sábado, 16 de junho de 2012

Te Contei, não ? - Proibido ( volta a ) fumar



O Brasil tem feito conquistas fundamentais no combate ao tabagismo. Em decorrência de incisivas campanhas de conscientização e das políticas anticigarro, o número de fumantes caiu drasticamente nos últimos anos. Os ex-fumantes hoje somam 32 milhões de homens e mulheres com mais de 18 anos, ante os 22 milhões ainda dependentes da nicotina. Mas, como acontece no tratamento de qualquer vício, um dos maiores entraves na luta contra o cigarro é o risco de recaídas. Identificar os motivos que levam um ex-fumante a voltar às tragadas é um movimento decisivo para evitar a reincidência e também para aperfeiçoar as estratégias terapêuticas contra o problema. Na semana passada, a divulgação de um dos maiores e mais completos estudos sobre o assunto iluminou o tema. Liderado pela cardiologista Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Assistência ao Fumante do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o trabalho envolveu 820 pacientes, de 50 anos, em média, todos tratados à base de medicamentos.
Os participantes foram divididos em quatro grupos conforme o tempo que permaneceram longe do cigarro ? até três meses, entre três e seis meses, de seis meses a um ano e depois de um ano. A maior taxa de recaídas foi registrada na primeira etapa do tratamento, quando até 57% dos ex-fumantes deixam os esforços de lado e acendem um cigarro. Quanto mais tempo o paciente se mantém afastado do vício, menor é o risco de reincidência. Em todos os momentos, uma situação de stress agudo, como divórcio, desemprego e morte de um parente querido, é o fator desencadeante da recaída. Quando se exclui essa determinante, as motivações para a retomada do hábito de fumar também variam. Nos três primeiros meses de tratamento, o mais comum é a recaída por causa da ansiedade, que vem acompanhada de irritação e impaciência. Na fase seguinte, o descuido foi apontado por 22% dos quase ex-fumantes. Segundo a cardiologista Jaqueline, isso ocorre porque é uma fase em que o paciente está certo de que tem o vício sob controle e adota comportamentos arriscados. Foi o que aconteceu com Fabio Luiz De Cunto Brandileone, de 34 anos. Durante dezesseis anos, ele fumou dois maços de cigarros por dia. No ano passado, decidiu parar e conseguiu ficar sem acender um único cigarro por quase quatro meses. Em abril deste ano, no entanto, ele recaiu. "Durante uma viagem pela Europa tive muita vontade de fumar, mas consegui me segurar", diz
Brandileone. "Ao chegar em casa, tinha certeza de que não teria nenhum problema se desse uma tragadinha apenas para matar a vontade." A tal tragadinha se transformou em um maço de cigarros por fim de semana, até que recentemente Brandileone decidiu voltar ao tratamento contra o tabagismo.
Estudos mostram a relevância do consumo de medicamentos contra o tabagismo na tentativa de parar de fumar. O uso de remédios funciona melhor do que os esforços solitários, muitas vezes inúteis e psicologicamente cansativos. A utilização de repositores de nicotina, como chicletes e adesivos, dobra a probabilidade de o fumante apagar de vez o cigarro. Com o medicamento vareniclina, que tem ação específica no cérebro, essa possibilidade quadruplica. Apesar das opções terapêuticas, parar de fumar e retomar ao vício é comum, numa reação do organismo explicada pela ciência. A dependência química envolve mecanismos extremamente complexos. Recentemente. uma pesquisa publicada pela revista científica americana TranslalionaI Psychiatry demonstrou que uma mutação genética é capaz de interferir na quantidade de cigarros consumidos diariamente. O perfil do fumante contumaz ainda é um enigma a ser revelado ? mas é possível apegar-se a dados assustadoramente concretos sobre os malefícios do cigarro. Fumar durante vinte anos aumenta em dezessete vezes o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão e em dez vezes o de infarto e derrame.

A TEMIDA RECIDIVA

Uma situação de stress agudo, como a perda do emprego, uma separação amorosa ou a morte de um parente querido, é o principal motivo para um ex-fumante retomar o vício. Em seu estudo, a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, do Incor, mostra quais são as outras causas que levam à recaída. Elas variam conforme o tempo que o paciente conseguiu se manter longe do cigarro.

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