quarta-feira, 13 de junho de 2012

Te Contei, não ? - Drummond inédito

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Quando se imaginava que toda a produção literária do poeta Carlos Drummond de Andrade era conhecida, uma raridade de sua autoria chega às livrarias na quinta-feira 21. Sob o nome de “Os 25 Poemas da Triste Alegria” (CosacNaify), a obra inédita reúne os primeiros trabalhos de Drummond – ela foi encadernada pelo próprio autor em 1924 (tinha 22 anos de idade) e permaneceu oculta na forma de original. Sua existência era conhecida pelo círculo mais íntimo do poeta, mas chegou-se a pensar que fora perdida – isso até ser descoberta há quatro anos pelo professor de literatura da UFRJ Antonio Carlos Secchin na casa de um bibliófilo que prefere o anonimato.

O que o leitor terá em mãos, contudo, não é esse trabalho inaugural, mas uma “edição comentada” – não apenas pelo próprio Drummond, mas também pelo seu amigo e romancista Mario de Andrade, um dos articuladores do modernismo brasileiro. As notas, escritas à mão às margens dos poemas, datam de 1937. Ou seja: foram feitas quando Drummond já era um autor consagrado e podia avaliar com distanciamento crítico e existencial os versos da juventude. O volume traz 12 poemas inéditos escritos na época em que ele se mudou de Itabira, no interior de Minas Gerais, para Belo Horizonte. Foi datilografado pela sua noiva, Dolores Dutra de Morais, com quem se casaria e dividiria a maior parte de sua vida. Os outros 13 trabalhos que completam o livro foram publicados em jornais locais, como o “Diário de Minas”.

Apesar do tom saudosista de seus comentários, Drummond é duro na avaliação a posteriori da obra – e, nesse aspecto, teve o reforço considerável de Mario de Andrade, que não poupava o trabalho de amigos. Assim ele classificou “Longe do Asphalto”: “Não é ruim, porém não se poderá falar que seja de você. E os outros já falaram isso melhor”. Em “A Sombra do Homem que Sorriu”, Drummond se vale de uma virulenta acidez: “É impossível não ter pena do pobre poeta que os escreveu”. Tanto quanto a raridade dos escritos, é a ironia do Drummond maduro que valoriza essa edição facsimilar. Sempre econômico em suas apreciações, ele é sucinto em relação à “Canção do Grego Desencantado”: “Se um inimigo apanhasse esses versos”, lamentaria ao avaliar as rimas vacilantes. Não imaginava que, décadas mais tarde, não um inimigo, mas um estudioso da poesia brasileira os teria em mãos para mostrar ao mundo como nasceu – e o quanto cresceu – um dos maiores poetas do País.  

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