Rio - Pouca gente tem energia suficiente para acompanhar a disposição e o gingado da Tia Maria. Aos 91 anos, ela sobe ladeira e escadaria da comunidade em Madureira, onde nasceu e passou toda a vida, para dançar com as 80 crianças atendidas pela ONG Jongo da Serrinha, da qual é responsável há 12 anos. Os meninos e meninas, de 4 a 18 anos, passam o contraturno escolar no espaço, estudando a cultura do Brasil em oficinas de arte, contação de história, canto, instrumentos musicais e dança. Mais de mil pequenos já foram atendidos pelo projeto desde a fundação.
Por sua dedicação às crianças e às raízes culturais do Brasil, Tia Maria é a 36ª homenageada por O DIA com a medalha Orgulho do Rio, que contempla aqueles que contribuem para uma sociedade melhor. “Fico feliz pelo agradecimento. As crianças se dedicam muito, elas ficam mais amorosas e educadas com o jongo”, comemora.
Muitas crianças que passam pela escola viram profissionais dessa dança de origem africana: dão aulas e fazem apresentações. Desde novinhos, os aprendizes já dão shows em festivais em universidades e casas noturnas. No ano passado, fizeram a abertura de dois shows do Arlindo Cruz. A ONG também tem parceria com a escola municipal da área, a República Dominicana. Professores do espaço contam histórias lá e os jongueirinhos dançam.
Além disso, a ONG apóia o grupo artístico de 25 adultos que se apresentam em eventos durante o ano todo. O grupo tem patrocínio da Petrobras e da Vale do Rio Doce.
Nascida entre os fundadores da escola
Tia Maria nasceu no berço do jongo. Sua mãe era empregada doméstica e tinha 13 filhos. O pai faleceu quando ela tinha só 8 anos. A vovó Maria Joana, uma das fundadoras do Jongo da Serrinha, era sua vizinha. Ela frequentava as rodas desde a infância. Moça, casou-se com funcionário da Casa da Moeda, com quem teve dois filhos. “Ele não gostava de samba nem de jongo, mas não implicava”, conta. Fã de Carnaval, esse ano ela vai desfilar no Império Serrano e no bloco Boitatá.
Jornal O Dia
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