quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Negro em Versos VI - Ebulição da Escravatura - Luís Carlos de Oliveira


EBULIÇÃO DA ESCRAVATURA 

Luís Carlos de Oliveira 


A área de serviço é senzala moderna, 
Tem preta eclética, que sabe ler "start";
"Playground" era o terreiro a varrer. 

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio, Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha; 
Não entra no novo quilombo da favela. 

Capitão-do-mato virou cabo da polícia, 
Seu cavalo tem giroflex ( rádio-patrulha). 
"Os ferros", inoxidáveis algemas; 

Ração pode ser o salário-mínimo, 
Alforria só com a aposentadoria. 
(Lei dos sexagenários) 

"Sinhô" hoje é empresário, 
A casa-grande verticalizou-se, 
O pilão está computadorizado. 
Na última página são "flagrados" ( foto digital), Em cuecas, segurando a bolsa e a automática: Matinal pelourinho. 

A princesa Áurea canta, 
Pastoreia suas flores. 
O rei faz viaduto com seu codinome. 

- Quantos negros? Quanto furor? 
 Tantos tambores...tantas cores... 
O quê comparar com cada batida no tambor? 

"- A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres."

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