Tão perto e tão longe
Mais importante que o tempo que passamos com os filhos é o que fazemos com eles
por Sandra Chemin
Fui convidada a participar de um programa de televisão sobre mulheres e qualidade de vida. A partir da experiência de duas famílias, o programa propunha uma reflexão sobre o papel da tecnologia no convívio familiar. Eu passaria um dia inteiro com uma mãe que não fica sem o celular, o filho de 6 anos louco por videogame e a filha de 9 ligada na internet.Meu papel: mostrar que é possível passar um dia gostoso sem usar nenhum aparelho tecnológico.
No começo achei essa história uma loucura. Logo eu, que fazia milhares de coisas ao mesmo tempo,graças ao uso da tecnologia? Propor atividades para essa família me parecia impossível.Afinal de contas, faz menos de três anos que saí da rotina de executiva que trabalha 14 horas por dia para viver a bordo de um veleiro com meu marido e minha filha. A experiência parecia pequena frente ao desafio.
A idéia era passar o dia em contato com a natureza,uma mudança na rotina de Carla,Leonardo e Gabriela.Eu ainda não os conhecia, o que aumentava minha expectativa de como eles reagiriam a essa proposta. O encontro foi na casa da Carla e de lá partimos para o Horto Florestal. O começo não foi muito encorajador, o dia estava frio e cinzento, uma garoa fina ameaçava transformar o dia em um mico.
A caminhada ao redor do lago reforçou minha crença de que basta estimular a criança que ela responde rápido. Começamos a explorar o ambiente, descobrimos o silêncio, ouvimos os animais, achamos flores escondidas, brincamos de quem achava primeiro um bicho. Os pulos do Leo, deixando a timidez de lado para mostrar um esquilo no alto de uma bananeira, mostravam que estávamos no caminho certo. Gabriela não ficou atrás, ouviu falar em trilha e ficou toda animada. Quando vi seu penteado com reflexos, o olhar vaidoso ao folhear uma revista de moda a caminho do parque, não podia imaginar que ela encararia o barro das trilhas com tanta vontade.Revelou-se uma aventureira, abraçou árvore e tudo.
Na volta,paramos para um piquenique e um bate-papo.Compartilhamos opiniões sobre a importância de criar os filhos nós mesmos e a dificuldade de fazer isso. A conversa nos aproximou e senti que deveria sugerir uma brincadeira que pudesse ser feita em casa, afinal passar um dia no parque demanda maior disponibilidade de tempo dos pais. Fazer massinha de modelar é fácil – só precisa de água, farinha e sal –, estimula a criatividade e aproxima a mãe dos filhos. Os olhares em busca de aprovação para pôr a mão na massa foram seguidos de muita descontração, mãos coloridas de guache, roupas sujas e caras felizes. Carla, que é designer de bijuterias e trabalha em casa, deixou a preocupação com a bagunça de lado e viu de suas mãos surgir um gato verde de bigodes cor-de-rosa.
O dia chegava ao fim e trazia a certeza de que exemplo na educação é fundamental. Mais importante do que o tempo que passamos com nossos filhos é o que fazemos quando estamos juntos. Estar na mesma sala não significa estar junto. Mesmo quem só tem meia hora pode fazer um bolo, contar uma história e estar junto de verdade.
Sandra Chemin descobriu que fazer brinquedos com a filha é mais gostoso que comprar um brinquedo pronto. www.santapaz.com e semdestino@abril.com.br
Fui convidada a participar de um programa de televisão sobre mulheres e qualidade de vida. A partir da experiência de duas famílias, o programa propunha uma reflexão sobre o papel da tecnologia no convívio familiar. Eu passaria um dia inteiro com uma mãe que não fica sem o celular, o filho de 6 anos louco por videogame e a filha de 9 ligada na internet.Meu papel: mostrar que é possível passar um dia gostoso sem usar nenhum aparelho tecnológico.
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