terça-feira, 1 de maio de 2012

Crônica do Dia - Vende - se a natureza - Frei Betto




Às vésperas da Rio+20, é imprescindível denunciar a nova ofensiva do capitalismo neoliberal: a mercantilização da natureza. A proposta é a venda de serviços ambientais. Leia-se: apropriação e mercantilização das florestas tropicais, matas plantadas e ecossistemas.

Devido à crise financeira que afeta os países desenvolvidos, o capital busca novas fontes de lucro. Ao capital industrial e ao capital financeiro, soma-se agora o capital natural (apropriação da natureza), também conhecido por economia verde.

Acontece que os serviços ambientais são ofertados gratuitamente pela natureza: água, alimentos, plantas medicinais, minérios, madeira etc. A proposta é dar um basta a essa gratuidade. Na lógica capitalista, os bens naturais devem ter preços.

Os consumidores passariam a pagar pelos bens da natureza. Ocorre que ela não tem conta bancária para receber o dinheiro pago pelos serviços que presta. Assim, os defensores dessa proposta afirmam que alguém ou alguma instituição deve receber a conta.

Essa ideia, que soa como absurda, surgiu nos países industrializados na década de 1970, quando houve a crise ambiental. Europa e EUA tomaram consciência de que os recursos naturais são limitados. A Terra está doente, contaminada e degradada.

Em 1969, Garret Hardin publicou o artigo ‘A tragédia dos comuns’ para justificar a necessidade de privatizar a natureza. Segundo o autor, a única forma de preservá-la é torná-la administrável por quem tem competência — as grandes corporações empresariais. Eis a tese da economia verde. Ora, sabemos que elas encaram a natureza como mera produtora de ‘commodities’. Por isso, empresas estrangeiras compram cada vez mais terras no Brasil, o que significa uma desapropriação mercantil de nosso território.


Frei Betto é escritor, autor de ‘O amor fecunda o Universo — ecologia e espiritualidade’, em parceria com Marcelo Barros

Folha de São Paulo

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