Em um estúdio alemão, um produtor musical desconhecido e uma cantora negra americana no início de carreira tentam criar um hit que invada as pistas de dança do mundo. Ele solta a batida seca, eletrônica, algo inédito naqueles longínquos anos 1970. Ela, treinada nos corais gospel, esmera-se no refrão “I love to love you, baby” (Eu amo te amar, querido). Faz isso por meio de sussurros e com tanta espontaneidade que o mantra erótico se prolonga por 17 minutos. A cantora era Donna Summer e, com essa música, que ela cantou imaginando ser Marilyn Monroe, foi entronizada como a Rainha da disco music. Na quinta-feira 17, sua calorosa voz de mezzo-soprano calou-se. Donna Summer morreu vítima de um câncer de pulmão, aos 63 anos, em Englewood, Florida, onde vivia com o marido, o músico Bruce Sudano. Tinha três filhas e quatro netos. Já não reinava nas pistas de dança, mas não há cantora que se disponha a divertir pessoas debaixo de um globo de espelhos – Madonna, Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga – que não lhe pague tributo pela ousadia e espírito hedonista.
Sobre a era das discotecas, Donna Summer disse: “As pessoas só queriam dançar, se divertir e não se preocupar.” Do Studio 54, em Nova York, onde se tornou habitué, ela emplacou sucessos com a única função de agitar as baladas: “I Feel Love” , “Last Dance” (vencedora do Oscar), “Hot Stuff”, “On The Radio”. Suas músicas não serviam apenas à evasão: tinham um viés feminista. “Bad Girls” trata com humor da prostituição; “She Works Hard For The Money” retrata uma mulher que dá duro para criar os filhos. Mesmo no formato festivo, Donna se arriscava. Afinal, quem teria a coragem de gravar em ritmo dançante um clássico como “MacArthur Park” (de Jimmy Webb) e ainda como suíte e duração de oito minutos? Donna Summer fez isso e conseguiu emplacar três LPs duplos na Billboard, feito que nem os Beatles alcançaram.
Sobre a era das discotecas, Donna Summer disse: “As pessoas só queriam dançar, se divertir e não se preocupar.” Do Studio 54, em Nova York, onde se tornou habitué, ela emplacou sucessos com a única função de agitar as baladas: “I Feel Love” , “Last Dance” (vencedora do Oscar), “Hot Stuff”, “On The Radio”. Suas músicas não serviam apenas à evasão: tinham um viés feminista. “Bad Girls” trata com humor da prostituição; “She Works Hard For The Money” retrata uma mulher que dá duro para criar os filhos. Mesmo no formato festivo, Donna se arriscava. Afinal, quem teria a coragem de gravar em ritmo dançante um clássico como “MacArthur Park” (de Jimmy Webb) e ainda como suíte e duração de oito minutos? Donna Summer fez isso e conseguiu emplacar três LPs duplos na Billboard, feito que nem os Beatles alcançaram.
Correr riscos foi uma constante em sua vida. Aos 18 anos ela deixou Boston para tentar a carreira na Broadway e, escalada para o musical “Hair”, viajou para uma temporada na Europa. Lá foi vista por ninguém menos que o maestro Leonard Bernstein, que gostou de sua performance – seus elogios serviram de empurrão para que ela entrasse para a Ópera Folclórica de Viena. Foi nesse período que se casou com o ator Helmut Sommer, de onde herdou o sobrenome Summer. Donna, contudo, não gostou do ambiente erudito: os colegas viviam perguntando sua formação e, como não tinha nenhuma (aprendeu tudo louvando ao Senhor), escolheu outra turma. Conheceu o produtor Giorgio Moroder e inaugurou um capítulo na música pop sem o qual não existiria nem a música techno dos anos 1990. “Donna foi a pioneira no uso do sequenciamento eletrônico na dance music”, disse o tecladista Nick Rhodes, da banda Duran Duran. Isso não é pouco e justifica os cinco Grammy que ela colecionou em 45 anos de carreira e 130 milhões de discos vendidos. Nos últimos anos, Donna intensificou seu misticismo. Costumava dizer que tinha visões e que a doença fora provocada por respirar poeira tóxica do atentado de 11 de setembro.
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