terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Aconteceu, no LITERATIVO apareceu - Greve deixa 56 mortos na Bahia 05/02/12


Governador acusa grevistas de ordenarem crimes: "É tentativa de guerra psicológica"

 Biaggio Talento, Míriam Hermes, Luana Almeida, Jéssica Sandesag e George Brito* 

 No quinto dia de paralisação da Polícia Militar da Bahia, o clima de insegurança permaneceu na Região Metropolitana de Salvador e se alastrou pelo interior do estado. A onda de assaltos, mortes, saques a estabelecimentos comerciais, e arrombamentos prosseguiu durante todo o dia de ontem. No total, a violência desencadeada na última terça-feira, a partir da decretação da greve , já resultou na morte de pelo menos 56 pessoas, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do estado. 

 Ao receber o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ontem em Salvador, o governador Jaques Wagner endureceu ainda mais o discurso contro movimento e denunciou a participação dos grevistas nos crimes e atos de vandalismo praticados desde o início do movimento. 

 - Parte dos crimes pode ser fruto de uma operação montada, uma tentativa de criar um clima de desespero entre a população para fazer o governo sucumbir, uma tentativa de guerra psicológica, como ocorreu recentemente em outros estados, como o Maranhão e o Ceará. Não tenho dúvida que parte de tudo isso é cometido por ordem dos criminosos que se autointitulam líderes do movimento. Não vejo como anistiar, perdoar, o que quer que seja. Isso seria como eu dizer a outros criminosos que amanhã eles podem ser anistiados - disse o governador. 

 O ministro da Justiça informou que o Departamento Penitenciário Nacional já reservou vagas em dois presídios de segurança máxima para receber os líderes do movimento que já tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça. Até ontem, 15 mandados foram expedidos.   

 - São mais de três mil homens das Forças Armadas para dar tranquilidade ao povo baiano e para fazer com que o Estado de Direito prevaleça. Estando sob estado de Garantia de Lei e Ordem, qualquer depredação de equipamento configura crime federal, e a Polícia Federal está orientada a fazer com que as transgressões à lei sejam apuradas e punidas com o máximo rigor afirmou o ministro. 

 Ao chegar ontem à Assembleia Legislativa, onde parte dos grevistas está acampada desde quarta-feira, o exbombeiro Março Prisco, presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e seus Familiares (Aspra) disse que desconhecia a inclusão do seu nome numa lista de líderes da greve com mandado de prisão expedido pela Justiça: 

- Não sou marginal. Sou policial militar. Tenho dois filhos e sou filho do Senhor, guiado por Ele.  

  Prisco negou que grevistas estejam por trás das ações de sabotagem e vandalismo que alarmaram a cidade nos últimos dias. 

  - Nosso movimento é pacífico, ordeiro declarou, acrescentando que a única saída para o fim da greve é a negociação. 

 Wagner descartou, na manhã de ontem, uma ação de reocupação da Assembleia Legislativa , considerando a notícia como "parte da estratégia do grupo criminoso". A ordem, afirmou o governador, era recuperar as 16 viaturas tomadas pelos amotinados . 

  Prisco confirmou que os veículos serão devolvidos. Prisco disse que o governador Jacques Wagner, quando ainda era deputado federal, participou com outros parlamentares do PT e de partidos da base do esquema de financiamento da paralisação dos policiais militares do estado em 2001. O ex - bombeiro acrescentou que o Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia, que tinha na direção o atual presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, alugou e cedeu, na época, seis carros para garantir a sua fuga da Bahia, onde diz que foi perseguido e ameaçado de prisão pelo então governador carlista Cesar Borges. 

  - O motorista que me levou para Brasília era um funcionário do sindicato, Nelson Souto. Na capital, foi recebido pelo então senador petista Cristóvam Buarque disse o presidente da Aspra. 

  O comandante do 10, Batalhão da Polícia Militar, Osival Cardoso, informou que o patrulhamento das ruas está sendo feito normalmente, com apoio de uma guarnição da Companhia Independente de Policiamento Especializado e do Exército. 

 Além dos 2,8 mil militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o Ministério da Justiça informa que estão sendo enviados mais 450 policiais da Força Nacional. 

 Em 30 horas, entre meia-noite de sexta-feira e 6h de ontem, 29 pessoas foram assassinadas na Região Metropolitana de Salvador. No mesmo período, além das mortes, quase uma por hora, houve dez tentativas de homicídios somente na sexta-feira. Entre os casos mais graves está o do policial civil João Carvalho Filho, de 47 anos, morto a tiros, no bairro do Itaigara, por volta das 9h. João havia saído do plantão às 8h e esperava a esposa num consultório médico quando foi atacado por homens armados e atingido por cerca de 13 disparos. 

Nem Iemanjá foi poupada 

 Criminosos assustaram ontem a população de Barreiras, oeste baiano, com disparos contra a fachada de duas agências do Banco do Brasil e contra a TV Oeste (afiliada da Rede GLOBO). 

 Dono de um mercado no bairro Vila Rica, Fernando Vieira, de 41 anos, disse que está fechando a loja mais cedo. 
 - Vivemos com medo, mesmo com os PMs trabalhando, pois eles não dão conta de tudo. Agora, não estou nem querendo abrir as portas disse, ressaltando que tem ouvido muitos tiros à noite. 

 A situação de pânico também desencadeou medidas preventivas, como o cancelamento das aulas na Faculdade Unyhana, amanhã. Segundo o diretor Leonardo Almeida, no início da semana a direção avaliará as condições da segurança na cidade para decidir quando retomar as aulas. 

   Às 3h de sábado, a loja Top Móveis, no bairro do Cabula, foi arrombada e incendiada. De acordo com moradores, os bombeiros, quando informados sobre o incêndio, se recusaram a ir ao local sem escolta da polícia e só apareceram horas mais tarde. 

 O supermercado G Barbosa também foi saqueado na madrugada de sábado. Foram levados televisores, computadores e bebidas. Foram registrados ainda mais dois arrombamentos durante a madrugada: na loja da Cesta do Povo e na Ricardo Eletro. 

 Nem a Casa de Iemanjá, na colônia de pescadores do Rio Vermelho, foi poupada . Na manhã de sábado, criminosos arrombaram a janela da casa e levaram o cofre com aproximadamente R$ 600 em moedas, depositadas pelos fiéis na quinta-feira, Dia de Iemanjá. 

 Autor: O Globo

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