sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Te Contei, não ? - Aqui está faltando algo



A feira Fruit logística, realizada anualmente na Alemanha, reúne em suas gigantescas instalações em Berlim os maiores produtores e exportadores de frutas frescas do mundo. O ponto alto da feira é a entrega do cobiçado prêmio de inovação, dado à empresa ou entidade de pesquisa cuja descoberta teve maior significado para a expansão do comércio mundial de frutas. Os ganhadores deste ano foram os pesquisadores holandeses da empresa suíça Syngenta. O prêmio, entregue em fevereiro, foi concedido pelo desenvolvimento de uma variedade de pimentão sem sementes. Toda dona de casa sabe como é trabalhoso tirar as sementes do pimentão, mas pouca gente sabe que o desenvolvimento de frutas sem sementes vem se tornando uma das tecnologias mais valiosas na indústria mundial de alimentos modificados. O pimentão sem sementes da Syngenta chega aos supermercados das cidades europeias com preço até cinco vezes superior ao da fruta tradicional. Ah, sim, pimentão é fruta.

Certas variedades de frutas sem sementes ocorrem na natureza, mas apenas raramente elas possuem as qualidades nutritivas e de sabor exigidas pelos consumidores. Por essa razão, os desenvolvedores recorrem ao cruzamento de variedades e, desde o ano passado, à engenharia genética para obter frutos saborosos, nutritivos e sem sementes. Essa última é uma qualidade crescentemente valorizada nas sociedades contemporâneas, em que as pessoas têm menos tempo para preparar sua comida e aceitam pagar mais por qualquer praticidade na cozinha - seja um cortador automático de legumes ou frutas sem sementes. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já distribui há anos aos agricultores do Brasil cultivares (variedades de plantas produzidas por meios artificiais) de alguns tipos de laranja sem sementes.

No ano passado, os pesquisadores José Hormaza e Maria Herrero, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas em Málaga e Zaragoza, na Espanha, anunciaram um importante avanço. Eles compararam os genomas (o material genético completo) de frutas da mesma família do brasileiríssimo araticum-do-campo, uma das delícias do cerrado, e descobriram a existência de um gene cuja mutação é responsável pela produção de frutas sem sementes. A descoberta dos espanhóis terá aplicação prática em todos os tipos de planta. "Muitas frutas extremamente saborosas, mas com sementes grandes e difíceis de extrair, nunca se popularizaram. Sem sementes, elas podem se tornar tão universais quanto a banana diz Charles Gasser, professor de biologia vegetal da Universidade da Califórnia, em Davis. Vem justamente da Califórnia um dos maiores sucessos nesse campo. Pelo seu sabor adocicado, casca fácil de extrair e por não possuir sementes, uma tangerina produzida pela empresa curies tornou-se a sensação do verão americano. As frutas da curies são a cultura cítrica mais rentável dos EUA, com preço final ao consumidor quase dez vezes maior que o das frutas similares com sementes. Os pais pagam o alto preço por se sentir seguros em entregar a fruta inteira para crianças pequenas e deixar que elas se virem sem ajuda.

A
REvista Veja

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