Um “ABC”, como explicado no sumário da coleção da Editora José Olympio, é um poema típico da literatura de cordel nordestina. Composto por estrofes que se iniciam pelas letras do alfabeto, eles celebram feitos extraordinários ou personagens relevantes. E foi inspirada nesse formato dos livretos do Nordeste que a editora decidiu homenagear e celebrar seus autores regionalistas. O primeiro título da série, “ABC de Ariano Suassuna”, de Braulio Tavares, foi lançado em 2007, em comemoração aos 80 anos do escritor. Agora a editora acaba de mandar para as livrarias três novos perfis: “ABC de Rachel de Queiroz”, por Lilian Fontes; “ABC de José Lins do Rego”, de Bernardo Borges Buarque de Hollanda; e “ABC de José Cândido de Carvalho”, por Claudia Nina.
Apesar da inspiração na maneira de contar histórias, a apresentação dos livros em nada lembra o cordel. As obras contêm cerca de 200 páginas que traçam, letra a letra, a vida e obra de cada autor. Há 27 anos editora da José Olympio — casa que completou 80 anos em 2011 —, Maria Amélia Mello destaca a proposta dos dicionários que fogem ao estilo tradicional de se fazer uma biografia.
— Resolvemos nos apropriar do estilo do cordel porque assim não há o compromisso de esgotar a vida do autor, ou escrever um relato extenso de mais de 600 páginas sobre cada um. Ao escolher uma letra, o leitor consegue amarrar períodos importantes dentro da obra dos autores e saber o essencial sobre cada um — explica Maria Amélia, que aposta no papel de guia que as publicações terão para professores e alunos.
A obra singular dos três autores se cruza na prosa regionalista e na vida literária impulsionada pelo editor José Olympio, que é destaque em fotos e verbetes dos livros.
O tempo de pesquisa de cada alfabeto levou cerca de dois anos, desde o convite feito pela editora em 2009, até a entrega dos livros, no final do ano passado. Os autores contaram com a ajuda de amigos e familiares dos escritores para resgatar detalhes pouco conhecidos e colocar lupas sob personagens emblemáticos como Maria Moura, de Rachel de Queiroz, e Coronel Ponciano, de José Cândido de Carvalho.
Apesar da inspiração na maneira de contar histórias, a apresentação dos livros em nada lembra o cordel. As obras contêm cerca de 200 páginas que traçam, letra a letra, a vida e obra de cada autor. Há 27 anos editora da José Olympio — casa que completou 80 anos em 2011 —, Maria Amélia Mello destaca a proposta dos dicionários que fogem ao estilo tradicional de se fazer uma biografia.
— Resolvemos nos apropriar do estilo do cordel porque assim não há o compromisso de esgotar a vida do autor, ou escrever um relato extenso de mais de 600 páginas sobre cada um. Ao escolher uma letra, o leitor consegue amarrar períodos importantes dentro da obra dos autores e saber o essencial sobre cada um — explica Maria Amélia, que aposta no papel de guia que as publicações terão para professores e alunos.
A obra singular dos três autores se cruza na prosa regionalista e na vida literária impulsionada pelo editor José Olympio, que é destaque em fotos e verbetes dos livros.
O tempo de pesquisa de cada alfabeto levou cerca de dois anos, desde o convite feito pela editora em 2009, até a entrega dos livros, no final do ano passado. Os autores contaram com a ajuda de amigos e familiares dos escritores para resgatar detalhes pouco conhecidos e colocar lupas sob personagens emblemáticos como Maria Moura, de Rachel de Queiroz, e Coronel Ponciano, de José Cândido de Carvalho.
O pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda conheceu Maria Elisabeth, filha do autor de “Fogo morto”, na época em que defendeu a dissertação de mestrado sobre as crônicas de futebol de José Lins do Rego, em meados dos anos 2000, na PUC-Rio. A parceria com a família continuou no “ABC”.
— O José era muito próximo do Mário Filho (jornalista esportivo, cujo nome batizou o Maracanã) e mostro esse lado pouco discutido dele. Ele nasceu em um engenho, mas abraçou o Rio e foi um grande entusiasta do futebol — conta Hollanda, que quis deixar explícito, logo na capa do livro, a veia torcedora do escritor.
Já a jornalista e escritora Lilian Fontes buscou na pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, amiga de Rachel, e em Maria Luiza de Queiroz, irmã da autora de “O Quinze”, as curiosidades e fatos mais importantes. Para encaixar a letra Y no alfabeto, Lilian recorreu à música “Yes, nós temos Bananas”, marchinha de carnaval de Braguinha e Alberto Ribeiro que Rachel ouvia nos bailes, nos anos 1940. A sugestão foi de Isinha, como é conhecida Maria Luiza, que contou histórias dos carnavais da primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, e de seu marido Oyama Nava, irmão do escritor Pedro Nava. Para escrever o perfil de A a Z do autor do clássico o “O Coronel e o Lobisomem”, a jornalista e escritora Claudia Nina passou muitas tardes com Laura Lione, filha de José Cândido de Carvalho.
— Em uma das nossas reuniões iniciais, Laura me sugeriu: “O “U” pode ser ururau”! E me mostrou um jacaré estranhíssimo, de madeira, que seria o próprio animal mitológico que aparece em “O coronel e o lobisomem”, descrito no capítulo 5 do romance como tendo “cauda de jacaré, escama de cobra, força de cavalo e olho sugador de gente” — conta Claudia, que aceitou a sugestão na hora e durante a escrita teve acesso a cartas trocadas entre pai e filha.
Além de preservar as memórias dos autores, a pesquisa para a produção dos “ABCs” estimulou a editora a traçar novos projetos editorais. Um dos achados foi a recuperação de um romance inédito e inacabado de José Cândido, o “Rei Baltasar”. Encontrado por Laura nos guardados do pai, o livro já está com Claudia Nina para leitura e revisão. Sem entrar em muitos detalhes, Maria Amélia já planeja ter o romance nas prateleiras no início de 2013.
— É uma obra linda e uma preciosidade que a Laura teve o cuidado de organizar. Claudia Nina até o menciona na letra “R” do “ABC”, onde há um trecho do livro. Se tudo der certo, lançaremos no ano que vem.
— O José era muito próximo do Mário Filho (jornalista esportivo, cujo nome batizou o Maracanã) e mostro esse lado pouco discutido dele. Ele nasceu em um engenho, mas abraçou o Rio e foi um grande entusiasta do futebol — conta Hollanda, que quis deixar explícito, logo na capa do livro, a veia torcedora do escritor.
Já a jornalista e escritora Lilian Fontes buscou na pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, amiga de Rachel, e em Maria Luiza de Queiroz, irmã da autora de “O Quinze”, as curiosidades e fatos mais importantes. Para encaixar a letra Y no alfabeto, Lilian recorreu à música “Yes, nós temos Bananas”, marchinha de carnaval de Braguinha e Alberto Ribeiro que Rachel ouvia nos bailes, nos anos 1940. A sugestão foi de Isinha, como é conhecida Maria Luiza, que contou histórias dos carnavais da primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, e de seu marido Oyama Nava, irmão do escritor Pedro Nava. Para escrever o perfil de A a Z do autor do clássico o “O Coronel e o Lobisomem”, a jornalista e escritora Claudia Nina passou muitas tardes com Laura Lione, filha de José Cândido de Carvalho.
— Em uma das nossas reuniões iniciais, Laura me sugeriu: “O “U” pode ser ururau”! E me mostrou um jacaré estranhíssimo, de madeira, que seria o próprio animal mitológico que aparece em “O coronel e o lobisomem”, descrito no capítulo 5 do romance como tendo “cauda de jacaré, escama de cobra, força de cavalo e olho sugador de gente” — conta Claudia, que aceitou a sugestão na hora e durante a escrita teve acesso a cartas trocadas entre pai e filha.
Além de preservar as memórias dos autores, a pesquisa para a produção dos “ABCs” estimulou a editora a traçar novos projetos editorais. Um dos achados foi a recuperação de um romance inédito e inacabado de José Cândido, o “Rei Baltasar”. Encontrado por Laura nos guardados do pai, o livro já está com Claudia Nina para leitura e revisão. Sem entrar em muitos detalhes, Maria Amélia já planeja ter o romance nas prateleiras no início de 2013.
— É uma obra linda e uma preciosidade que a Laura teve o cuidado de organizar. Claudia Nina até o menciona na letra “R” do “ABC”, onde há um trecho do livro. Se tudo der certo, lançaremos no ano que vem.
Jornal O Globo
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