BY RODRIGO CARREIRO
– 13 DE OUTUBRO DE 2011
CRÍTICA DE FILME
direção: Cecília Amado
elenco: Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Jordan Mateus, Israel Gouveia
país: Brasil
gênero: drama
ano: 2011
Quando se fala em Jorge Amado, é comum associá-lo a obras novelísticas, como “Grabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, mas é pouco usual a citação a obras carregadas de valor social como “Capitães da Areia”, justamente a adaptação que chega aos cinemas comandada pela neta do escritor, Cecília Amado.
O filme conta a história de um grupo de meninos de rua de Salvador, os Capitães da Areia, que vivem a liberdade das ruas, as agruras do relento e sonham com um futuro melhor.
É interessante que essa adaptação tenham sido iniciativa de um membro da família do eterno escritor, pois acreditava-se que isso traria o máximo de fidelidade possível à obra original. Aliás, têm obras artísticas que deveriam ser intocáveis, dado o teor de genialidade e importância para sua época. Esse é o caso de Capitães da Areia. Cecília Amado correu um grande risco e eu diria que ele se saiu muito bem pela extrema fidelidade à trama em si, mas jogou no lixo o ponto mais importante da obra de Jorge. Não, não é chatice de crítico ou fã da obra que acha que é ruim toda e qualquer adaptação. A verdade é que têm coisas que são intocáveis e precisam ser levadas à sério.
Na orelha da edição que tenho em casa (1997), da editora Record, há a seguinte frase: “Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, o livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura”. O motivo óbvio está nas entrelinhas de todo o livro – e explícito em diversas passagens: comunismo. Por trás das travessuras de Pedro Bala, Gato, Professor, Sem-Pernas e tantos outros, está a ode ao comunismo, ao socialismo, às greves, à divisão do trabalho igualitária e diversas bandeiras comunistas. Não há como deixar isso de fora, pois Jorge escreveu seu livro sob essa égide, esse sentimento – assim como escreveu outra belíssima obra, Jubiabá, que detém os mesmos propósitos. Cecília Amado deixa tudo isso de fora.
Todos os cenários da obra são aproximações dessas questões. O trapiche comandado por Pedro Bala (Jean Luis Amorim) é o mundo ideal pensado por Jorge, com um chefe, é verdade, mas com as decisões tomadas em conjunto. Há uma forte carga religiosa (óbvio, estamos na Bahia), mas há personagem, Sem-Pernas, que questiona todas as religiões. A prisão de Bala, o sofrimento dele na cadeia e seu posterior trabalho na labuta da cana é um indício que salta aos olhos no livro pela crítica ao capitalismo e tratado no filme apenas como uma passagem com importância reduzida. Um dos pontos principais, então, Cecília nem chega perto: a relação de Pedro com as greves e o sonho de ser como o pai, grevista que lutou pelo povo e foi assassinado pela polícia. Esse é um pano de fundo que está por todo o livro, mas que o filme deixa de lado. Bala queria ser igual ao pai e tudo que acontece na história o vai levando para seu destino inexorável.
Cecília concentra todas suas atenções na dinâmica do grupo, nas relações cotidianas, religião e no amor. Isso tudo está no livro e ela conseguiu se sair bem na representação dos personagens – obviamente, levando em conta o pouco espaço para isso. Todos os capitães principais estão lá, todas as histórias paralelas também. É tudo bem costurado, engraçado em alguns momentos, tenso em outros. Faz um bom retrato do arco dramático apresentado por Jorge Amado, inclusive utilizando Dora (Ana Graciela) na dosagem correta. O elenco mirim, formado por não atores, ajuda na maioria das vezes, mas quando a cena exige muito o momento se perde um pouco. Normal.
Como obra fílmica e de entretenimento, Capitães da Areia funciona perfeitamente. Mas falta algo ali. O toque de genialidade de Jorge Amado, que traduziu em palavras tão bem o espírito da Bahia, longe de estereótipos bestas, mas sempre ao lado da essência da Bahia. Dessas pessoas que parecem caricaturas, mas que basta uma volta no Pelourinho ou na Cidade Baixa para encontrá-los aos montes. Mas, como disse anteriormente, faltou o tempero final, o da crítica social que é inevitável nessa obra do mestre.
Quando se fala em Jorge Amado, é comum associá-lo a obras novelísticas, como “Grabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, mas é pouco usual a citação a obras carregadas de valor social como “Capitães da Areia”, justamente a adaptação que chega aos cinemas comandada pela neta do escritor, Cecília Amado.
O filme conta a história de um grupo de meninos de rua de Salvador, os Capitães da Areia, que vivem a liberdade das ruas, as agruras do relento e sonham com um futuro melhor.
É interessante que essa adaptação tenham sido iniciativa de um membro da família do eterno escritor, pois acreditava-se que isso traria o máximo de fidelidade possível à obra original. Aliás, têm obras artísticas que deveriam ser intocáveis, dado o teor de genialidade e importância para sua época. Esse é o caso de Capitães da Areia. Cecília Amado correu um grande risco e eu diria que ele se saiu muito bem pela extrema fidelidade à trama em si, mas jogou no lixo o ponto mais importante da obra de Jorge. Não, não é chatice de crítico ou fã da obra que acha que é ruim toda e qualquer adaptação. A verdade é que têm coisas que são intocáveis e precisam ser levadas à sério.
Na orelha da edição que tenho em casa (1997), da editora Record, há a seguinte frase: “Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, o livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura”. O motivo óbvio está nas entrelinhas de todo o livro – e explícito em diversas passagens: comunismo. Por trás das travessuras de Pedro Bala, Gato, Professor, Sem-Pernas e tantos outros, está a ode ao comunismo, ao socialismo, às greves, à divisão do trabalho igualitária e diversas bandeiras comunistas. Não há como deixar isso de fora, pois Jorge escreveu seu livro sob essa égide, esse sentimento – assim como escreveu outra belíssima obra, Jubiabá, que detém os mesmos propósitos. Cecília Amado deixa tudo isso de fora.
Todos os cenários da obra são aproximações dessas questões. O trapiche comandado por Pedro Bala (Jean Luis Amorim) é o mundo ideal pensado por Jorge, com um chefe, é verdade, mas com as decisões tomadas em conjunto. Há uma forte carga religiosa (óbvio, estamos na Bahia), mas há personagem, Sem-Pernas, que questiona todas as religiões. A prisão de Bala, o sofrimento dele na cadeia e seu posterior trabalho na labuta da cana é um indício que salta aos olhos no livro pela crítica ao capitalismo e tratado no filme apenas como uma passagem com importância reduzida. Um dos pontos principais, então, Cecília nem chega perto: a relação de Pedro com as greves e o sonho de ser como o pai, grevista que lutou pelo povo e foi assassinado pela polícia. Esse é um pano de fundo que está por todo o livro, mas que o filme deixa de lado. Bala queria ser igual ao pai e tudo que acontece na história o vai levando para seu destino inexorável.
Cecília concentra todas suas atenções na dinâmica do grupo, nas relações cotidianas, religião e no amor. Isso tudo está no livro e ela conseguiu se sair bem na representação dos personagens – obviamente, levando em conta o pouco espaço para isso. Todos os capitães principais estão lá, todas as histórias paralelas também. É tudo bem costurado, engraçado em alguns momentos, tenso em outros. Faz um bom retrato do arco dramático apresentado por Jorge Amado, inclusive utilizando Dora (Ana Graciela) na dosagem correta. O elenco mirim, formado por não atores, ajuda na maioria das vezes, mas quando a cena exige muito o momento se perde um pouco. Normal.
Como obra fílmica e de entretenimento, Capitães da Areia funciona perfeitamente. Mas falta algo ali. O toque de genialidade de Jorge Amado, que traduziu em palavras tão bem o espírito da Bahia, longe de estereótipos bestas, mas sempre ao lado da essência da Bahia. Dessas pessoas que parecem caricaturas, mas que basta uma volta no Pelourinho ou na Cidade Baixa para encontrá-los aos montes. Mas, como disse anteriormente, faltou o tempero final, o da crítica social que é inevitável nessa obra do mestre.
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