Os jovens que na última década e meia sonharam com a magia de Harry Potter e suspiraram com o romance de Crepúsculo acordaram num mundo em crise: a economia global patina, o abismo entre ricos e pobres aumenta e guerras sem sentido se prolongam, sem que haja um final à vista. A resposta de Hollywood a esse cenário desolador é um filme diferente das fantasias escapistas que dominaram o cinema recentemente. Jogos vorazes baseia-se no primeiro livro da trilogia escrita por Suzanne Collins. Ele vendeu 13 milhões de exemplares no mercado americano e 80 mil no Brasil. O filme, dirigido por Gary Ross e estrelado por Jennifer Lawrence, chega aos cinemas na próxima sexta-feira, cercado de expectativa.
Jogos vorazes se passa no futuro, num país chamado Panem, erguido sobre as ruínas dos Estados Unidos após uma catástrofe. Nessa sociedade totalitária, os mais ricos, que vivem na Capital, dominam os 99% mais pobres, divididos em 12 distritos. Todos os anos, um menino e uma menina entre 12 e 18 anos são sorteados em cada distrito para participar de uma competição, na qual digladiam até restar apenas um sobrevivente. Os jogos são exibidos num reality show abertamente manipulado, com regras que mudam o tempo inteiro. Vinda do distrito mais pobre, a heroína, Katniss, de 16 anos, se oferece para ir à arena no lugar da irmã mais nova, que fora sorteada. Sem perceber, torna-se a inspiração de uma rebelião.
O modelo das histórias de Collins são romances como 1984, de George Orwell, e O senhor das moscas, de William Golding. E seu romance inspirou uma nova geração de escritores pessimistas em ficção científica (leia o quadro).
Collins teve a ideia para Jogos vorazes ao zapear na TV entre um reality show e notícias de guerra. Ela concluiu que os reality shows anestesiam as pessoas para tragédias verdadeiras. Quando criança, suas férias eram dominadas pelas histórias de guerra contadas por seu pai, veterano do Vietnã. Inspirada por ele, ela diz que seu objetivo é conscientizar os adolescentes para a guerra, a sociedade do espetáculo e a pobreza gerada pela crise econômica. “Quero que os jovens tenham conhecimento desses temas e pensem”, disse. O diretor Gary Ross viu com os próprios filhos que funciona. “Não há escapismo em Jogos vorazes, ao contrário da maior parte dos livros para adolescentes. Eles são obrigados a pensar em assuntos difíceis”, disse Ross a ÉPOCA.
Para viver tanta coisa, era preciso uma atriz forte e talentosa. Jennifer Lawrence tem apenas 21 anos e já concorreu ao Oscar por Inverno da alma, em que também fazia uma adolescente confrontada com a miséria. Foi comparada por seu diretor à jovem Meryl Streep. Ao contrário das estrelas de outras sagas adolescentes, ela parece não ser apenas uma atriz bonitinha jogada num turbilhão de fama e dinheiro. “A trilogia tem temas importantes para a minha geração”, afirma. Ela diz admirar a protagonista ficcional: “Adoraria ter mais em comum com Katniss. Ela é corajosa, forte, inteligente, coisas que não sou”.
O sentimento de Jennifer combina com o dos fãs. “Se todo o mundo fosse como Katniss, o Brasil estaria bem melhor”, diz Bruna Luiza Ortega, de 23 anos, vencedora de um concurso internacional de fãs da série. “Temos de nos interessar, porque a gente vai crescer e sofrer as consequências do que está sendo feito hoje na sociedade”, afirma o estudante Raphael Fortin, de 19 anos, em um evento para fãs. O crescimento da personagem passa por escolhas duras, de vida e morte. “Num mundo tão cruel, como preservar sua humanidade?”, pergunta o diretor Ross. A heroína, claro, consegue. Sua realidade, pintada com cores fortes, fala diretamente ao público adolescente, que atravessa, ele próprio, um período de extremos. “Na adolescência, é tudo imediato, vida ou morte, para sempre, das amizades ao amor”, afirma a psicóloga Fani Kaufman. Mesmo o adolescente que não passou por tantos infortúnios – e nem precisa guerrear à força como a protagonista – consegue enxergar-se em seu lugar.“Seu próprio caminho é difícil, então o jovem se conecta com um personagem forte, inserido numa realidade ainda mais pessimista, para não se sentir só”, diz Vera Zimmermann, psicóloga do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo.
No processo de amadurecimento, Katniss lida com emoções antes suprimidas pela busca da sobrevivência – diferentemente da romântica Bella de Crepúsculo, ela é quase empurrada para o romance com Gale, amigo de infância, e Peeta, outro concorrente nas provas de morte. A novidade trazida por esses novos romances voltados para adolescentes é a importância dos relacionamentos. Num mundo sombrio e perigoso, ele é a única coisa que vale a pena. Isso ecoa o exaltado sentimento romântico dos adolescentes, que amam como se fossem as últimas pessoas do planeta. Em Jogos vorazes, o romance junta-se a outros elementos atraentes (como a ação e a aventura), para embalar a jornada de crescimento e tornar mais acessíveis os temas sombrios propostos pela autora.
Revista Época
Henrique eu AMO HP ( Harry Potter) e por toda minha vida pensei que nunca encontraria uma série de livros que conseguisse me conquistar como HP me conquistou, um tempo se passou e eu encontrei outra série: PJO ( Percy Jackson e os Olimpianos) que também mudou minha vida, cada vez mais minha esperança acabava para a minha irmã que tem 8 anos e adora ler, eu pensava: Mas o que vai ter para ela ler?
ResponderExcluirEntão, veio os Jogos Vorazes, que na minha opinião é um livro que pode, e vai revolucionar a leitura jovem. Continuo com esperanças de que muitos livros bons podem vir por aí.
Bruna Bizarro - 801