Uma relação tão delicada
Embora de origens musicais distintas, Roberto Carlos e Caetano Veloso construíram uma amizade de décadas, com homenagens mútuas. O racha no grupo Procure Saber provocou o rompimento dos dois
Michel Alecrim
Década de 1960. Maria Bethânia diz ao irmão Caetano Veloso: ?Presta atenção no Roberto Carlos?. O cantor baiano procurou saber sobre o capixaba e assim começou um rito de aproximação entre eles, que se tornaram amigos de décadas, a despeito de terem frequentado movimentos culturais diferentes ? Caetano integrava a vanguardista tropicália e Roberto liderava a romântica jovem guarda ? e posições políticas igualmente díspares. Exilado em Londres, na Inglaterra, nos anos 1970, fugindo da perseguição de militares na ditadura, Caetano recebeu a visita de Roberto, que vivia ?alienado? no Brasil, como dizia na época a combativa ala cultural da esquerda. Foi para o baiano que Roberto compôs, em parceria com Erasmo Carlos, ?Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos?, em 1971. No mesmo ano, Caetano retribuiu entregando ao Rei a letra de ?Como Dois e Dois?, em que diz: ?Tudo em volta está deserto/Tudo certo/Tudo certo como/Dois e dois são cinco?. A delicada relação construída ao longo de décadas rompeu-se dentro do único grupo que integravam juntos, o Procure Saber, criado para tentar proibir biografias não autorizadas. O tom amigável e respeitoso de ambos desafinou geral.
No início, todos tinham a mesma meta dentro do grupo, que ainda conta com Chico Buarque, Milton Nascimento, Djavan e Gilberto Gil, além da empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano e presidente da associação. Com a imediata e forte reação da sociedade, de editores de livros e de outros artistas, Roberto Carlos resolveu incluir na luta seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. ?Só que ele entrou em rota de colisão com Paula, e a amizade de Roberto e Caetano foi para o ralo?, diz um amigo de ambos, que pediu anonimato. Roberto deu entrevista ao programa ?Fantástico?, da Rede Globo, desdizendo o que defendia antes e declarou-se contra a censura. Sem disfarçar a irritação, Caetano saiu-se com uma frase que ainda pode virar letra de música. ?Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei?, escreveu, em sua coluna dominical no jornal ?O Globo?. A resposta do Rei foi seca: ?A partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto?, informou o empresário do cantor, Dody Sirena, aos integrantes da associação.
O advogado Kakay disse à ISTOÉ que sempre defendeu, nas reuniões do Procure Saber, que o grupo desistisse da ideia de censura. Os argumentos teriam convencido Erasmo Carlos e Gilberto Gil a reverem suas posições, tanto que gravaram um vídeo, divulgado na internet no fim de outubro. ?Agradecemos a todos os que se expuseram conosco, que tiveram suas vidas expostas em nome de uma ideia e que, por isso, foram chamados de censores?, declarou Gil. ?O Erasmo é maria-vai-com-as-outras do Roberto?, disse uma pessoa ligada ao meio musical, para frisar que o apoio já era esperado. ?Mas o Gil, que é amigo-irmão de Caetano, também??, questiona. Segundo pessoas próximas aos dois, o imbróglio entre Caetano e Gil já foi resolvido em conversa com ambos e tudo continua bem entre eles.
No início, todos tinham a mesma meta dentro do grupo, que ainda conta com Chico Buarque, Milton Nascimento, Djavan e Gilberto Gil, além da empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano e presidente da associação. Com a imediata e forte reação da sociedade, de editores de livros e de outros artistas, Roberto Carlos resolveu incluir na luta seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. ?Só que ele entrou em rota de colisão com Paula, e a amizade de Roberto e Caetano foi para o ralo?, diz um amigo de ambos, que pediu anonimato. Roberto deu entrevista ao programa ?Fantástico?, da Rede Globo, desdizendo o que defendia antes e declarou-se contra a censura. Sem disfarçar a irritação, Caetano saiu-se com uma frase que ainda pode virar letra de música. ?Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei?, escreveu, em sua coluna dominical no jornal ?O Globo?. A resposta do Rei foi seca: ?A partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto?, informou o empresário do cantor, Dody Sirena, aos integrantes da associação.
O advogado Kakay disse à ISTOÉ que sempre defendeu, nas reuniões do Procure Saber, que o grupo desistisse da ideia de censura. Os argumentos teriam convencido Erasmo Carlos e Gilberto Gil a reverem suas posições, tanto que gravaram um vídeo, divulgado na internet no fim de outubro. ?Agradecemos a todos os que se expuseram conosco, que tiveram suas vidas expostas em nome de uma ideia e que, por isso, foram chamados de censores?, declarou Gil. ?O Erasmo é maria-vai-com-as-outras do Roberto?, disse uma pessoa ligada ao meio musical, para frisar que o apoio já era esperado. ?Mas o Gil, que é amigo-irmão de Caetano, também??, questiona. Segundo pessoas próximas aos dois, o imbróglio entre Caetano e Gil já foi resolvido em conversa com ambos e tudo continua bem entre eles.
Mas o mesmo não aconteceu com Caetano e Roberto. Na noite da terça-feira 5, o Rei se desligou definitivamente do Procure Saber. Detalhes pequenos da mágoa dos dois podem ser captados nas entrelinhas do comunicado oficial assinado por Sirena: ?Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos. Afinal, defendemos também a privacidade no sentido profissional.? Referia-se ao estilo de Paula Lavigne, que botou mais lenha na fogueira na semana passada, quando declarou que a entrada de Kakay ?gerou desconforto?. E mandou: ?Não precisamos de lobista em Brasília e muito menos de advogado criminalista.?
?No mercado, comenta-se que a Paulinha (Lavigne) é a Yoko Ono da hora: ?separou uma fantástica dupla musical?, diz uma pessoa importante do meio musical. Afinal, 13 anos depois de ser homenageado por Roberto, Caetano retribuiu com a canção ?O Homem Velho?, em 1984, e gravou a música do Rei ?Fera Ferida?, em 1987. Por sua vez, Roberto prestigiou o tropicalista incluindo em seus discos ?Muito Romântico? e ?Força Estranha?. Em 2008, Roberto fez uma concessão a Caetano nunca dada a qualquer outro artista: um show, que virou disco e DVD, em dueto com ele, ?Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim?.
A questão da censura às biografias está agora nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos parlamentares. Audiências no STF estão marcadas para os próximos dias 21 e 22 e a Câmara deve votar ainda neste mês projeto de lei do deputado Newton Lima (PT-SP), que altera o Código Civil e acaba com a autorização prévia para biografias. Um acordo entre líderes do Congresso incluiu um parágrafo proposto pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que prevê rito sumário em casos graves de ofensa. Procurados por ISTOÉ, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Paula Lavigne não responderam.
?No mercado, comenta-se que a Paulinha (Lavigne) é a Yoko Ono da hora: ?separou uma fantástica dupla musical?, diz uma pessoa importante do meio musical. Afinal, 13 anos depois de ser homenageado por Roberto, Caetano retribuiu com a canção ?O Homem Velho?, em 1984, e gravou a música do Rei ?Fera Ferida?, em 1987. Por sua vez, Roberto prestigiou o tropicalista incluindo em seus discos ?Muito Romântico? e ?Força Estranha?. Em 2008, Roberto fez uma concessão a Caetano nunca dada a qualquer outro artista: um show, que virou disco e DVD, em dueto com ele, ?Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim?.
A questão da censura às biografias está agora nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos parlamentares. Audiências no STF estão marcadas para os próximos dias 21 e 22 e a Câmara deve votar ainda neste mês projeto de lei do deputado Newton Lima (PT-SP), que altera o Código Civil e acaba com a autorização prévia para biografias. Um acordo entre líderes do Congresso incluiu um parágrafo proposto pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que prevê rito sumário em casos graves de ofensa. Procurados por ISTOÉ, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Paula Lavigne não responderam.
montagem sobre fotos de leonardo aversa/ag. o globo e adriana spaca/brasil fotopress; arquivo/agência o globo
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