quarta-feira, 13 de junho de 2012

Te Contei, não ? - A vida secreta de Gandhi




Mahatma Gandhi (1869-1948), um dos maiores e mais influentes líderes da humanidade, o homem que levou às últimas consequências o preceito da não violência e inspirou grande parte dos movimentos de desobediência civil, mantinha no cotidiano uma disciplina espartana que incluía a alimentação vegetariana, o celibato e a aversão às coisas materiais.

A biografia “Mahatma Ghandi e sua Luta com a Índia” (Companhia das Letras), que chega às livrarias brasileiras no início de julho, vem provocando polêmica onde é lançada por acrescentar dados inéditos ao perfil desse homem feito santo ainda em vida. Ou melhor: por trazer para o plano humano a sua existência imaculada. O autor Joseph Lelyveld, familiarizado com assuntos indianos e sul-africanos como ex-correspondente estrangeiro do jornal “The New York Times”, não está interessado em insinuações baratas e sugere, com forte embasamento, que Gandhi era bissexual – ou, no mínimo, se debatia com os apelos da paixão e da carnalidade como o mais comum dos mortais.

No período em que viveu na África do Sul, onde exerceu advocacia e formou o seu ideário político ao defender a oprimida população hindu, Gandhi teve como discípulo e maior colaborador o arquiteto e fisiculturista de origem prussiana Hermann Kallenbach. Essa amizade sempre foi destacada em suas biografias. Lelyveld foi mais longe: leu a correspondência enviada por Gandhi ao amigo (as cartas que recebera dele foram destruídas), e chegou à conclusão de que uma força maior os unia. E que esse impulso era o amor. Tal sentimento universal sustentou as ideias de Gandhi sobre a humanidade. Mas o amor a que ele se refere era de outra natureza. Numa carta datada de 1909, Gandhi escreveu: “O seu retrato está na minha cabeceira. Mostra o quanto você tomou possessão de meu corpo. É uma escravidão e uma vingança.”

Gandhi conheceu Kallenbach em 1904 e com ele criou a comunidade agrícola Tostoi Farm, inspirado no misticismo do escritor russo. Eles compartilharam cama, comida regrada e sonhos de transformação por três anos e, mesmo depois que Gandhi voltou para a Índia e se engajou na luta pela independência de seu país, não interromperam o contato. Casado segundo as tradições hindus aos 13 anos de idade (com uma menina de 10, Kasturba), Gandhi teve quatro filhos. No entanto, à medida que se impunha uma “purificação”, viu na família um empecilho à sua elevação. “O casamento é um obstáculo ao trabalho público e espiritual”, registrou em seus escritos. Sua relação com Kallenbach, contudo, tinha todas as vicissitudes da vida doméstica, com direitos a ciúmes e juras de fidelidade (pelo menos na obrigação de celibato em relação a mulheres). Para afastar a acusação de estar avaliando com preconceitos ocidentais a cultura indiana (que não aceita o homossexualismo), Lelyveld ouviu especialistas locais, como Tridip Suhrud, que não se esquivou do tema: “Eles eram um casal”, disse o entrevistado. Se assim foi, a sensação é de se estar diante de uma triste história de amor. No derradeiro encontro dos dois, após 23 anos de separação, Gandhi levantou a lanterna no rosto do amigo e disse, timidamente: “Seus cabelos se tornaram brancos.”  

Revista Isto É

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