quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Artigo de Opinião - Esperança, um bicho preguiça - Karla Rondon Prado

Contagem do tempo em horas e dias nos faz esperar que na virada da meia-noite tudo mude


O Dia
Rio - Já reparou como a esperança vai e volta? Às vezes, uma novidade te leva a crer que trata-se de um sinal de que aquilo que você sonha há tempos vai virar realidade. Você acredita mesmo nisso, no fundo da alma. Algo te move, os olhos brilham, chega-se a um estado de excitação. Com outros olhos nos vemos. Agora o mundo vai descobrir o que sabíamos há muito.
Finalmente chegou a sua hora. Quando o ponteiro mudar de posição, você será um novo homem, uma nova mulher, e aí, sim, todos de fato verão. Será inquestionável o seu sucesso. Você se arruma melhor, toma coragem para mudar radicalmente de estilo, anda de cabeça erguida, sorrindo para estranhos. Dá passos firmes, largos, mantém o corpo esguio e os cabelos parecem estar sempre em movimento como nos clipes, com efeito de um superventilador. Seus dentes ficam mais brancos, sua pele ganha um viço que antes não se notava. As unhas ficam fortes, a boca, molhada, você olha para o alto, à esquerda, imaginando os próximos passos.
O céu é o limite. Passa a achar graça nas cenas do cotidiano, ri de um cachorro passeando com seu dono, ajuda um velhinho a atravessar a rua, compra flores, para para dar informações. Dá seu troco para um pedinte sem julgar se aquilo é errado, liga para um amigo desfeito e diz que aquilo não foi nada, não. Seus sonhos vão se realizar, é a força do pensamento positivo, ‘O Segredo’, tudo fluindo como nos mais vendidos livros de autoajuda.
Mas alguns dias passam e a situação não muda. Sua esperança vai se apagando… de verde escuro passa a verde água, quase sumindo em ocre, até virar tom pastel, bege clarinho, nada. Ninguém vai descobrir do que você é capaz, a coisa furou. Não foi por falta de esperar o melhor, foi simplesmente a vida, como nos filmes baseados em histórias reais, cujos finais raramente são felizes.
Acreditar foi bom, mas seu sorriso agora sai amarelo, a crença foi abalada, sem retorno. Seus planos ficaram sem resposta da rotina, que continuou a mesma. O cabelo na verdade está um pouco opaco, a pele precisa de hidratação, o cuidado com cada passo deve ser constante. A calçada à sua frente tem pedras portuguesas soltas e cuidado, você pode cair. O estrelato ficou para depois.
E eis que o fim do ano chega. A contagem do tempo em horas e dias nos faz esperar que na virada da meia-noite tudo mude, que um ano “novo” (?) venha para que a esperança desponte como semente esquecida embaixo da terra. De repente, brota uma folha verde. Assim, os ciclos se renovam para todos.
 
 
Karla Rondon Prado

Nenhum comentário:

Postar um comentário