segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Te Contei, não ? - Segredos para a vida a dois certo



Pare de procurar o par perfeito, ele não existe. Saiba como se virar com um parceiro normal, de carne e osso, e ser feliz para sempre 


Buscar os sonhos e ter brilho próprio e individual alimenta a admiração e a paixão de quem está ao nosso lado 

Avaliadas a frio, as estatísticas demográficas sugerem que o casamento está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Segundo o IBGE, nunca houve tantas separações e divórcios no Brasil. Mas essa impressão é falsa. Há muita gente feliz no casamento. Gente que desfruta, no dia-a-dia, do que dizem inúmeras pesquisas científicas: os casados vivem mais e melhor. O que você vai ler a seguir é um guia básico do casamento feliz, elaborado com as dicas de quem estuda essa receita há anos e de outros que tiram o sustento diário dessa iguaria que é a união bem feita. 

 Mundo de ilusões 

Não é novidade que os casamentos têm durado pouco. Desde que a separação e o divórcio passaram a ser aceitos, a duração média dos casamentos agora é de 10,5 anos. Culpa do espírito consumista destes tempos, afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, no livro Amor Líquido. Estamos tão acostumados às relações de mercado, diz ele, que queremos aplicá-las a tudo. Esquecemos que, em um casal, a recompensa não é imediata como no armazém. Quem paga com carinho e atenção nem sempre recebe na hora a retribuição que desejava. Sem paciência para esperar muita gente resolve mudar de "fornecedor". Porque, no mercado do desejo, o que não faltam são propagandas de bons produtos, bons negócios e até promoções. Casar, nesse sentido, parece até um mau negócio, pois estaríamos perdendo todo o resto. Um fator decisivo para a crise das relações, dizem especialistas, é a imagem distorcida que se tem hoje do casamento. "A idéia que as pessoas fazem do casamento é do encontro do par perfeito, com quem a vida seriam só flores. Isso é reforçado pelas novelas, em que ou o casal é hipócrita e não se ama mais ou é muito feliz e casa no último capítulo. O casamento então é mostrado como o inferno ou o passaporte ao paraíso, nunca em sua forma real, nunca possível", diz o psicanalista reichiano Arnaldo Bassoli. Então, quais são os passos para a felicidade no casamento? 

 Saiba quem você é 

O casamento real começa antes do primeiro encontro. Começa você com você, cara a cara. Você precisa saber quem você é e o que o faz feliz. Mais: saber se fazer feliz sozinho. "Esse conhecimento sobre si mesmo é fundamental para que não ocorram dependências nas relações", diz a educadora Adriana Friedmann. 

"Quando se casa mais maduro, às vezes até com a vida já desenhada, fica mais fácil você saber o que está fazendo. Você compreende com facilidade que aquela pessoa se encaixa com o que você gosta, porque você já aprendeu a ser feliz", diz o velejador Amyr Klink, casado há dez anos com Marina. 

 Case do seu jeito 

Pode parecer esquisito, mas tem muita gente que imita o casamento dos pais. Para Marisa Thame, no livro Como Passar Sua Vida a Limpo, na infância aprendemos todos os traços dos pais. E depois os repetimos inconscientemente quando começamos a nos relacionar. É normal. Uma parte dessas lições será útil e adequada a nossa vida. Outras não. Para piorar, esperamos que o parceiro participe da imitação, num teatrinho cujo roteiro só existe em nossa cabeça. O pior é que na do parceiro há outro script, que ele também espera que você acompanhe. A mulher que esperar, hoje em dia, que o marido seja o provedor, que decida tudo, como foi seu pai, vai ter problemas para ser feliz no casamento. 

Para aprender a viver da sua forma, o primeiro passo é entender por que agimos como agimos. O segundo é agir por vontade própria, e não pela dos outros. 

 "Ame o outro como ele é. Aprenda com ele, colha o fruto da verdade de ver o outro, e a si, como são", ensina o monge Moacir Foto: GettyImages 

Não tente mudar o outro 

Mudar hábitos dá um trabalhão. Incluir exercícios na rotina diária, por exemplo, ou parar de fumar. Imagine mudar o outro. Pois é o que muita gente espera do casamento: que ele mude o outro. 

"As pessoas acreditam que o outro pode ficar melhor assim, assado. Idealizam. Ideal mesmo é ser feliz com o que a pessoa é, não com o que ela pode vir a ser", diz Bassoli. Os projetos de reforma do parceiro seriam mais eficazes se aplicados a nós mesmos. 

Seja menos crítico e deixe as roupas jogadas pela casa. Só não vale brigar todo dia por causa da louça na pia, dos atrasos para a janta ou se ela falou demais do trabalho. "Ame o outro como ele é. 

Aprenda com ele, colha o fruto da verdade de ver o outro, e a si, como são", diz o monge Moacir. Talvez você esteja pensando: "Claro que ele (ou ela) pode melhorar!" Sim, sem dúvida a evolução é possível para todos. Entretanto, cada um é que sabe o que reformar em si, não só para agradar alguém, mas a si mesmo. 

Até porque existem partes da pessoa que são sua marca, sua personalidade. 

 Seja cúmplice 

Ter vida própria, ser apaixonado pelo que faz, cuidar dos próprios afazeres e sonhos, crescer. Quando nossa energia criativa está solta, ativa, estamos plenos, os olhos brilham. E esse brilho alimenta a admiração e a paixão de quem está ao nosso lado. 

"A pessoa que sabe lutar pelo que acredita tem uma disposição para ser feliz que nos instiga a querer estar sempre perto", diz Marina Klink, produtora de eventos e casada com Amyr. 

 Doe-se 

É natural que quem receba um carinho relaxe muito e nem possa se mexer. A idéia, aliás, deveria ser essa. Só que o senso comum sobre "amar" é este: eu dou para você se você der para mim (não é um trocadilho). É um amor condicionado. 

O resultado é que ninguém entrega o amor. Ou o entrega cobrando, como um boleto de banco: massagem + cafuné = um beijo agarradinho. E assim tudo fica burocrático, exigente, impositivo, sem excitação, sem liberdade. 

"Entregue seu amor. Perca a preguiça e parta para a ação, o tempo todo", diz o psicanalista Bassioli. Ele experimentou isso em seu próprio casamento. Passou a não pensar em receber amor em troca. 

Assumiu o que chama de "atitude amorosa o tempo todo". "Eu procuro dar toda a atenção que posso o tempo todo que tenho disponível. Não é quantitativo o critério, pois muitas vezes tenho pouco tempo. Para que isso seja efetivo, depende da qualidade dessa atenção." 

 Saiba conversar 

Pintou uma sensação ruim? Ouviu algo que não caiu bem? E aí disse uma frase dura para rebater? Ficou aquele silêncio cinza? Melhor resolver logo. Pequenas mágoas vão se represando e quando você menos espera está gritando por causa de um copo sujo na pia. 

O copo pode ter lembrado um outro acontecimento, e aquele outro também, e aí você resolve falar de tudo. 

Falar das pequenas mágoas é vital. E tem que ser do jeito certo: com atenção, com bons ouvidos, com tempo para cada um. Além de evitar o acúmulo de ressentimentos, serve de aprendizado. 

Uma hora ou outra podem acontecer problemas de verdade, e então vai ser útil saber falar um com o outro, sem inibições. Para quem já conseguiu entrar em acordo sobre como apertar a pasta de dente, decidir a compra do apartamento vai ser bico. 

 Confie sempre 

As pessoas se apossam daquilo que amam, para garantir a repetição daquele afeto tão bom, e isso gera problemas: ciúmes, controles, cobranças. "Há um acordo silencioso, porém muito presente, que exige a fidelidade entre o casal", diz Regina Navarro Lins. 

"Mas a libido, o sexo, é algo individual. Portanto, a sexualidade só pertence à pessoa, ao que ela se dispuser a viver". Como ficamos então, diante da realidade de que o outro é tão livre para sentir e viver quanto você? Sim, você sente desejo por outras pessoas, mas seu(sua) parceiro(a) também. O que fazer? Confiar.

 Não é o que você sente, mas o que faz com isso que vai contar. Da confiança e do respeito mútuos pode nascer uma fidelidade espontânea. 

 Ao juntar tudo... 

É emocionante ouvir casais falando de casamento. Principalmente quando, mesmo cheios de diferenças, eles acharam sua fórmula para ser feliz. Para todos, a pitada de felicidade no casamento é o foco no positivo. No fim, o que decide a felicidade do casal não é a escolha do parceiro ou da parceira ideal, mas como você se coloca diante dessa pessoa, como lê seus gestos, como age. Não há príncipe encantado, não há a mulher da sua vida. O segredo para ficar bem não está no outro, mas em você. Casar por amor pede a você atenção, consciência. Exige uma coisa só: que você esteja aberto a desenvolver o amor dentro de si. Vai lá. Experimenta. De mãos dadas. Com os olhos nos olhos.

por Alessandro Meiguins
Revista Vida Simples 

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