do mundo e dentro da “ética” do mercado.
Preciso deixar claro quatro pontos:
Os funcionários do Instituto de Pediatria da UFRJ não compactuam com práticas escusas;
O Instituto de Pediatria da UFRJ, por decisão do diretor e do vice, franqueou uma sala para realização da reportagem. Em momento algum houve, por parte do nosso Instituto, denúncia ou indicação de empresas para a pseudoconcorrência;
O reitor da UFRJ, professor Carlos Levi, embora comunicado que a matéria iria ao ar no sábado, dia 17 de março, apenas no domingo à noite é que assistiu à reportagem;
As empresas citadas na matéria não fornecem para a UFRJ.
A indignação tomou conta de todas as pessoas, o Ministério Público, Ministério da Educação, Defensoria Pública, Polícia Federal, entidades de classe, sociedades organizadas, OAB-RJ, cidadãos comuns, governadores e prefeitos e, até mesmo, a Presidência da República (presidente Dilma e o vice-presidente Michel Temer) manifestaram suas insatisfações.
Vale ressaltar que concordamos em ceder o espaço para a reportagem objetivando a esclarecer um roubo de cento e vinte mil reais (R$120.000) ocorrido em julho de 2011 e denunciado para a Polícia Federal e Auditoria da UFRJ na mesma época. Seis meses após, sem nenhuma resposta, fomos dominados pela angústia da espera e vimos na imprensa, reconhecidamente o quarto poder, a saída para o impasse. Logramos êxito, apenas três dias após a veiculação da matéria soubemos que a Polícia Federal, de forma brilhante, tinha desvendado o crime e identificado o culpado. A ferramenta por nós utilizada acabou revelando outra mazela: a corrupção institucionalizada, uma ferida infectada, fétida, necrosada, que não cicatriza.
Perdoem-me os que nos criticam, não temos que pedir desculpas por termos permitido que a reportagem fosse feita, quem tem que se desculpar e se justificar são as pessoas que praticam e/ou compactuam com a corrupção e atos ilícitos e fazem lesa-pátria.
Finalizando, a minha leitura é que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, através do Instituto de Pediatria-UFRJ, saiu fortalecida deste episódio marcante ao permitir que tal reportagem fosse feita. Até porque não compactuar com a corrupção é uma das melhores formas de exercer cidadania. Quem rouba da Saúde mata pessoas.
EDMILSON MIGOWSKI é diretor do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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