Tenho um amigo jovem, bonitão e bem de grana que só gosta de mulher mais velha. Aos 28 anos, prefere namorar as com mais de 40 e já se declarou para uma de 54 – que não quis saber dele, por já ter outro envolvimento. É alvo de piadas o tempo todo: dos amigos, parentes, irmãos. Até do pai já ouviu conselhos contra uma recente namorada.
– Não fica bem. Vão pensar que é sua mãe.
Se não fosse sua boa situação financeira, passaria por outros vexames. Diriam, no mínimo, que é um golpista, interessado em dinheiro. Acompanhei como jornalista o início do namoro da cantora Angela Maria, aos 51 anos, com Daniel D’Angelo, de 18. As maledicências em torno dos dois eram absolutas. Notas maldosas circulavam pela imprensa. Diziam até que ele ia fugir com o dinheiro dela. Isso aconteceu há 33 anos, quando ainda não havia internet. Imaginem se fosse hoje! Estariam em todos os sites de fofocas, diariamente. Cheguei a ouvir de outros colegas de trabalho:
– O garoto está dando um golpe na coitada.
O tempo provou o contrário. Estão juntos desde então. Oficializaram a união em maio deste ano, depois de mais de três décadas de relacionamento, ela com 84, ele com 51. Também com idades diferentes, a apresentadora Marília Gabriela e o ator Reynaldo Gianecchini tiveram anos de vida em comum. Na época, uma prima minha comentou, venenosa:
– Mais cedo ou mais tarde ele separa.
Como se casais da mesma idade também não se separassem! Recentemente, quando Gianecchini adoeceu, Marília Gabriela ofereceu apoio e dedicação, provando que a relação foi significativa para ambos.
Quando alguém afirma que um rapaz mais novo está com a mulher mais velha por interesse material, está na verdade dizendo que ela não teria nenhuma qualidade pessoal para atraí-lo. É puro preconceito. Se um homem mais velho se relaciona com uma gatinha, é aplaudido. Dá a impressão de que, apesar da evolução de costumes, a mulher ainda é criada como Cinderela, para encontrar um príncipe. Ou melhor ainda, um rei, mesmo velhusco. O homem é elogiado pelos amigos:
– Descolou uma gata!
– Que sorte você tem!
A mulher madura que assume o relacionamento com um rapaz não é bem-vista. Os problemas começam dentro da família. Conheci uma senhora paulista, dona de um restaurante e divorciada, que se apaixonou pelo cozinheiro vindo de Manaus. Foi uma loucura. Os filhos, já adultos, ameaçaram sair de casa. Ela insistiu e casou, apesar da pressão não só dos filhos, como também de ex-marido, irmãs, mãe. Anos depois o cozinheiro morreu. Constatou-se que era ele o responsável pelo sucesso do restaurante, de especialidades amazônicas. A família foi à falência. Fechou. Hoje, mãe e filhos sobrevivem à custa da modesta pensão deixada pelo cozinheiro, tão vilipendiado na época do casamento.
Encontrei outra amiga, ex-modelo e muito rica, com seu jovem namorado. Ele não poderia ter melhor comportamento: no avião, acariciava suas mãos, porque ela tem medo de voar. Quando dei a notícia do namoro a uma amiga em comum, ela desdenhou:
– Só pode estar atrás do dinheiro dela.
E se a situação econômica for desequilibrada, qual o problema? Em todo casal, um ganha mais, outro menos. Hoje em dia, muitas mulheres têm carreiras de sucesso. Por que não podem, se apaixonadas, sustentar o marido mais jovem, que ainda está iniciando a vida profissional? Vou mais longe: mesmo que ele não trabalhe, qual o problema? Se um homem pode sustentar a jovem com quem se casou, porque a mulher de sucesso não tem o direito de fazer o mesmo? “Gosto da beleza das mulheres maduras”, disse o amigo que citei no início. “Também quero um relacionamento mais profundo, e a experiência de vida ajuda muito.”
É incrível como o preconceito se oculta nas dobras da vida social, pronto para atacar quando menos se espera. Vive dentro de cada um de nós, se incorpora a nosso modo de agir e pensar. Conheço muitas mulheres solitárias que evitaram relacionamentos por medo do que poderiam dizer. Da rejeição social. Ou até por desconfiar das intenções do rapaz:
– Ele só pode estar interessado em alguma coisa.
Não conseguem acreditar que ele pode estar interessado nela mesma, sem nenhum outro motivo.
A mulher já realizou muitas conquistas. É respeitada profissionalmente, já consegue exercer altos cargos numa empresa. Temos até a presidente Dilma. Mas a mulher ainda precisa conquistar o direito de amar quem quiser, quando e como bem entender.
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