RIO — Em seu diário de viagens, datado de 5 de janeiro de 1862, dom Pedro II, imperador do Brasil, escreveu: “Ontem de noite houve grande enchente. Subiu três palmos acima da parte da Rua do Imperador do lado da Renânia; acordou o Câmara (sic), e um homem caiu no canal, devendo a vida a saber nadar e aos socorros que lhe prestaram. Conversei hoje com o engenheiro do distrito; pouco se fez do ano passado para cá. Os estragos que fez a enchente levaram 2 meses a reparar, segundo me disse o engenheiro. Falei-lhe sobre a vantagem de introduzir na colônia a cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda”.
A história mostra que a reclamação sobre a falta de ações do poder público no enfrentamento de enchentes vem do tempo do Império. Como também é dessa época a receita que o monarca dava para os desmoronamentos: reflorestamento. Apaixonado por ciência, dom Pedro II introduziu no Brasil a meteorologia e o primeiro sistema de monitoramento de chuvas. Diariamente, ele mesmo registrava em seu diário temperaturas e precipitações, utilizando tecnologia que buscava no exterior com cientistas.
Em seu diário, o monarca descreveu detalhadamente os registros que fez durante os 22 dias de chuva em Petrópolis em dezembro de 1861, utilizando um termômetro (em Farenheit) e um higrômetro (equipamento que mede a umidade na atmosfera).
— Dom Pedro era um entusiasta da ciência, da cultura e das artes. Ele se correspondia com cientistas e intelectuais, como Louis Pasteur, Graham Bell e Alexandre Herculano, e frequentava institutos de ciência daquela época, que foi um período de grandes descobertas. Ele queria ter acesso a tudo isso e trazia para o Brasil as inovações científicas, como o uso de equipamentos para aferir temperatura e índice pluviométrico. Ele tinha uma preocupação muito grande em observar de forma científica os fenômenos da natureza e media várias vezes ao dia esses índices em Petrópolis — explicou o diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira Júnior.
Nos registros de 5 de janeiro de 1862, dom Pedro II detalhou os resultados de suas medições, com os dias e as respectivas temperaturas e quantidades de chuva.
Segundo Ferreira Júnior, a partir dessas observações, o imperador fazia recomendações às autoridades, na tentativa de reduzir o impacto dos temporais na vida da população:
— Ele fazia recomendações ao poder público, não como chefe de Estado ou imperador, mas como intelectual que almejava uma visão de futuro para o país. E recomendava as medidas pensando na população — acrescentou o diretor do museu.
Outros registros históricos mostram que problemas causados por chuvas no estado são ainda mais antigos. Em sua edição de 4 de julho de 1837, o periódico “Pharol do Império” informava uma nova data para um evento adiado em razão de chuvas: “Não se tendo realizado o exercício d’instrucção no dia determinado, pelas muitas chuvas, deverá o mesmo ser no dia 9, se o tempo permitir para os Batalhões d’Artilharia, 4º e 5º de Infantaria, e Corpo da Cavallaria no mesmo lugar e hora já marcada”, informa o texto da publicação em linguagem da época.
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