Crítica: Portela é destaque na safra de sambas de enredo de 2014
- Disco traz bons e maus exemplos de como se desenvolver um tema usando recursos de letra, música, arranjo e citações
Leonardo Lichote
RIO - O Rio visto a partir da Avenida Rio Branco. A ideia, tão simples quanto rica, é o mote de “Um Rio de mar a mar: do Valongo à glória de São Sebastião”, samba da Portela que se destaca na safra do Grupo Especial apresentada no CD “Sambas de enredo 2014” (Universal). Uma narrativa que vem dos escravos que chegavam pelo Cais do Valongo até a passarela das recentes manifestações — a rima de “Revolta da Chibata” com “passeata”, numa elipse que é uma aula de História, talvez já valesse o samba. Mas tem mais, como a abertura com o batuque do jongo, remetendo ao início negro do enredo, e o verso que abre um dos refrões e que se promete incendiário na Sapucaí: “Vou de mar a mar, mareia”.
Há outros bons momentos no CD. A campeã Vila Isabel se sai bem ao investir na diversidade do Brasil — suas riquezas naturais (tocando na ecologia) e a mestiçagem. Não é original, assim como o recurso do acordeom e triângulo, que soam bonito no refrão que fala em arrasta-pé.
O jogo do samba enredo, que por natureza deve apresentar um tema ao público e desenvolvê-lo, traz esse caráter ilustrativo, no qual o arranjo é uma maneira também de contar a história. Este ano, como de costume, o recurso foi bastante usado. Às vezes bem, como no jongo da Portela. Ou na quadrilha do refrão da Mangueira, em seu “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”, novamente usando o acordeom, que aparece também no forró da Mocidade Independente em seu “Pernambucópolis” — há aí também uma bela inserção de maracatu. Todos bons exemplos de como favorecer o tema.
Em outros casos, a tentativa de sublinhar o tema pelo arranjo ou citações não tem o efeito desejado. Em vez de provocar emoção, o “Tema da vitória” soa forçado em “Acelera, Tijuca!”, da Unidos da Tijuca, em tributo a Ayrton Senna. O samba não ajuda, dividindo com “Verdes olhos de Maysa sobre mar, no caminho: Maricá” (a pontuação é essa mesma), da Grande Rio, o título de o mais fraco da temporada.
Gaia, Zico e herança africana
Na mesma linha de “homenagem tangencial", Boni é lembrado em “O astro iluminado da comunicação brasileira”, da Beija-Flor. O homem-título é só citado no fim do samba sobre comunicação — que dá saudade do “Quem não se comunica se trumbica” do Império Serrano de 1987.
A originalidade do título curto de “Favela”, da São Clemente, não se confirma no samba coalhado de clichês. A simplicidade do enredo tem melhor resultado em “Batuk”, do Império da Tijuca, sobre o legado rítmico que a África deixou.
No lado bom da balança, a Imperatriz Leopoldinense acerta ao tratar Zico como um rei mitológico em “Arthur X — O reino do Galinho de ouro na corte da Imperatriz”. A União da Ilha diverte com sua “É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira”. Mas bola dentro mesmo é o samba do Salgueiro, “Gaia, a vida em nossas mãos”, que africaniza a mitologia grega numa bonita simbiose de tema e arranjo.
Cotação: regular
Há outros bons momentos no CD. A campeã Vila Isabel se sai bem ao investir na diversidade do Brasil — suas riquezas naturais (tocando na ecologia) e a mestiçagem. Não é original, assim como o recurso do acordeom e triângulo, que soam bonito no refrão que fala em arrasta-pé.
O jogo do samba enredo, que por natureza deve apresentar um tema ao público e desenvolvê-lo, traz esse caráter ilustrativo, no qual o arranjo é uma maneira também de contar a história. Este ano, como de costume, o recurso foi bastante usado. Às vezes bem, como no jongo da Portela. Ou na quadrilha do refrão da Mangueira, em seu “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”, novamente usando o acordeom, que aparece também no forró da Mocidade Independente em seu “Pernambucópolis” — há aí também uma bela inserção de maracatu. Todos bons exemplos de como favorecer o tema.
Em outros casos, a tentativa de sublinhar o tema pelo arranjo ou citações não tem o efeito desejado. Em vez de provocar emoção, o “Tema da vitória” soa forçado em “Acelera, Tijuca!”, da Unidos da Tijuca, em tributo a Ayrton Senna. O samba não ajuda, dividindo com “Verdes olhos de Maysa sobre mar, no caminho: Maricá” (a pontuação é essa mesma), da Grande Rio, o título de o mais fraco da temporada.
Gaia, Zico e herança africana
Na mesma linha de “homenagem tangencial", Boni é lembrado em “O astro iluminado da comunicação brasileira”, da Beija-Flor. O homem-título é só citado no fim do samba sobre comunicação — que dá saudade do “Quem não se comunica se trumbica” do Império Serrano de 1987.
A originalidade do título curto de “Favela”, da São Clemente, não se confirma no samba coalhado de clichês. A simplicidade do enredo tem melhor resultado em “Batuk”, do Império da Tijuca, sobre o legado rítmico que a África deixou.
No lado bom da balança, a Imperatriz Leopoldinense acerta ao tratar Zico como um rei mitológico em “Arthur X — O reino do Galinho de ouro na corte da Imperatriz”. A União da Ilha diverte com sua “É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira”. Mas bola dentro mesmo é o samba do Salgueiro, “Gaia, a vida em nossas mãos”, que africaniza a mitologia grega numa bonita simbiose de tema e arranjo.
Cotação: regular
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