Projetado cerca de sete metros acima do nível da Rua Camerino, o Jardim do Valongo, no bairro da Saúde, é um daqueles recantos pouco conhecidos e frequentados pelos cariocas. Além da localização difícil — na encosta do Morro da Conceição —, na última década a degradação contribuiu para o esquecimento: o mato havia tomado conta do terreno e as duas construções históricas que fazem parte do conjunto arquitetônico e paisagístico, a Casa da Guarda e o Mictório Público, foram invadidas e descaracterizadas. Um cenário que está perto de mudar: incluído no projeto de revitalização da Zona Portuária, o jardim elevado de 1.636 metros quadrados está sendo restaurado e será devolvido à cidade em junho. Serão recuperados o paisagismo, o mobiliário, a cascata e também o lago que existia por ali e foi aterrado. Os dois prédios antigos voltarão a ter uso público.
Construído em 1906, como parte do projeto de reurbanização do porto feito pelo prefeito Pereira Passos, o jardim foi projetado pelo paisagista Luis Rey. A ideia era criar um espaço, com vista privilegiada do Centro, para o passeio da sociedade nos fins de tarde. No local, foi erguido um dos primeiros mictórios públicos da cidade. E foi para lá que Pereira Passos decidiu transferir as estátuas dos deuses Minerva, Marte, Ceres e Mercúrio, peças do século XIX encomendadas para ornamentar o Cais da Imperatriz, na Praça Mauá, onde desembarcou a princesa Leopoldina às vésperas de seu casamento com dom Pedro. Em 1999, após constantes pichações, a prefeitura decidiu retirá-las de lá e hoje elas enfeitam o Palácio da Cidade, em Botafogo. Mas, apesar da beleza estética, o jardim surgiu como obra de contenção:
— Ali era uma parte do Morro da Conceição, do antigo Morro do Valongo. Quando a Rua Camerino é alargada, o jardim surge da necessidade de fazer uma obra de contenção estrutural. Naquela época, início do século XX, havia uma preocupação em dar beleza às obras de engenharia. Temos outros exemplos na cidade de obras de contenção que tiveram preocupação estética, como a murada da Glória — explicou o subsecretário municipal de Patrimônio Washington Farjardo.
Jornal O Globo
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