quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Crônica do Dia - A coluna de Natal - Artur Xexeo

A coluna de Natal


Esta coluna e o Natal nunca se deram muito bem. Não que esta não seja uma das datas favoritas do colunista. O colunista adora o Natal. Adora as comidas típicas da época. Adora músicas de Natal. Adora receber presentes. O problema é que a publicação da coluna e o Natal propriamente dito estão sempre em desacordo. Como este texto é fechado com antecedência e o colunista é meio distraído, o mais comum de acontecer é que a coluna nem se dê conta de que, como diria Simone, então é Natal. Aí chega o dia 25, todos os colunistas em volta desejam Feliz Natal aos leitores, e eu banco o bobo falando de uma novela que não faz muito sentido, adiantando um candidato com chances de ganhar a Mala do Ano ou chamando a atenção para a bobagem de um político qualquer (como se políticos não estivessem sempre fazendo bobagem). Não que o uso de um avião da FAB pelo senador Renan Calheiros para ir a Pernambuco se submeter a um implante de cabelo não seja um assunto que mereça ser comentado aqui. Mas é que é Natal, poxa, uma vez no ano a gente pode tentar esquecer o baixo nível dos políticos brasileiros. E, depois, pensando bem, o Renan acha mesmo que implante capilar vá resolver seus problemas de visual? Coitado!
A coluna paga mico maior ainda quando, em vez de esquecer, o colunista se lembra de que é Natal. Só que _ eu já falei do fechamento com antecedência, não falei? _ , quase sempre, quando ele se lembra, a coluna acaba sendo publicada... depois da data máxima da cristandade (é assim que se chamava o Natal no meu tempo). Aí já é dia 26 ou 27, todo mundo está pensando no Ano Novo, e o colunista defasado encerra a coluna desejando um Feliz Natal para seus leitores. Ninguém pensa que ele está se referindo ao Natal do ano que vem, embora seja esta a desculpa que ele costuma dar aos que reclamam do atraso nos votos de Boas Festas.
Mas, neste 2013, a coluna vai ser publicada (pelo menos eu espero que esteja sendo) exatamente no dia 25 de dezembro. Não dá para ignorar. É Natal. Hoje é Natal. Eu tenho que usar a data como assunto desta crônica. Mas este Natal não está ajudando. Ele está pouco inspirador, não está? Por exemplo, antigamente, quando o Natal chegava, já era verão. E então eu pergunto: cadê o verão? Mais cedo ou mais tarde, eu sei que ele vai chegar. Mas Natal sem verão não é Natal. Papai Noel tem sido bem pouco camarada nesse quesito.
É difícil escrever sobre o Natal com tanta notícia triste nos jornais. As chuvas no Espírito Santo e o acidente com o ônibus que vinha de Curitiba tiram o estímulo de qualquer coluna que pretenda se contagiar com o espírito de Natal. Chuvas em excesso e acidentes nas estradas são notícias que sempre acompanham o cotidiano brasileiro, mas no Natal elas se tornam mais tristes ainda. Se Papai Noel fosse mesmo camarada suspenderia esse tipo de notícia, pelo menos no Natal.
Li outro dia no blog do Fernando Moreira, aqui no GLOBO, que um aposentado irlandês, cansado de passar o Natal sozinho, pôs um anúncio no jornal procurando companhia para passar com ele a noite do dia 24. O blog em questão procura notícias inusitadas em todo o mundo. Mas será que um velhinho que passa as noites de Natal sozinho é mesmo uma notícia inusitada? Quantas pessoas não associam Natal à solidão? Muitas, certamente, o que não ajuda em nada a nossa busca por inspiração para uma coluna natalina. Porque coluna triste, nem pensar. De triste já basta o Natal de 2013
Lendo o noticiário dos últimos dias, fico imaginando o que cada um dos personagens brasileiros que nunca deixam de ser notícia pediram em suas cartinhas para Papai Noel. Zé Dirceu, por exemplo, deve ter pedido um emprego, qualquer colocação que o livre da Papuda, pelo menos durante o dia. Se o salário for de R$ 20 mil ou de R$ 2 mil, pro Dirceu tanto faz. Papai Noel tem sido rigoroso. Acha que Dirceu não se comportou bem durante o ano e está negando o presente. Tô dizendo que Papai Noel não está nada camarada este ano. Ele não atendeu também ao pedido que chegou na cartinha de Renan Calheiros. Ou vocês acham que o implante capilar em Recife foi a primeira opção do senador? Antes, ele tentou receber o cabelo como presente de Natal. Mas, como já percebemos, Papai Noel não está dando colher de chá este ano.
Não tá fácil pra ninguém. Nem pra Papai Noel. Aquele que um dia já foi chamado de Bom Velhinho deve estar por aí distribuindo biografias não autorizadas para os integrantes do grupo Procure Saber. Implicante, esse Papai Noel. Nem um pedido singelo, como o de um colunista em busca de inspiração natalina, ele é capaz de atender.
Mesmo sem inspiração _ Zé Dirceu e Renan Calheiros não inspiram ninguém _, a coluna de Natal está quase chegando ao fim. E publicada na data certa. Só falta desejar Boas Festas para os fiéis leitores que, entra ano e sai ano, entra Natal sai Natal, continuam prestigiando este colunista pouco inspirado. Então não falta mais: Feliz Natal!

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