Não tenha ciúme dos amigos solteiros de seu marido. Deixe-o acampar com eles num fim de semana, se for sua vontade. Ele vai voltar renovado e cheio de saudades de casa.” O conselho vem do livro Don’ts for wives, de Blanche Ebbut, lançado em 1913 e traduzido com o título O que as esposas NÃO devem fazer. A ideia pode ser adaptada. Que tal permitir que seu marido “acampe” com amigos no Carnaval? Nesse caso, dou meu próprio conselho. Não ligue a televisão. Tudo o que pode dar errado dá errado, diz a Lei de Murphy. Um amigo deixou a noiva isolar-se num retiro religioso para evitar a folia. Até se vangloriou:
– Vou aproveitar enquanto ela reza!
Esbaldar-se, para ele, era reunir uns camaradas e tomar cerveja na frente da televisão. Ligou num baile. Lá estava a “piedosa”, seminua, sambando no Carnaval carioca. Essa história é recorrente. Sei de várias versões, todas verdadeiras. Como a do pai de um rapazinho nerd que foi “viajar para a praia”. E que apareceu de baiana num bloco da Bahia. Foi a mais estrondosa saída do armário de que tenho notícia.
Ciúme não combina com Carnaval nem com qualquer outra data. Simplesmente porque é inútil. Quem quer cometer uma infidelidade faz isso, não importa a data. Embora baladas, Carnaval e – ai, meu Deus – acampamentos sejam bem propícios. Relaxe, se conseguir. Todo casal precisa de “férias” de vez em quando. Passar uns dias separados pode fazer bem para o casamento, como diz o livro. Apesar dos riscos. Permitir que o marido saia com amigos e tenha bons momentos de camaradagem masculina é parte da sabedoria feminina. A mulher sábia não torna o escândalo uma rotina. Boa parte dos homens sente obrigação de flertar diante de uma mulher ultradecotada, por exemplo. Mesmo que o desejo sexual esteja distante. E que ele vá correr como um coelho assustado se a bonitona perguntar:
– Meu apartamento, o seu ou motel?
A sábia não aproveita o lance para brigar, porque isso soará como vitória do ponto de vista masculino. Aguarda a próxima oportunidade de deixá-lo em chamas, seja na compra de uma bolsa Louis Vuitton ou ao marcar sua própria viagem de negócios. Da mesma maneira, cabe ao homem saber que, em certas ocasiões, a mulher gosta de provar quão fascinante ela é. Tenho vários amigos que namoram ou são casados com rainhas de bateria. Imaginem a sensação de assistir a sua mulher desfilar seminua diante de milhares de pessoas e televisores de todo o país? São homens sábios, que aprenderam a domar o ciúme.
Admito. Permitir que seu amor passe os dias de folia longe de seus olhos é de doer. Mesmo porque, dali a pouco, você pode descobrir que o celular está fora de área. Pode ligar para a casa da pessoa onde a criatura se hospedou e ouvir:
– Ah, não acordou ainda.
– Ih, saiu.
– Vai passar a noite entregando quentinhas para carnavalescos desabrigados.
Pense o melhor, se puder.
Se serve de consolo, pense o pior. Amores de Carnaval acontecem. Muitos nem acontecem exatamente, mas as pessoas pensam que sim, só porque ficaram de porre juntas. Raramente algum dura. O mesmo acontece com paixões que surgem em viagens rápidas ou até na festa de casamento de um primo distante, à qual você não pôde comparecer. Esses amores vêm e vão. Dá a impressão de que, nessas situações, as pessoas não são exatamente elas mesmas, mas alguém que gostariam de ser. O tímido se torna audacioso ao sambar diante da mulata exuberante. O viajante conhece a moça na praia e age como um grande executivo. Ela acredita. Dias depois, volta para casa e a trabalhar para pagar as prestações do carro.
Também é preciso estar de olho nos sinais de alerta. Chega o momento em que não é o caso de infernizar o outro com crises de ciúme. Mas de lutar pela relação.
Curiosamente, o livro tem duas capas. Na segunda, o título é O que os maridos NÃO devem fazer. E dá um conselho que é, sim, um sinal de alerta: “Não tenha a ilusão de que sua mulher nunca vai se interessar por outro homem. Por mais que ela goste de você, é possível enjoar mesmo de uma coisa boa”. Bem... Eu acho que esse vale para os dois sexos!
Walcyr Carrasco
Revista Época
Nossa, que balde de água fria nos possessivos... rs.
ResponderExcluirApesar de ser bem racional, não concordo plenamente. Um relacionamento só é um relacionamento porque o casal está disposto a fazer a convivência durar. Não importa que seja em momentos bons, crises, ou até saturação pelo marido ou pela esposa. Nada é feito para durar eternamente, mas um relacionamento sim... ou pelo menos, deveria... O fato é que as pessoas mudam com o tempo e almejam a liberdade. O problema é quando esse desejo invade campos onde não convém...
Meu ex-namorado terminou comigo por ciumes. Ele tinha ciumes até do tempo que eu dispendia com os estudos. Acho que vou comprar esse livro e mandar via sedex no aniversário dele.
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